A semana que começa
Bancos Centrais e a tempestade na banca

A semana que começa Bancos Centrais e a tempestade na banca

Uma semana bem “recheada” de reuniões de bancos centrais, com especial destaque para a Reserva Federal, e em que vão ter de navegar por águas agitadas pela banca.

Esta seria uma típica semana em que os mercados estavam de olhos e ouvidos bem atentos a tudo o que fosse banco central, tal a quantidade e qualidade dos bancos que reúnem esta semana e do combate que têm tido face à inflação que não tem dado tréguas. No entanto, os recentes desenvolvimentos nos mercados financeiros levam a que as atenções sejam desviadas. O evento Silicon Valley Bank acabou mesmo por contagiar o sistema financeiro. A seguir-se na fila esteve o Signature Bank, ambos fechados pelo regulador e agora o First Republic Bank que, apesar dos depósitos de 30 mil milhões de dólares feitos pelos maiores bancos norte-americanos, acabou o último dia da semana a perder cerca de 33%, sendo que perdeu durante toda a semana mais de 70%. Deste lado do Atlântico temos o Credit Suisse, que apesar da linha de liquidez do BNS e das palavras de que "reúne os requisitos de capital e liquidez impostos aos bancos com importância sistémica", terminou a semana a perder 25% do seu valor.
Os banco centrais, tal como o Banco Central Europeu o mostrou na semana passada, irão provavelmente continuar a privilegiar o combate à inflação subindo as suas taxas de juro, esperando conter esta instabilidade dos mercados financeiros com outros instrumentos, nomeadamente fornecendo liquidez como tem vindo a ser esse o caso.



A nível político os mercados irão estar atentos a sinais que possam levar a um aumento de tensões geoestratégicas e de impacto económico.

O líder chinês Xi Jinping irá estar esta semana na Rússia na sua primeira visita de Estado desde a invasão da Ucrânia, poucos dias depois que o Tribunal Penal Internacional ter emitido um mandado de prisão contra o presidente Vladimir Putin por crimes de guerra.

Finalmente a Finlândia poderá ver a sua entrada na NATO ratificada pela Turquia e pela Hungria, preparando-se para ser o 31º elemento da aliança militar.

Em França, Emmanuel Macron continua a navegar por mares revoltos, torneando um voto parlamentar para aprovar a sua reforma da segurança social em que aumenta a idade de reforma em dois anos, levando a violentos protestos por todo o país, que podem colocar em causa o actual governo.


Bancos Centrais



The Federal Reserve dos Estados Unidos deverá aumentar a taxa dos seus Fed Funds de 4,50%-4,75% para 4,75%-5,00% apesar de ter sinalizado ainda há muito pouco tempo a possibilidade de 50 pontos de subida de taxa de juro.
A inflação continua bem acima da meta do Fed e os recentes dados divulgados poderiam suportar os tais 50 pontos de aumento, mas o recente tumulto nos mercados financeiros em torno da banca poderão levar a um Fed mais contido, até porque esta instabilidade no mercado irá certamente para tornar mais apertado o crédito a empresas e particulares, levando a uma possível contenção da procura, abrandando as pressões inflacionistas apontadas pelo Fed.
Deverá ficar longe de ser uma decisão unânime e com o mercado a ter provavelmente várias leituras, todas elas potencialmente válidas pelo que poderá estar garantida ainda mais volatilidade nos mercados. As probabilidades do mercado, neste momento, segundo a CME Fed Watch Tool estão em 38% para manter as taxas inalteradas e 62% para uma subida de 25 pontos base.
Os mercados irão ainda estar bem atentos às novas projecções económicas da FOMC e aos novos dot plot. Ainda há bem pouco tempo as expectativas eram de que os mesmos apontassem para uma taxa máxima acima dos 5,5%, mas actualmente o mercado aponta para uma taxa máxima abaixo de 5%.

O Banco de Inglaterra na anterior reunião deu sinais de poder parar o ciclo de subida de taxas de juro, ou pelo menos de estar perto de o fazer. Sem dar uma orientação futura fez depender a continuação ou não do ciclo de aperto monetário dos dados que fossem sendo disponibilizados, como os da inflação e do trabalho. Ambos desde essa altura parecem suportar a continuação da subida da taxa de juro, mas os recentes acontecimentos poderão ter uma palavra a dizer na hora da votação. O Banco de Inglaterra terá no dia imediatamente anterior à sua reunião, e decisão, os números da inflação do mês de Fevereiro. O consenso de mercado aponta para a possibilidade de um aumento de 25 pontos base, levando a sua taxa de juro então para um máximo a 4,25%, antes de suspender o ciclo de subida de taxas.

O Banco Nacional Suíço irá reunir esta semana e terá pela frente mais uma difícil decisão a tomar.
Na Suíça, desde o início do ano, a inflação continuou a subir e a superar as expectativas, atingindo 3,4% em Fevereiro. Como o Banco Nacional Suíço só se reúne uma vez por trimestre e só aumentou as taxas em 175 pontos base desde o início do ciclo de aperto monetário (em comparação com 350 pontos base do BCE e 475 da Reserva Federal), as recentes subidas da inflação defendem uma subida de 50 pontos base nesta reunião.
Há duas semanas atrás este aumento de 50 pontos poderia estar quase assegurado, mas os desenvolvimentos recentes nos mercados financeiros reduziram claramente a probabilidade de isso acontecer. Como o Credit Suisse é um dos dois maiores bancos da Suíça, o que implica que o risco sistémico é maior na Suíça do que em qualquer outro lugar, o BNS terá que agir cautelosamente, equilibrando a estabilidade de preços com a estabilidade financeira. Idealmente poderá gerir a primeira com a taxa de juro e a segunda com outros instrumentos como o fornecimento de liquidez, como já está a fazer.
Enquanto o BCE e o Fed anunciaram previamente a subida das suas taxas de juro, o mesmo não sucedeu com o Banco Nacional Suíço, pelo que Thomas Jordan está mais solto para tomar qualquer decisão. O consenso do mercado aponta para um aumento de 50 pontos base, com a taxa de juro a subir de 1% para 1,5%.

O Norges Bank deverá aumentar a sua taxa de juro em 25 pontos base, com o mercado dividido ainda se não poderá subir mesmo 50 pontos. Uma taxa de inflação a continuar a aumentar e uma moeda enfraquecida, poderá levar o banco central da Noruega por esse tal aumento de 50 pontos.

O Banco Central da Turquia deverá manter inalterada a sua taxa de juro nos 8,5% na sua reunião desta semana, depois de na passada reunião ter referido que os cortes na taxa de juro não iriam continuar em série.

O Banco Central das Filipinas deverá continuar a fazer subir a sua taxa de juro, com o mercado a esperar que a aumente de 6,00% para 6,25%.

O Banco Central do Brasil deverá manter inalterada a sua taxa Selic nos 13,75%.

O Banco Central de Taiwan deverá manter inalterada a sua taxa básica de juros nos actuais 1,75%.


Dados Económicos



Estados Unidos da América
No que toca a dados económicos, iremos ter uma semana mais ligeira do que a anterior, mas ainda assim com um conjunto interessante de indicadores.
Começamos logo por dados do mercado imobiliário, com o número das Vendas Existentes de Casas, onde as previsões apontam para um aumento de 4 para 4,2 milhões, enquanto as da Venda de Imóveis Novos apontam para uma redução de 670 mil para 650 mil.
Teremos os dados das encomendas de bens duradouros, que as previsões apontam para um aumento de 1,5%, recuperando parcialmente da contracção de -4,5% do mês anterior. Sem os itens de transportes, as encomendas deverão desacelerar do crescimento do mês anterior de 0,8% para 0,3%.
Iremos ter também dados da actividade privada manufactureira e de serviços com a divulgação do S&P Global PMI. As previsões apontam para que o sector de serviços avance de 50,6 para 50,8 e o manufactureiro de 47,3 para 47,6.
Teremos ainda os habituais números semanais dos novos pedidos de subsídio de desemprego.

Zona Euro
Esta semana voltamos a ter mais dados sobre a confiança do tecido empresarial privado, com a divulgação dos S&P Global PMIs da Zona Euro e das principais economias que a constituem.
O PMI manufactureiro, segundo as estimativas, deverá crescer de 48,5 para 48,9, enquanto o de serviços poderá conhecer um ligeiro recuo de 52,7 para 52,6.
Em França as previsões apontam para um recuo nos serviços de 53,1 para 52,4 e uma subida de 47,4 para 48,1 na manufactura. Na Alemanha as estimativas apontam para um crescimento no sector de serviços de 50,9 para 51,2 e no manufactureiro de 46,3 para 47,1.
Também em destaque teremos o índice alemão de Confiança Económica ZEW com as previsões a apontarem para recuos, em torno da instabilidade dos últimos dias. Na Zona Euro o índice deverá recuar de 29,7 para 16 e na Alemanha de 28,1 para 14,9. Ainda na Zona Euro teremos ainda os números da balança comercial do mês de Janeiro, os da conta corrente e da confiança do consumidor do corrente mês de Março.

Reino Unido
As atenções esta semana irão estar nos dados da inflação, que irão sair no dia imediatamente anterior à reunião do Banco de Inglaterra. As previsões apontam para uma queda ligeira no Índice de Preço do Consumidor, levando a inflação a abrandar de 10,1% para 9,9%, com a inflação core sem energia e alimentação, a manter-se nos 5,8%.
Teremos os S&P Global PMIs, onde as previsões apontam para que o sector manufactureiro avance de 49,3 para 50, e o de serviços tenha um ligeiro recuo de 53,5 para 53.
Iremos ter também os dados das vendas a retalho do mês de Fevereiro onde as estimativas apontam para um abrandamento mensal de 0,5% para 0,2%, com o comparativo anual de -5,7% para -4,7%.
Teremos ainda o Índice de Preço de Imóveis da Rightmove, os números dos empréstimos líquidos ao sector público, as Expectativas de Encomendas Industriais CBI e o índice de Confiança do Consumidor GfK.

Canadá
Iremos ter uma semana bem preenchida de dados com o destaque a começar por ir para os dados da inflação. O Índice de Preços do Consumidor de Fevereiro deverá mostrar um abrandamento na inflação de 5,9% para 5,4%, com a medida mensal a mostrar um ligeiro aumento de 0,5% para 0,6%. A inflação subjacente deverá mostrar uma queda de 5% para 4,6%, com a medida “média” a poder abrandar de 5% para 4,9%.
Teremos também os dados das vendas a retalho que, segundo as estimativas, deverão aumentar no mês de 0,5% para 0,7% e se excluirmos as vendas automóveis deverão recuperar os -0,6% do mês anterior, aumentando 0,6%. No comparativo anual as vendas a retalho desacelerar de 7,3% para 4,3%.
Iremos ter ainda o Índice de Preços de Imóveis Novos que deverá mostrar no mês de Fevereiro a continuação da descida de preços de -0,2% no mês anterior para -0,3%, com o comparativo anual a mostrar uma desaceleração de preços de 2,7% para 1,8%.

Suíça
Por aqui teremos os números da balança comercial do mês de Fevereiro, que deverá mostrar uma redução do seu saldo positivo de 5,08 mil milhões de francos suíços para 3,45 mil milhões.

Japão
O destaque da semana divide-se entre os dados da inflação e da actividade económica privada.
Segundo as estimativas, a inflação em Fevereiro deverá cair dos 4,3% do mês anterior para 3,4% no comparativo anual, com a medida mensal a mostrar uma queda de -0,3% nos preços, face a +0,4% no mês anterior.
O Jibun Bank PMI deverá mostrar um recuo na actividade de serviços de 54 para 52, enquanto a actividade manufactureira deverá aumentar de 47,7 para 48,8.

Nova Zelândia
Por aqui teremos os números da balança comercial do mês de Fevereiro, onde as estimativas apontam para uma redução do seu saldo deficitário de 1,95 mil milhões de dólares neozelandeses para cerca de mil milhões.
Teremos também os dados das despesas com cartão de crédito que deverão mostrar uma aceleração, em Fevereiro, de 17,9% para 18,5% e o índice de Confiança do Consumidor Westpac que deverá mostrar uma subida de 75,6 para 81,9.

Austrália
O destaque da semana vai para os dados da actividade económica privada, com a divulgação dos Judo Bank PMIs. Tanto o sector manufactureiro como o de serviços deverão, segundo as previsões, recuar das leituras do mês passado. O PMI manufactureiro de 50,5 para 50,4 e o de serviços de 50,7 para 50,5.



O que pensa sobre este tema?