A semana que começa
Semana de Fed e outros banco centrais

A semana que começa Semana de Fed e outros banco centrais

Com uma agenda económica nos Estados Unidos e na Zona Euro bastante mais tranquila, as atenções prendem-se na decisão de taxas da Reserva Federal, assim como demais bancos centrais do G10.

São muitas as reuniões de política monetária agendadas para esta semana, mas os mercados aguardam especialmente pela reunião da Fed, que deverá marcar o arranque de um novo ciclo de cortes de taxas, depois da revisão em baixa dos números do emprego ter reforçado a percepção de uma economia em desaceleração. O debate centra-se agora não apenas no momento do primeiro corte, mas sobretudo no ritmo e na profundidade do ajustamento, num contexto em que a inflação continua acima da meta, o mercado de trabalho em queda e as pressões políticas aumentam.




A Fed prepara-se para cortar taxas

Depois de reduzir as taxas em 100 pontos-base na segunda metade do ano passado, a Reserva Federal manteve-se em pausa durante todo este ano, defendendo que a economia e o mercado de trabalho continuavam sólidos. Ao mesmo tempo, a inflação manteve-se acima da meta de 2%, impulsionada pelo efeito das tarifas, que deverão continuar a pressionar os preços até 2026. Perante esse contexto, a Fed optou por manter a política monetária num nível “ligeiramente restritivo”.

O cenário começou a mudar em Julho, quando no FOMC alguns governadores alinharam com a visão de que a fragilidade do mercado laboral justificava uma nova fase de flexibilização monetária. Na altura, eram uma minoria, mas essa posição tem vindo a ganhar apoio. O próprio presidente Jerome Powell admitiu em Jackson Hole que as condições económicas podem em breve “justificar” cortes nas taxas.

Embora a inflação continue acima do objectivo, a Fed parece agora mais preocupada com os riscos de deterioração do emprego. A instituição sempre considerou que o impacto das tarifas seria um choque temporário nos preços, mas a evolução dos dados do mercado de trabalho está a pesar mais na balança.

Para a reunião desta semana, a expectativa dominante é de um corte de 25 pontos base, apesar de existir alguma probabilidade de um movimento maior, de 50 pontos. O mercado atribui apenas 5% a 10% a essa hipótese. O foco também estará nas novas projecções económicas e no chamado “dot plot”, que indicará como os membros do FOMC veem o ritmo dos cortes no futuro. No cenário central, são esperados dois cortes este ano (Setembro e Dezembro) e uma taxa terminal entre 3,00% e 3,25% em 2026.

Quanto à composição do FOMC, ainda existem incertezas. Uma decisão judicial bloqueou a tentativa da Casa Branca de afastar a governadora Lisa Cook, permitindo a sua participação na reunião. Em paralelo, a nomeação de Stephen Miran ainda está a ser debatida no Senado, não sendo claro se terá direito de voto já na próxima semana. Ainda assim, estes factores não deverão alterar a decisão de política monetária desta semana.





Tensões crescentes na fronteira polaca

A situação na fronteira entre a Polónia e a Rússia voltou a ganhar destaque este fim de semana, depois de Varsóvia confirmar a presença de drones russos junto ao seu território. O vice-ministro da Defesa, Cezary Tomczyk, anunciou que helicópteros e caças polacos foram acionados em resposta à actividade aérea, sublinhando que o país está em contacto permanente com os seus aliados da NATO.

Moscovo tem negado a intenção de escalar o conflito, mas em Varsóvia cresce a percepção de ameaça. O primeiro-ministro Donald Tusk afirmou mesmo que a Polónia vive hoje o momento de maior proximidade a um confronto armado desde a Segunda Guerra Mundial.

O episódio sublinha como a guerra na Ucrânia continua a ter repercussões directas na segurança europeia. A fronteira oriental da NATO permanece sob enorme pressão, num ambiente em que qualquer incidente tem potencial para agravar tensões já elevadas.



Dados Económicos



Estados Unidos da América
Uma semana em que teremos decisões de taxas por parte da Fed, mas com uma agenda económica relativamente ligeira.
A semana começa com o índice manufactureiro de Nova Iorque, onde as estimativas apontam para uma queda de 11,9 para 4,3, para terminar com o índice manufactureiro da Fed de Filadélfia, onde o mercado espera ver uma subida de -0,3 para +1,4.
O indicador mais atentamente observado será o das vendas a retalho do mês de Agosto, onde o mercado estima um crescimento de 0,3%, desacelerando dos 0,5% do mês anterior, mas espera ver uma aceleração de 0,3% em Julho, se excluídas as vendas automóveis, para 0,4%. O grupo de controlo, segundo as previsões, deverá mostrar um aumento de 0,3%, após 0,5% no mês anterior.
Teremos também os números da produção industrial, onde as previsões apontam para nova contracção de 0,1%. Os inventários empresariais deverão manter o ritmo de crescimento de 0,2%.
No mercado imobiliário, o índice NAHB deverá mostrar uma ligeira subida de 32 para 33, os números das licenças de construção, segundo as previsões, deverão aumentar 0,6% (face a uma queda de 2,2% no mês anterior) e o número de início de construções em Agosto deverá mostrar uma redução de 3,4%, após o aumento de 5,2% em Julho.
Teremos também os habituais números semanais de novos pedidos de subsídio de desemprego, que após os 263 mil da semana anterior, são esperados 245 mil nesta semana.

Zona Euro
Mais uma semana relativamente tranquila de dados económicos.
Iremos ter os números da balança comercial, onde as previsões apontam para um excedente a aumentar de 2,8 mil milhões de euros para 11,7 mil milhões. Teremos os números da produção industrial de Julho que deverá mostrar um aumento de 0,3%, após a queda de 1,3% no mês anterior. Iremos ter ainda os números finais da inflação, que deverão manter o valor mostrado nas leituras preliminares de 2,1% na inflação total e 2,3% na inflação subjacente.
O que maior atenção irá atrair na semana será o indicador alemão de confiança económica ZEW. As estimativas apontam para que na Zona Euro mostre uma queda de 25,1 para 20,3 e na Alemanha de 34,7 para 26,4.
Em Itália iremos ter os números da balança comercial, que deverão mostrar um excedente de 5,5 mil milhões de euros, ligeiramente acima dos 5,41 mil milhões do mês anterior.
Na Alemanha iremos ter o índice de preços do produtor do mês de Agosto, que deverá continuar a mostrar uma deflação mensal de 0,1%, em linha com o mês anterior.

Reino Unido
Por aqui teremos uma semana bastante preenchida de indicadores de primeira linha.
As atenções começam por ir para os dados do emprego. A taxa de desemprego deverá manter-se nos 4,7%, o número de postos de trabalho, segundo as estimativas, deverá mostrar uma redução de 10 mil, após 8 mil no mês anterior. A variação média do emprego dos três meses até Julho deverá mostrar um aumento de 150 mil, abrandando dos 238 mil no mês passado. Os ganhos médios salariais incluindo bónus deverão mostrar um aumento de 4,7%, acelerando dos 4,6% no mês passado. Os números de novos pedidos de subsídio de desemprego deverão aumentar em 20 mil, após a queda de 6,2 mil no mês de Julho.
Antes da reunião do Banco de Inglaterra, os mercados terão ainda a divulgação dos dados da inflação. Os preços no mês de Agosto deverão mostrar um aumento de 0,3%, com a inflação total a subir de 3,8% para 3,9%, a inflação subjacente a cair de 3,8% para 3,7% e a inflação nos serviços a reduzir de 5% para 4,8%.
A semana terminará com o indicador de confiança do consumidor GfK que deverá cair ligeiramente de -17 para -18, com os empréstimos líquidos no sector público em Agosto a aumentarem de 1,1 mil milhões de libras para 12,5 mil milhões e as vendas a retalho que deverão mostrar um aumento de 0,2%, abaixo dos 0,6% no mês anterior de Julho, e onde se retiradas as vendas de combustíveis, deverão manter o ritmo de crescimento de 0,5%.

Canadá
A nível de dados económicos, as atenções esta semana vai especialmente para a inflação. Os preços no mês de Agosto deverão mostrar um aumento de 0,1%, desacelerando dos 0,3% mostrados no mês de Julho, com a inflação anual a subir de 1,7% para 1,8%. A inflação subjacente deverá manter-se nos 2,6% e a medida sem 40% dos itens mais voláteis, seguida mais de perto pelo Banco do Canadá, nos 3%.
Teremos também os dados das vendas a retalho de Julho que deverão mostrar uma queda de 0,8%, após o aumento de 1,5% no mês anterior, e os números preliminares de Agosto apontam para um crescimento de 0,4%.
Iremos ter ainda os números das vendas manufactureiras que deverão mostrar um aumento de 1,7%, acelerando dos 0,3% do mês anterior, as vendas grossistas um aumento de 1,4% (face a 0,7% no mês anterior) e ainda os números do início de construção de imóveis, onde as previsões apontam para 278 mil, baixando dos 294 mil no mês anterior.

Suíça
Esta semana iremos ter a divulgação do índice de preços do produtor, que deverão mostrar uma subida dos preços de 0,1%, após a contracção de 0,2% no mês anterior, e os números da balança comercial de Agosto, que deverão mostrar um excedente de 5,2 mil milhões de francos suíços, após os 4,6 mil milhões no mês anterior.

China
A semana começa com a divulgação dos dados mensais de Agosto.
O índice de preço das casas, em termos anuais, deverá mostrar uma queda de 2,6%, desacelerando da de 2,8% mostrada em Julho.
As previsões apontam para que a produção industrial acelere dos 5,7% do mês anterior, para 5,8% e as vendas a retalho de 3,7% para 3,8%.
Os números do investimento em activos fixos, segundo as previsões, deverá desacelerar dos 1,6% do mês anterior, para 1,4%.
Teremos ainda a divulgação da taxa de desemprego, que deverá manter-se a 5,2%.

Japão
Os números da actividade da indústria terciária deverão mostrar um crescimento de 0,1%, desacelerando dos 0,5% no mês anterior.
A balança comercial de Agosto deverá apresentar um défice de 360 mil milhões de ienes, ligeiramente acima dos 300 mil milhões mostrados no mês de Julho.
As encomendas de maquinaria, excluindo de navios e de centrais eléctricas, deverão mostrar uma redução de 1,7%, após o aumento de 3% no mês anterior.
O destaque da semana vai para a divulgação da inflação nacional, momentos antes da decisão de política monetária do Banco do Japão. As previsões apontam para um abrandamento dos 3,1% para os 2,8% em Agosto, onde sem alimentos frescos deverá mostrar uma queda dos 3,1% para 2,7%.

Nova Zelândia
Uma semana bem preenchida de indicadores económicos, onde as atenções irão estar principalmente na divulgação do PIB trimestral e nos números da balança comercial.
As previsões apontam para que a economia neozelandesa mostre uma contracção no segundo trimestre de 0,3%, após um crescimento de 0,8% no primeiro trimestre. Em termos homólogos deverá mostrar uma contracção de 0,1%, menor do que os 0,7% do trimestre anterior.
A balança comercial de Agosto deverá apresentar um défice de 400 milhões de dólares neozelandeses, abaixo do défice de 578 milhões do mês de Julho.
Teremos também o índice de serviços BusinessNZ, onde as estimativas apontam para uma subida de 48,9 para 49,5, e o índice de confiança do consumidor Westpac, que deverá também subir, de 91,2 para 93.

Austrália
Esta semana as atenções vão para os dados do mercado de trabalho.
A taxa de desemprego deverá manter-se nos 4,2% e a taxa de participação nos 67%.
A economia australiana deverá mostrar um aumento de 21,2 mil empregos, após 24,5 mil no mês anterior, com uma redução de empregos a tempo inteiro e um aumento de empregos em tempo parcial.



Bancos Centrais



The Federal Reserve
A Reserva Federal dos Estados Unidos (Fed), segundo opinião unânime nos mercados, deverá voltar a cortar a sua taxa de juro esta semana. O mercado vê como provável um corte de 25 pontos-base (a FedWatch Tool mostra essa probabilidade acima de 90%), com alguns investidores e analistas a apontarem mesmo para a possibilidade de um corte maior de 50 pontos-base.
As atenções do mercado irão estar na actualização do relatório “Summary of Economic Projections”, em especial na projecção dos cortes futuros na taxa de juro, os “dot plot”, e ainda na comunicação de Jerome Powell.
Os mercados descontam 75 pontos-base até ao final do ano com o intervalo de taxas a cair dos actuais 4,25/4,50% para os 3,50-3,75%.

O Banco de Inglaterra
Investidores e analistas esperam que o Banco de Inglaterra mantenha a sua taxa de juro inalterada nos 4% quando esta semana se reunir para decidir sobre política monetária.
Uma reunião que não irá incluir actualização de projecções económicas nem conferência de imprensa, onde os mercados irão, mais uma vez, estar bem atentos à votação que decidirá o nível de taxa de juro.
As atenções irão estar também na decisão anual sobre o “Quantitative Tightening". O Banco da Inglaterra tem reduzido as suas posições a um ritmo anual de 100 mil milhões de libras nos últimos dois anos. O consenso aponta para que reduza esse ritmo para 72 mil milhões, segundo uma sondagem da Reuters.

O Banco do Japão
Os mercados não esperam outro resultado que não seja para a manutenção da sua taxa de juro nos actuais 0,50%, entre fracos números das exportações pressionados pelas tarifas norte-americanas.
Antes da decisão de taxas iremos ter dados da inflação, que apesar de poderem manter-se em níveis elevados (3%) não deverão alterar o actual nível dos juros.
Os mercados voltarão a estar atentos aos comentários de Kazuo Ueda que se seguirão à decisão, não esperando ver uma orientação futura, dado o clima político instável do Japão.

O Banco do Canadá
As opiniões dividem-se entre um corte de 25 pontos-base na reunião desta semana e a manutenção do actual nível de taxas nos 2,75%.
Os dados económicos no Canadá deterioraram-se, mas não significativamente mais do que o esperado pelo banco central. Uma queda de 1,6% no PIB do segundo trimestre ficou bem em linha com a queda de 1,5% presumida no Relatório de Política Monetária de julho. Os dados iniciais do terceiro trimestre sugerem que a queda do segundo trimestre dificilmente se repetirá.
Os dados de Agosto sobre os preços no consumidor, a divulgar na véspera da decisão do Banco do Canadá, poderão contribuir para colocar mais perto o tal corte de taxas deste mês.

O Norges Bank
O banco central norueguês cortou a taxa básica de juros pela primeira vez em Junho, de 4,5% para 4,25%, e os mercados seguem divididos entre a manutenção do actual nível de juros, ou em nova redução de 25 pontos-base na reunião desta semana. O actual momento da coroa norueguesa, a negociar em alta, poderá abrir mais a porta para um novo corte de taxas esta semana.

The South Africa Reserve Bank
O banco central sul-africano reduziu em 125 pontos-base a sua taxa de juro desde Maio do ano passado até aos dias de hoje. Os mercados esta semana esperam que o SARB interrompa a seu ciclo de corte de taxas de juro, mantendo a mesma nos actuais 7%.

O Banco do Brasil
Também no Brasil, o banco central deverá manter a sua taxa de juro Selic inalterada nos 15%, depois de a ter trazido dos 10,5% em cerca de um ano de tempo.


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