Semana Revista
Médio Oriente e Washington

Semana Revista Médio Oriente e Washington

Uma semana em que as atenções estiveram entre a escalada do conflito no Médio Oriente e as expectativas relativamente a taxas de juro com discursos e comentários a virem dos responsáveis do Fed e do BCE nas reuniões do FMI.

Uma semana em que os dados económicos de primeira linha foram escassos, para não dizer, inexistentes, com os mercados financeiros a serem impactados pelas tensões geopolíticas, principalmente no Médio Oriente, e pelos muitos comentários e orientações vindas por parte da quase totalidade do Conselho de Governadores do Banco Central Europeu e do FOMC da Reserva Federal.





Tensões geopolíticas testam os mercados.
No fim-de-semana passado, o Irão respondeu ao bombardeamento do seu consulado em Damasco, na Síria, onde perderam a vida algumas altas patentes da sua Guarda Revolucionária Iraniana. O ataque em massa feito pelo Irão a Israel acabou quase sem vítimas a lamentar, com a sua “Iron Dome” e a “Funda de David”, o seu sistema defensivo antiaéreo, em conjunto com aliados, a conseguirem deter todos os mísseis e drones lançados pelo Irão.
A semana começou tensa, com promessas de resposta por parte de Israel, entre esforços do Ocidente para que essa resposta fosse contida.
Na noite de 18 de Abril, Israel respondeu finalmente ao ataque iraniano, aparentemente lançando um ataque a uma base militar perto da cidade de Isfahan, levando a um aumento dos receios de uma guerra mais ampla na região.
Os mercados reagiram prontamente com os activos de refúgio a ganhar (obrigações, ouro, petróleo e dólar) com os activos de risco em queda (acções).
Os meios de comunicação iranianos desvalorizaram entretanto o ataque israelita e responsáveis iranianos afirmaram que o ataque não fez nem vítimas nem estragos significativos, dando sinais de que nem o Irão nem Israel terão interesse num conflito aberto.
A semana termina assim com as tensões novamente a abrandar, com as atenções de novo focadas em Gaza.





O outro foco das atenções esteve na divergência entre a Reserva Federal e o Banco Central Europeu.
Foram muitos os discursos e comentários que ouvimos dentro e fora do âmbito das “Reuniões de Primavera” do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial em Washington, dos responsáveis de ambos os bancos centrais.




Parece ser cada vez mais ponto assente que a Reserva Federal não vai conseguir cumprir com as suas projecções de Março, onde apontou para três cortes de 25 pontos base na taxa de juro dos Fed funds.
Com a economia a avançar e a inflação sem cair, há pouco espaço para o Fed declarar vitória e começar a remover o que considera uma política restritiva. Na sua grande maioria os membros do FOMC têm vindo a chamar a atenção para esse facto e esta semana não foi excepção.
John Williams, presidente do Fed de Nova York, disse que embora “não seja” sua linha base aumentar taxas, tal poderá ser possível se for justificado. Raphael Bostic, disse que não acha que será apropriado cortar taxas até ao final deste ano. Neel Kashkari, é de opinião que o Fed pode “potencialmente” manter as taxas estáveis durante todo o ano.
Mas a grande surpresa (se assim o podermos chamar) veio de Jerome Powell que fez uma viragem hawkish, abandonando a postura marcadamente mais dovish de Dezembro, admitindo agora que nem tudo está a correr conforme o planeado. O presidente da Reserva Federal disse que dados recentes de inflação indicaram que provavelmente levará mais tempo para o banco central atingir a confiança necessária para reduzir as taxas de juros. Powell destacou a falta de progresso adicional na inflação após a rápida queda observada no final do ano passado. Se as pressões sobre os preços persistirem, disse que o Fed poderá manter as taxas estáveis “enquanto for necessário”.
A FedWatch Tool da CME aponta para Setembro a maior probabilidade de um primeiro, e único corte, de taxas de juro neste ano nos Estados Unidos.





Do lado do Banco Central Europeu, um primeiro corte de taxas de juro na reunião de Junho parece ser o denominador comum no Conselho de Governadores, enquanto o que vai acontecer depois será uma incógnita.
Simkus, da Lituânia, prevê mais de 50% de mais de 3 cortes nas taxas este ano. Kazimir, da Eslováquia, abriu a porta para um corte em Junho, mas se compromete com o caminho a seguir depois. Villeroy, de França, vê o BCE a cortar as taxas de juro na reunião de Junho, "excepto grandes choques ou surpresas". Joachim Nagel, reiterou a sua opinião anterior de que aumentaram as probabilidades de reduzir as taxas de juro em Junho. O vice-presidente do BCE, de Guindos, afirmou que o banco central estaria "pronto para reduzir a restrição" da política monetária se as coisas evoluíssem como esperado.
Mas há avisos sobre os tempos que se avizinham. Kazaks, da Letónia, afirma que é demasiado cedo para declarar a vitória da inflação. Reconhece que o BCE tem em conta o Fed, embora o banco central tenha o seu próprio mandato. Vasle, da Eslovénia, sugeriu que as políticas do BCE e do Fed podem divergir (no curto prazo), mas não podem continuar a funcionar de forma assíncrona. Holzmann, da Áustria, afirmou que se o Fed acabar por manter as taxas directoras inalteradas este ano, o BCE não poderá continuar a cortar as taxas 3 ou 4 vezes. Vucjic, da Croácia, disse que o BCE pode agir primeiro, mas que a divergência do Fed seria sentida, alertando também para a trajectória acidentada da inflação que se avizinha.
Christine Lagarde no seu discurso em Washington afirmou que o processo de desinflação na Zona Euro continua e que o BCE não se compromete com um caminho predefinido para as taxas de juro. Será apropriado reduzir os actuais níveis de taxas de juro se os critérios da inflação forem observados. É esperado que o processo de desinflação continue, apesar dos riscos de subida da inflação como salários, lucros e a situação geopolítica.





Dot plot no Banco Central Europeu?
Isabel Schnabel, membro do conselho executivo do BCE, disse que o banco central deveria considerar repensar a forma como prevê o crescimento e a inflação, com o objectivo final de melhorar a comunicação e ser capaz de responder rapidamente aos choques. Confiar na política actual de publicar apenas projecções de base é arriscado, disse Schnabel, alertando que elas transmitem uma falsa sensação de precisão. Ela defende o uso regular e consistente de cenários alternativos à linha de base para destacar a incerteza inerente às previsões. E embora o BCE já os produza, eles são ignorados pelos investidores. Os seus comentários foram feitos depois de o ex-presidente do Fed, Bernanke, ter aconselhado o Banco de Inglaterra sobre como melhorar as suas projecções, incluindo a publicação de uma perspectiva para as taxas com cenários que mostrem o melhor caminho para atingir a meta de inflação de 2%. Schnabel também viu benefícios no uso de um gráfico de pontos semelhante ao do Fed. “Pode ajudar a transmitir a incerteza sobre a trajectória futura da economia, ao mesmo tempo que proporciona maior clareza sobre onde os decisores políticos vêem a evolução das taxas no futuro. Ao mesmo tempo, podem condicionar excessivamente os preços de mercado, reduzindo assim o seu conteúdo informacional.”





O Fundo Monetário Internacional elevou a sua previsão de crescimento global para 3,2% em 2024 nas suas previsões de Abril, face aos 3,1% observados em Janeiro, afirmando que a economia global permanece notavelmente resiliente, com o crescimento a manter-se estável à medida que a inflação regressa à meta, especialmente nos Estados Unidos. A previsão para 2025 manteve-se inalterada em 3,2%. Além disso, a inflação global global deverá cair de uma média anual de 6,8% em 2023 para 5,9% em 2024 e 4,5% em 2025. Espera-se que a economia dos Estados Unidos cresça a uma taxa muito mais forte de 2,7% este ano (contra 2,1% na projecção de Janeiro). A Índia também deverá crescer a um ritmo mais elevado de 6,8% (contra 6,5%), enquanto as previsões para o PIB da China (4,6%) e do Japão (0,9%) se mantiveram estáveis. Por outro lado, as projecções de crescimento foram revistas em baixa para a Área Euro (0,8% vs 0,9%), Alemanha (0,2% vs 0,5%) e Reino Unido (0,5% vs 0,6%).



Dados Económicos




Nos Estados Unidos, apesar da divulgação de uma boa mão cheia de indicadores económicos, foi uma semana bastante mais tranquila. A semana começou com o indicador de maior destaque, o das vendas a retalho, que surpreendeu positivamente os mercados. As vendas aumentaram no mês de Março 0,7%, desacelerando dos 0,9% do mês anterior revistos em alta de 0,6%, e ficaram bem acima das estimativas que apontavam para um aumento de 0,3%. Sem vendas automóveis nem combustíveis, as vendas aumentaram 1,1%, depois do aumento de 0,6% do mês anterior, também revisto em alta (de 0,3%), acima dos 0,2% estimados pelo mercado.
Já o índice manufactureiro de Nova Iorque surpreendeu pela negativa, recuperando ligeiramente dos -20,9 do mês passado, para os -14,3 deste mês, mas ficando bem abaixo das previsões que apontavam para -9.
O índice de mercado imobiliário NAHB manteve-se nos 51, o nível mais elevado desde Julho do ano passado.
O início de construção de casas caiu 14.7% em Março, de 1,55 milhões revistos em alta, para 1,32 milhões, ficando abaixo dos 1,48 milhões previstos, e as licenças de construção caíram 4,3%, de 1,52 milhões para 1,46 milhões, ficando também abaixo das estimativas de 1,51 milhões.
A produção industrial aumentou 0,4% em Março, em linha com as estimativas e com o aumento do mês de Fevereiro.
O índice manufactureiro do Fed de Filadélfia subiu inesperadamente de 3,2 para 15,5, a terceira leitura positiva consecutiva e a mais elevada desde Abril de 2022.
As vendas de casas existentes saíram ligeiramente abaixo do estimado pelos mercados em 4,19 milhões, abaixo dos 4,2 milhões previstos e dos 4,38 milhões do mês anterior.
Os números semanais de novos pedidos de subsídio de desemprego mantiveram-se inalterados em relação à semana anterior, em 212 mil.

Na Zona do Euro, em termos de indicadores económicos, foi uma semana tranquila.
Começamos com os dados da produção industrial que, depois da queda revista em alta de 3,0% em Janeiro, mostrou um crescimento de 0,8% em Fevereiro, em linha com as estimativas do mercado.
As atenções estiveram especialmente voltadas para o indicador alemão de confiança económica ZEW que surpreendeu os mercados ao subir de 33,5 para 43,9, bem acima da estimativa de mercado de 37,2, para o valor mais elevado desde Fevereiro de 2022. Para a Alemanha, o indicador aumentou de 31,7 para 42,9, também bastante acima do esperado 35,1.
A balança comercial em Fevereiro reduziu o excedente de 27,1 mil milhões de euros revistos em baixa de Janeiro, para 17,9 mil milhões de euros, ficando também abaixo das previsões de mercado de 27,3 mil milhões.
O excedente comercial da zona euro aumentou significativamente para 23,6 mil milhões de euros em Fevereiro de 2024, o maior desde Dezembro de 2020, face a 3,6 mil milhões de euros no mesmo período do ano passado. As importações caíram 8,4% e as exportações aumentaram 0,3%.
Os números finais do Índice de Preços do Consumidor confirmaram que a inflação na Zona Euro caiu de 2,6% para 2,4%, com a inflação subjacente a cair de 3,1% para 2,9%.
Em Itália tivemos a divulgação dos números da balança comercial que mostraram um aumento do excedente de 2,5 mil milhões de euros, revistos em baixa, de Janeiro, para 6 mil milhões de euros em Fevereiro, acima da estimativa de 3,44 mil milhões.
Na Alemanha, os preços no produtor subiram em Março 0,2%, face a uma estagnação estimada pelo mercado, depois da queda de 0,4% no mês anterior.

No Reino Unido o foco começou por ir para os dados do emprego que saíram mais fracos do que o esperado pelos mercados.
A taxa de desemprego subiu de 3,9% para 4,2%, bem acima dos 4,0% estimados. Os ganhos médios semanais, incluindo bónus, mostraram um aumento de 5,6%, o mesmo que no período anterior e acima das previsões de 5,5%, enquanto se excluídos os bónus, aumentaram 6%, em termos anuais, abaixo dos 6,2% estimados, o crescimento mais baixo desde Setembro de 2022 e abaixo do aumento de 6,1% no período anterior.
O número de pedidos de subsídio de desemprego em Fevereiro aumentou de 4,1 mil revistos em baixo de 16,8 mil do mês anterior, para 10,9 mil ficando bem abaixo dos 17,2 mil previstos, enquanto o número de pessoas a trabalhar caiu em 156 mil, acelerando a queda do período anterior de 21 mil, contrariando completamente as estimativas que apontavam para um aumento de 110 mil.
Já a inflação mostrou uma queda menor do que o estimado pelos mercados. Os preços aumentaram em Março 0,6%, acima dos 0,5% estimados, mantendo o ritmo do mês de Fevereiro. A inflação caiu de 3,4% para 3,2%, ficando acima dos 3,1% previstos. Se retirados os alimentos e a energia, a subida mensal dos preços foi também de 0,6%, com a inflação subjacente a cair de 4,5% para 4,2%, acima das previsões de 4,1%.
Tivemos ainda as vendas a retalho que saíram abaixo do esperado. Depois de um aumento de 0,1%, revisto em alta, no mês de Fevereiro, o crescimento das vendas estagnou em Fevereiro, contra previsões de um aumento de 0,2%.

No Canadá as atenções recaíram também sobre os dados da inflação.
Os preços no mês de Março subiram 0,6%, ficando abaixo dos 0,7% estimados, mas acelerando dos 0,3% do mês anterior. Se retirados alimentos e combustíveis, os preços aceleraram de 0,1% para 0,5%, bastante acima dos 0,2% previstos pelo mercado. A inflação anual subiu de 2,8% para 2,9%, contrariando as estimativas que apontavam para uma queda para 2,7%, enquanto a inflação subjacente caiu de 2,1% para 2%, uma queda menor do que a estimada para 1,8%. A medida que exclui 40% dos itens mais voláteis, a mais observada pelo Banco do Canadá, também caiu, de 3,2% para 3,1%, face às estimativas que apontavam que se mantivesse nos 3,2%.
Tivemos dados das vendas manufactureiras que mostraram um aumento de 0,7%, em linha com o previsto pelo mercado, acelerando do aumento de 0,2% no mês anterior.
As vendas grossistas permaneceram estáveis em Fevereiro, abaixo de um crescimento previsto de 0,8%, depois de uma contracção revista em baixo de 0,2%.
Tivemos ainda dados da construção, com o número de início de construção de casas a cair 7% em relação ao mês anterior de 260 mil revisto em alta, para 242 mil, ficando abaixo das estimativas de 244 mil.

Na Suíça, os preços no produtor e nas importações caíram em Março 2,1% em termos anuais, após uma diminuição de 2% no mês anterior. Numa base mensal, os preços aumentaram 0,1%, inalterados em relação ao mês anterior e abaixo dos 0,2% estimados pelo mercado.
O excedente comercial na Suíça aumentou em Março para 2,8 mil milhões de francos suíços, face aos 2,3 mil milhões revistos em alta no mês anterior, com as exportações a diminuírem 0,6% e as importações a contraírem 3,3%.

Na China tivemos esta semana um vasto número de dados económicos que deram indicações díspares destes primeiros meses do ano.
O crescimento da economia chinesa superou as expectativas, com o PIB a crescer trimestralmente 1,6% nos primeiros três meses do ano, acelerando dos 1,2% revisto em alta no quarto trimestre de 2023, ficando acima das estimativas de 1,5%. Em termos anuais, a China cresceu 5,3%, acima dos 5,2% do trimestre anterior e das previsões de 4,8%.
O investimento em activos fixos ganhou força em Março, acelerando de 4,2% para 4,5% em termos anuais e acima dos 4% estimados.
A produção industrial surpreendeu negativamente. Após um forte início nos primeiros dois meses deste ano com crescimento de 7%, Março desacelerou para 4,5%, ficando abaixo das estimativas de 6,0%. As vendas a retalho também desiludiram, desacelerando de um crescimento de 5,5% para 3,1% e abaixo das previsões de 5,1%.
Os dados sobre o preço médio das casas em 70 cidades mostraram que os preços das casas ainda não atingiram o mínimo, com os preços das casas novas a caírem -0,34% no mês de Março, desacelerando ligeiramente dos -0,36% do mês anterior.
A taxa de desemprego caiu em Março de 5,3% para 5,2%, em linha com as expectativas do mercado.

No Japão as atenções estavam voltadas esta semana para os dados da inflação que mostraram uma queda em Março. A inflação global caiu de 2,8% para 2,7%. A medida preferida do Banco do Japão, que exclui os alimentos frescos, ficou em 2,6% contra 2,8% no mês anterior, enquanto uma medida que também exclui os preços da energia diminuiu de 3,2% para 2,9%, a primeira leitura abaixo de 3% desde Novembro de 2022. Embora todos os indicadores tenham ficado ligeiramente aquém das expectativas, permanecem acima da meta de 2% do BoJ por dois anos consecutivos.
A semana começou com os dados das principais encomendas de maquinaria de Fevereiro, que excluem as de navios e empresas de energia eléctrica. Os números mostraram um aumento de 7,7% em termos mensais, recuperando da queda de 1,7% em Janeiro, surpreendendo os mercados que estimavam mais uma queda de 0,2%.
O índice Tankan saiu em linha com o estimado, recuando de 10 para 9.
A balança comercial registou um défice maior do que o estimado em Março, passando de 57 mil milhões de ienes (revisto em baixa) para 70 mil milhões, abaixo dos 28 mil milhões previstos, com as exportações a aumentarem menos do que o esperado (7,3%) e as importações a recuarem 4,9%.

Na Nova Zelândia as atenções estiveram nos dados da inflação relativos ao primeiro trimestre deste ano. Os números saíram em linha com o estimado pelos mercados, com os preços a subirem de 0,6% nos primeiros três meses deste ano em relação ao período anterior, acima dos 0,5% no último trimestre de 2023. A taxa de inflação anual diminuiu de 4,7% do último trimestre do ano passado, para 4% nos primeiros três meses de 2024, o valor mais baixo desde o segundo trimestre de 2021.

Na Austrália, a taxa de desemprego surpreendeu os mercados ao subir menos do que o esperado pelos mercados de 3,7% para 3,8% (face a previsões de 3,9%). O emprego caiu inesperadamente em 6,6 mil postos de trabalho, face a um aumento estimado de 7,2 mil. A taxa de participação ficou nos 66,6%, ligeiramente inferior aos 66,7% de Fevereiro.


Mercados accionistas



Às expectativas em torno de taxas de juro altas por mais tempo da Reserva Federal, que de alguma forma se acabam por transmitir às demais economias, juntaram-se os acontecimentos no Médio Oriente que fizeram aumentar os receios de um alargamento do conflito naquela área geográfica.
As expectativas em torno das taxas de juro, levaram as yields obrigacionistas de novo para máximos, pressionando os preços das acções, enquanto o aumento das tensões geopolíticas, principalmente na véspera de um fim-de-semana, levaram os investidores a voltar as costas para os activos de risco, em especial às acções.

Na Ásia, as acções seguiram impactadas pelas yields obrigacionistas em máximos e pelas tensões geoestratégicas a aumentarem com os acontecimentos que foram sucedendo no Médio Oriente.
No Japão, o índice Nikkei liderou as perdas desta semana, caindo 6,29%, a perdas semanal mais acentuada desde Junho de 2022, e o Topix perdeu 4,81%.
Na China, com o PIB do primeiro trimestre a mostrar um crescimento de 5,3%, o índice CSI 300 conseguiu registar uma subida de 1,89% e o Shanghai Composite 1,52%, enquanto o Hang Seng, de Hong Kong, perdeu 2,98%.
Na Austrália, o ASX 200 caiu 2,84%, enquanto o Kospi, da Coreia do Sul, perdeu 3,35%.

Os mercados accionistas europeus foram os que menos perderam, com a confiança dos investidores a continuar impulsionada pela possibilidade de juros mais baixos já no próximo mês de Junho.
O índice Euro Stoxx 600 perdeu 1,18% e o Euro Stoxx 50 perdeu 0,76%.
O índice DAX, da Alemanha, perdeu 1,05%, enquanto o CAC 40, de França, conseguiu mesmo terminar em terreno positivo, avançando marginalmente 0,14%.
No Reino Unido, o índice FTSE 100 perdeu 1,25%.

Nos Estados Unidos, as acções terminaram a semana pressionadas pelas yields em máximos do ano, principalmente o sector tecnológico que registou as perdas mais significativas.
O índice Dow Jones terminou a semana praticamente inalterado (+0,01%), enquanto o S&P 500 caiu 3,05% e o Nasdaq liderou as perdas ao recuar 5,52%.

Enquanto a volatilidade na Europa terminou a semana a registar um ligeiro recuo dos máximos atingidos na semana anterior, nos Estado Unidos, o índice do medo VIX terminou a subir, desta vez 8,09%, depois de ter atingido um máximo a 21,35, quando da resposta de Israel ao Irão, terminou a semana a 18,70, em máximos dos últimos cinco meses.

Gráfico Fonte XTB xStation 5


Mercado cambial



Se não fosse a forte volatilidade que assolou o normal funcionamento onde os mercados cambiais seguiam, quando do ataque israelita ao Irão, que levou a fortes receios de um conflito mais alargado, teríamos tido uma semana quase sem história, com os mercados a seguirem o caminho deixado pela semana anterior, entre estimativas de taxas de juro elevadas por mais tempo.
Mas o abalo criado pelos receios de uma guerra generalizada, acabou por levar as divisas ditas de refúgio a ganhos e as com um beta mais elevado a perdas, sendo que a semana terminou repondo praticamente a situação do início da semana.

O índice do dólar DXY terminou a semana praticamente inalterado dos níveis de abertura a (105,74 face a 105,95), tendo ficado contido durante a semana entre um mínimo de 105,56 e um máximo de 106,31.

O EUR/USD registou um novo mínimo do ano a 1,0600, depois de ter iniciado a semana a negociar a 1,0637. Terminou a 1,0655, depois de ter atingido um máximo de 1,0690.

O iene japonês continua a negociar em perdas. Foi mais uma semana em que por diversas vezes ouvimos os responsáveis do Ministério das Finanças e do Banco do Japão a avisarem de possíveis intervenções cambiais. Mas enquanto não passarem aos factos e continuarem a intervir verbalmente, creio que os mercados vão continuar a testar os seus limites.
Esta semana, a repentina e forte aversão ao risco sentida nos mercados quando do ataque israelita ao Irão, levou o iene a ganhos momentâneos, que rapidamente foram desfeitos.
O USD/JPY terminou a semana a negociar em torno de máximo dos últimos 34 anos a 154,65, muito perto do máximo de 154,79, depois de ter iniciado a semana a cotar a 153,09 e ter registado um mínimo a 152,98.
O EUR/JPY depois de ter registado um mínimo a 162,70, terminou a semana a negociar a 164,79, depois de ter iniciado a semana a 162,76 e atingido um máximo a 165,03.

A libra voltou a negociar em perdas esta semana, depois de dados do emprego mais fracos do que o esperado e inflação a continuar em queda, mas não tanto quanto o estimado, e ainda com o governador do seu banco central a apontar para cortes de taxas mais cedo do que o que seria de esperar. Os mercados em aversão ao risco tendem também a pressionar o preço da libra.
O GBP/USD terminou a semana abaixo de 1,2400 pela primeira vez desde o início de Novembro do ano passado, a 1,2370, encostado ao mínimo de 1,2367, depois de ter começado a semana a negociar a 1,2451 e ter atingido um máximo de 1,2500.
O EUR/GBP começou a semana a negociar a 0,8546, registou um mínimo de 0,8520, para terminar a 0,8614, encostado ao máximo de 0,8616.

O franco suíço , que tem vindo a negociar em fortes perdas desde o início do ano, beneficiou do seu estatuto de moeda de refúgio durante esta semana de aversão ao risco, para registar ganhos significativos.
O EUR/CHF terminou a semana pouco alterado dos níveis de abertura. Começou a semana a negociar a 0,9693 para a terminar a 0,9703, tendo pelo meio atingido um máximo de 0,9703 e um mínimo de 0,9566.
O USD/CHF registou uma menor volatilidade, com o par a ficar compreendido entre mínimo e máximo de 0,9012 e 0,9153, respectivamente, depois de ter começado a semana a negociar a 0,9128 e terminado a 0,9104.

O dólar australiano, fruto do sentimento de aversão ao risco e dos dados do emprego mais fracos do que o esperado, registou esta semana perdas relevantes.
O AUD/USD terminou a semana a 0,6418, recuperando do mínimo da semana a 0,6362, depois de ter começado a semana a negociar a 0,6465 e ter chegado a atingir um máximo de 0,6493.
O EUR/AUD, depois de ter começado a semana a negociar a 1,6447 e ter registado um mínimo a 1,6414, terminou a 1,6610, recuando do máximo a 1,6683.

A coroa norueguesa foi fortemente impactada por um mercado em aversão ao risco e ainda pela queda dos preços do petróleo e da subida das yields obrigacionistas norte-americanas.
O USD/NOK terminou a semana a negociar a 11,02, recuando do máximo a 11,10, depois de ter começado a semana a 10,92 e ter chegado a atingir um mínimo de 10,86.
O EUR/SEK terminou a semana a 11,74, recuando do máximo de 11,78, depois de ter iniciado a semana a 11,60 e ter atingido um mínimo a 11,57.

O peso mexicano, foi a divisa que mais perdeu esta semana, pressionada pelo sentimento de aversão ao risco dos mercados e registado perdas bastante significativas quando das notícias do ataque de Israel ao Irão.
O USD/MXN chegou a atingir um máximo de 18,18, o que não sucedia desde Outubro de 2023, conseguindo terminar a 17,10, ainda assim uma perda semanal do peso mexicano face ao dólar de 2,9%. O preço tinha começado a semana a negociar a 16,68 e chegou a atingir um mínimo de 16,54.
O EUR/MXN começou a semana a negociar a 17,71, ainda fez um mínimo a 17,63, para terminar a semana a negociar a 18,22, depois de recuar de um máximo de 19,23.

Gráfico Fonte XTB xStation 5


Commodities



Petróleo

Os preços do petróleo atingiram na semana passada novos máximos deste ano, entre receios de um disrupção na oferta em torno dos acontecimentos no Médio Oriente e ainda pelos continuados ataques ucranianos a refinarias russas e aos cortes no seios da OPEP+.
Esta semana, mesmo com os acontecimento logo no início da semana com o brutal ataque iraniano a território israelita e no final da semana, com a resposta israelita a esse ataque, os preços terminaram em perdas significativas, em torno de 3%.

O Brent terminou a semana a negociar a $87,20 por barril, perto do mínimo da semana a $86,07, depois de ter iniciado a semana a $90,47 e ter chegado a negociar num máximo de $90,82.
O WTI terminou a semana a negociar a $82,12 por barril, perto do mínimo a $81,05, depois de ter iniciado a semana a $85,43, perto do máximo de $86,16.

Gráfico Fonte XTB xStation 5



Ouro

Mais uma semana positiva para o metal amarelo que voltou a ganhar suporte na forte aversão ao risco que se foi sentindo ao longo da semana, com o seu ponto alto no último dia. O ouro ganhou esta semana 1,38%, sem voltar a registar um novo máximo do ano.

A onça de ouro terminou a semana a negociar a $2 387,80, depois de a ter começado a $2 359,70, tendo ficado confinada entre um mínimo de $2 324,15 e um máximo de $2 417,70.

Gráfico Fonte XTB xStation 5



O que pensa sobre este tema?