Semana Revista
Guerra comercial e interferências no Fed

Os mercados financeiros nas últimas semanas viram-se abalados por mais incertezas em torno das tarifas e ainda por receios de um ataque à independência do maior banco global, a Reserva Federal dos Estados Unidos.
Para Donald Trump, “tarifas” continua a ser a sua palavra preferida; para os mercados, porém, é “incerteza” o termo que melhor descreve o impacto das sucessivas directrizes vindas da Casa Branca, que continuam a gerar volatilidade e dificultam a tomada de decisões por parte de investidores, empresas e consumidores.
Guerra Comercial: sinais mistos.
A guerra comercial entre os EUA e a China continua a gerar incerteza. A Administração Trump excluiu temporariamente alguns produtos tecnológicos (como telemóveis e equipamentos para chips) das tarifas recíprocas, aliviando o setor tecnológico. No entanto, mantêm-se previstas tarifas específicas sobre semicondutores.
O Secretário do Tesouro, Bessent, classificou a guerra comercial como “insustentável” e apontou que um acordo completo com a China poderá demorar até três anos. Rumores sobre possíveis reduções unilaterais de tarifas para 50% foram negados por responsáveis da Casa Branca.
Do lado chinês, Pequim exige o fim de todas as tarifas unilaterais para retomar conversações, negando que existam negociações em curso. Ainda assim, isentou alguns bens norte-americanos e pediu às empresas que identifiquem produtos críticos para isenção, sinalizando preocupação com os efeitos económicos da disputa.
A incerteza mantém-se elevada, com o mercado atento a novos desenvolvimentos e declarações oficiais.
Reserva Federal dos Estados Unidos - entre a cautela monetária e os receios de interferência política.
Os mercados financeiros nas últimas semanas reflectiram preocupações crescentes com a independência da Reserva Federal dos Estados Unidos, numa altura em que a retórica da administração norte-americana, liderada por Donald Trump, reacendeu receios de interferência na política monetária. As declarações recentes de diversos membros do Comité de Política Monetária (FOMC) reforçaram o actual posicionamento cauteloso do banco central, ao mesmo tempo que endereçaram, de forma mais ou menos velada, a polémica em torno de uma eventual substituição do presidente Jerome Powell.
Durante o período da Páscoa, e com o período de silêncio antes da próxima reunião de política monetária, várias vozes influentes do Fed partilharam as suas perspectivas.
Jerome Powell, presidente do banco central norte-americano, reiterou que o Fed se encontra numa fase de “esperar para ver”, reconhecendo que as políticas tarifárias da nova Administração poderão comprometer tanto o controlo da inflação como o equilíbrio no mercado de trabalho. Powell alertou para o risco de estas medidas levarem a uma combinação indesejada de inflação mais elevada e crescimento económico mais fraco.
A mensagem de prudência foi partilhada por John Williams, presidente do Fed de Nova Iorque, que declarou não ver necessidade imediata de alterar a política monetária. Já Austan Goolsbee, presidente do Fed de Chicago, expressou a sua preocupação com os riscos de questionamento da independência do Fed, numa referência indireta às críticas públicas de Trump a Jerome Powell.
Outros membros optaram por abordar directamente as implicações económicas da actual conjuntura. O influente governador Christopher Waller afirmou que caso as tarifas se mantenham em níveis elevados, em torno de 25%, e o crescimento abrande de forma significativa, estará disposto a apoiar cortes nas taxas de juro mais cedo e de forma mais acentuada do que anteriormente previsto. Ainda assim, sublinhou que o impacto real das tarifas poderá não se fazer sentir antes de Julho.
Em contraste, Neel Kashkari, presidente do Fed de Minneapolis, rejeitou cortes de taxas como medida preventiva face a um abrandamento económico, mantendo o foco na estabilidade das expectativas de inflação. Também Raphael Bostic, do Fed de Atlanta, defendeu que a incerteza actual justifica uma “grande pausa”, com apenas um corte de taxa previsto este ano.
Beth Hammack, do Fed de Cleveland, afirmou que o banco central poderá agir já em Junho, caso surjam dados “claros e convincentes” sobre a direcção da economia. No entanto, frisou que esse não é o seu cenário base. As suas declarações foram interpretadas pelos mercados como um sinal de maior flexibilidade do Fed para agir, caso o mercado de trabalho comece a deteriorar-se visivelmente.
Os receios de interferência política ganharam tração após relatos de que membros da Administração Trump, nomeadamente os secretários do Tesouro e do Comércio, terão intervindo para impedir o afastamento de Jerome Powell, medida alegadamente considerada pelo presidente norte-americano, mas que o mesmo acabou nesta última semana por desmentir, dizendo que “nunca tive intenção de despedir Jerome Powell”.
A confirmação deste tipo de tentativa de intervenção levanta sérias preocupações sobre a independência de uma instituição considerada pilar da credibilidade monetária dos Estados Unidos.
Com o período de silêncio da Reserva Federal a iniciar-se hoje, antes da reunião de Maio, o consenso entre os responsáveis parece indicar que a actual política monetária está bem posicionada, e que qualquer ajustamento futuro dependerá da evolução dos dados económicos, com destaque para o mercado laboral e as pressões inflacionistas.
Banco Central Europeu: Posições sobre a política monetária.
O Conselho do Banco Central Europeu continua a debater intensamente os próximos passos na sua política monetária, com várias vozes divergentes a surgir sobre o ritmo e a necessidade de ajustes nas taxas de juro. A actual incerteza económica e o panorama global volátil tornam este debate ainda mais crucial.
O membro do Conselho Governador do BCE, Olli Rehn, defendeu que não deve ser descartada a possibilidade de cortes mais acentuados nas taxas de juro. Rehn argumenta que a política monetária precisa de ser ágil e activa para lidar com os riscos de crescimento identificados em março, que continuam a materializar-se, além do endurecimento das condições financeiras. Para Rehn, suspender o ciclo de cortes nas taxas de juro não seria justificável, dadas as circunstâncias actuais.
Por outro lado, o economista-chefe do BCE, Philip Lane, apresentou uma visão mais equilibrada sobre a questão. Embora tenha abordado a possibilidade de um corte de 50 pontos base, Lane sublinhou que esta questão permanece teórica. Ele antecipou que, nas previsões de crescimento da Zona Euro, haverá uma revisão em baixa em Junho, mas manteve uma visão optimista para o longo prazo, mantendo a confiança na recuperação económica.
A presidente do BCE, Christine Lagarde, e outros membros do Conselho indicaram que o BCE está próximo de alcançar o seu objectivo de estabilidade de preços. Contudo, com a elevada incerteza económica, Lagarde afirmou que todas as opções estão em aberto para a reunião de política monetária de Junho, incluindo a avaliação da necessidade de mais alívio nas taxas de juro.
Em relação ao impacto das tarifas comerciais, o membro do BCE, Robert Holzmann, conhecido pela sua postura mais conservadora, declarou que as próximas medidas de política monetária ainda estão em aberto. No entanto, Holzmann reconheceu que o impacto líquido das tarifas até agora tem sido mais desinflacionário, o que pode influenciar as decisões futuras do BCE.
Com as condições económicas actuais, o BCE enfrenta um cenário de grande incerteza, o que torna ainda mais desafiante a tarefa de decidir sobre os próximos passos da política monetária. A reunião de Junho será um ponto-chave para definir se o ciclo de cortes nas taxas de juro será interrompido ou se serão necessárias novas medidas de estímulo para apoiar a recuperação económica.
FMI revê em baixa previsões de crescimento e alerta para riscos acrescidos.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) actualizou o seu relatório World Economic Outlook, alertando para um aumento significativo da incerteza global, impulsionado por mudanças de política económica que estão a redefinir o sistema comercial internacional. Estas alterações surgem num contexto de desaceleração do dinamismo económico, colocando à prova a resiliência da economia mundial.
O FMI destaca a diminuição do espaço de manobra das políticas públicas para responder a novos choques negativos ou a uma eventual recessão mais acentuada. Após os estímulos implementados durante a pandemia e a crise energética, a margem orçamental ficou consideravelmente reduzida, agravada agora pelo aumento dos custos associados ao serviço da dívida. Esta conjuntura complica o já exigente processo de consolidação fiscal necessário para estabilizar os rácios da dívida pública.
Do lado da política monetária, também há pouco espaço para os bancos centrais ignorarem novos choques negativos do lado da oferta, uma vez que as expectativas de inflação continuam acima das metas definidas, sobretudo nas economias avançadas.
Reconhecendo o elevado grau de incerteza, o FMI optou por apresentar três cenários distintos no relatório. A previsão base, que considera as medidas tarifárias anunciadas até 4 de Abril (níveis máximos de tarifas), aponta para uma desaceleração do crescimento global dos 3,3% registados em 2024 para 2,8% este ano (abaixo dos 3,8% previstos em Janeiro), com uma recuperação gradual até 3% em 2026 (abaixo dos anteriores 3,3%).
Para os Estados Unidos, o FMI antecipa um crescimento de 1,8% em 2025 e 1,7% em 2026. Para a Zona Euro, projecta-se uma expansão mais modesta: 0,8% este ano e 1,2% no próximo.
Resultados trimestrais positivos impulsionam o S&P 500.
A temporada de resultados nos EUA segue em bom ritmo, com cerca de 36% das empresas do S&P 500 já a reportar os resultados do primeiro trimestre de 2025. Apesar de uma percentagem ligeiramente abaixo da média histórica de empresas com lucros acima das estimativas (73% contra uma média de 77% nos últimos cinco anos), a surpresa positiva tem sido mais acentuada: os lucros divulgados estão, em média, 10% acima das previsões, superando as médias de 5 e 10 anos.
Este desempenho contribuiu para uma revisão em alta do crescimento dos lucros do índice, que atinge agora os 10,1%, face aos 7% da semana passada. Se confirmado, será o segundo trimestre consecutivo de crescimento a dois dígitos e o sétimo trimestre seguido de crescimento anual de lucros. Os sectores de Serviços de Comunicação e Financeiros foram os principais motores desta melhoria.
Do lado das receitas, 64% das empresas superaram as estimativas, em linha com a média dos últimos dez anos. O crescimento agregado das receitas é de 4,6%, marcando o 18.º trimestre consecutivo de crescimento, com destaque para os sectores de Tecnologias de Informação e Saúde.
Para o resto de 2025, os analistas projectam um crescimento dos lucros entre 6,4% e 8,8%. O rácio P/E a 12 meses está agora nos 19,8, ligeiramente abaixo da média dos últimos cinco anos.
Dados Económicos
Nos Estados Unidos, as últimas duas semanas foram ligeiras de dados económicos, onde as atenções foram principalmente para as vendas a retalho, na semana anterior à Páscoa, e para os dados dos PMI e a revisão dos números da Universidade de Michigan, nesta última semana.
As vendas a retalho saíram em linha com o esperado pelos mercados, com um aumento de 1,4%, acelerando dos 0,2% do mês anterior, e sem as vendas automóveis aumentaram 0,5%, ligeiramente abaixo dos 0,7% revistos em alta do mês anterior.
Os dados de actividade económica mostraram-se ligeiramente acima do esperado pelos mercados, com o índice composto a cair de 53,5 para 51,2, mas a ficar acima dos 51 estimados. A actividade manufactureira subiu de 50,2, revistos em alta de 49,8, para 50,7 e a actividade de serviços caiu de 54,4 para 51,4, esta abaixo dos 52,8 estimados.
Os números finais da Universidade de Michigan desta vez não voltaram a surpreender os mercados. A confiança do consumidor até foi revista em alta de 50,8 para 52,2, e as expectativas de inflação mantiveram-se em máximos históricos de 4,4% para o longo prazo, com as de curto prazo a serem revistas em baixo dos 6,7% para 6,5%, ainda assim em níveis extraordinariamente elevados.
Os habituais números semanais de novos pedidos de subsídio de desemprego saíram em linha com o esperado pelos mercados, com 215 mil e 222 mil, respectivamente na primeira e na segunda semana.
Tivemos também os números das encomendas de bens duradouros, que surpreenderam os mercados com um aumento de 9,2% em Março, após 0,9% de aumento no mês de Fevereiro e estimativas que apontavam para 2,1%. Sem transportes não houve variação face ao mês anterior, ficando abaixo das estimativas do mercado de um aumento de 0,3%, após 0,7% no mês anterior.
Houve também vários números do mercado imobiliário. O índice NAHB mostrou um aumento inesperado de 39 para 40, face a uma queda estimada para 38. As licenças de construção em Março aumentaram 1,6%, surpreendendo os mercados que esperavam por uma queda de 4%, enquanto os números de início de construção de casas mostraram uma queda de 11,4%, bem superior à esperada de 5,3% e após um aumento revisto em baixo de 9,8% no mês anterior. As vendas de casas novas aumentaram 7,4%, bem acima dos 0,2% estimados pelo mercado, enquanto as vendas de casas existentes caíram 5,9%, bem mais do que a queda esperada de 3% e após o aumento revisto em alta de 4,4% no mês de Fevereiro.
Tivemos dados da produção industrial que mostraram uma queda de 0,3%, após um aumento de 0,8% no mês anterior.
O índice manufactureiro de Nova Iorque surpreendeu positivamente os mercados subindo de -20 para -8,1, face a -14,8 esperado, enquanto o do Fed de Filadélfia, surpreendeu pela negativa, com o índice a afundar de 12,5 para -26,4, na leitura mais baixa desde Abril de 2023.
Na Zona do Euro, em termos de dados económicos, as últimas semanas foram ligeiras, com os mercados especialmente atentos à divulgação dos dados de actividade económica privada que saíram ligeiramente abaixo das estimativas, com o PMI composto a cair de 50,9 para 50,1, face a 50,3 esperados. A actividade manufactureira mostrou um aumento inesperado de 48,6 para 48,7, face a uma queda estimada para 47,4, enquanto o PMI de serviços caiu para terreno de contracção, de 51,0 para 49,7, abaixo das estimativas que apontavam para 50,4.
Antes, na Alemanha, vimos o mesmo padrão, com o índice manufactureiro a cair menos do que o estimado e o de serviços a voltar para contracção, enquanto em França, tanto o índice industrial como o de serviços registaram quedas, ligeiramente abaixo das estimativas.
Tivemos também os índices de confiança ZEW e IFO. Enquanto o índice alemão de confiança económica ZEW mostrou uma forte queda de 39,8 para -18,5, na Zona Euro e de 51,6 para -14, na Alemanha, muito devido ao aumento das incertezas em torno das tarifas, o índice de confiança empresarial IFO, uma semana mais tarde, surpreendeu o mercado com uma subida inesperada de 86,7 para 86,9.
Tivemos ainda números da produção industrial que mostraram um aumento de 1,1%, acima dos 0,1% esperados, após o aumento de 0,6%, revisto em baixo, do mês anterior.
Os números finais da inflação confirmaram as leituras preliminares, com a inflação global a 2,2% e a subjacente nos 2,4%.
No Reino Unido, as últimas semanas tiveram um conjunto interessante de dados económicos relevantes.
Começou com os dados do mercado de trabalho que saíram ligeiramente abaixo das expectativas. A taxa de desemprego manteve-se inalterada em 4,4%, como esperado. O crescimento salarial, excluindo os prémios, foi inferior ao esperado, em 5,6%, face aos 5,7% estimados. A variação de emprego mostrou um aumento de 206 mil postos de trabalho, face ao mesmo período um ano atrás, acima dos 95 mil esperados. O número de pedidos de subsídio de desemprego mostrou um aumento de 16,5 mil para 18,7 mil, ficando acima dos 30,3 mil estimados pelo mercado.
Seguiram-se os números da inflação. Os preços em termos mensais mostraram um aumento de 0,3%, abaixo dos esperados e do mês anterior de 0,4%. A inflação anual caiu de 2,8% para 2,6%, abaixo dos 2,7% estimados, com a inflação subjacente, sem energia nem alimentos, a baixar de 3,5% para 3,4%, em linha com as estimativas.
Os PMI mostraram um abrandamento na actividade económica, com o índice composto a cair de 51,5 para 48,2, onde a actividade manufactureira caiu de 44,9 para 44 e a de serviços de 52,5 para 48,9, voltando para terreno de contracção.
Já os números das vendas a retalho surpreenderam positivamente os mercados, ao mostrarem um aumento em Março de 0,4%, face a uma redução estimada de 0,3%.
Tivemos ainda o índice de confiança do consumidor GfK que mostrou uma queda maior do que o esperado de -19 para -23.
No Canadá, os indicadores relevantes das últimas duas semanas foram os da inflação e das vendas a retalho.
Os preços em Março registaram uma subida mensal de 0,3%, bem abaixo dos 0,7% esperados, desacelerando dos 1,1% mostrados no mês anterior. A inflação anual caiu de 2,6% para 2,3%, bem abaixo das previsões de 2,8%, com a inflação subjacente a cair para 2,2%, também bastante abaixo dos 2,8% esperados. A medida seguida mais de perto pelo Banco do Canadá, que exclui 40% dos itens mais voláteis, também caiu, de 2,9% para 2,8%, contrariando as previsões de se manter nos 2,9%.
Os números das vendas a retalho saíram em linha com as estimativas, caindo 0,4% após a queda de 0,6% do mês anterior, em que se excluídas as vendas automóveis, mostraram um aumento de 0,5%, acima de uma redução esperada de 0,1%.
Na Suíça foram duas semanas tranquilas de indicadores económicos.
O Índice de Preços do Produtor de Março mostrou um aumento de 0,1% nos preços em termos mensais, ficando abaixo dos 0,2% esperados e desacelerando dos 0,3% no mês anterior.
Os números da balança comercial de Março mostraram um excedente de 6,35 mil milhões de francos suíços, acima dos 5,22 mil milhões previstos e após os 4,74 mil milhões do mês anterior, revistos em baixo.
Na China, a semana antes da Páscoa foi bem preenchida de indicadores económicos relevantes.
Os números da balança comercial do mês de Março apresentaram um excedente de 102,6 mil milhões de dólares, caindo dos 170,5 mil milhões apresentados no mês anterior, mas ficando bem acima dos 74,3 mil milhões de dólares esperados.
Os novos empréstimos aumentaram mais do que o esperado, dos 1.010 mil milhões de yuans no mês anterior, para 3.640 mil milhões em Março.
O PIB do primeiro trimestre deste ano mostrou um crescimento económico de 5,4%, acima dos 5,2% estimados e em linha com o crescimento do trimestre anterior. Em termos trimestrais mostraram um crescimento de 1,2%, ficando abaixo dos 1,4% esperados e dos 1,6% do último trimestre de 2024.
A produção industrial em Março apresentou um crescimento de 7,7%, bem acima das previsões que apontavam para 5,6%, acelerando dos 5,9% do mês anterior.
Os números das vendas a retalho de Março surpreenderam também pela positiva, aumentando 5,9%, acima dos 4,1% estimados e dos 4% do mês de Fevereiro.
O índice de preço das casas mostrou uma queda, em termos anuais, maior do que o esperado. O índice caiu 4,5% face a 4,4% estimados, mas desacelerou da queda do mês anterior de 4,8%.
O investimento em activos fixos cresceu 4,2%, ligeiramente acima dos 4,1% previstos.
O investimento estrangeiro directo em Março continuou a cair, mas a um ritmo bastante mais lento de 10,8%, face aos 22% esperados e aos 20,4% do mês anterior.
A taxa de desemprego caiu de 5,4% para 5,2%, ficando abaixo dos 5,3% previstos.
No Japão, as atenções nas últimas duas semanas estiveram voltadas especialmente para a inflação, que saíram ora em linha com as expectativas, ora acima das mesmas, mantendo as probabilidades de mais subidas de taxas de juro por parte do Banco do Japão elevadas.
A inflação nacional mostrou uma subida do Índice de Preços do Consumidor (sem alimentos frescos), de 3,0% para 3,2% em linha com o esperado, com a inflação global a cair de 3,7% para 3,6%.
Uma semana depois, os dados da inflação da Zona de Tóquio, saíram acima das estimativas, com o índice de preços do consumidor global a subir de 2,9% para 3,5%, bem acima dos 3,1% estimados, e a medida mais seguida de perto pelo Banco do Japão, sem alimentos frescos, a subir de 2,4% para 3,4%, bem acima dos 3,2% esperados.
Na Nova Zelândia, o foco esteve principalmente nos dados da inflação relativos ao primeiro trimestre deste ano.
Em termos trimestrais, os preços mostraram um aumento de 0,9%, acima dos 0,7% esperados, acelerando dos 0,5% mostrados no trimestre anterior, onde a inflação em termos anuais subiu de 2,2% para 2,5%, ficando acima dos 2,4% estimados pelo mercado.
Os números da balança comercial do mês de Março mostraram um excedente de 970 milhões de dólares neozelandeses, bem acima dos 30 milhões esperados, após os 392 milhões, revistos em baixo, apresentados no mês anterior.
Tivemos ainda o índice de serviços BusinessNZ, que subiu de 49,0 (revistos em baixo) para 49,1, ficando abaixo dos 49,5 esperados.
Na Austrália, as atenções foram para os dados do mercado de trabalho, divulgados na semana antes da Páscoa.
A taxa de desemprego de Março subiu de 4,0%, revista em baixo, para 4,1%, abaixo dos 4,2% previstos, com a taxa de participação a subir de 66,7% (revista em baixo) para 66,8%.
Em Março houve um aumento de 32,2 mil postos de trabalho, ficando abaixo das estimativas de 41,2 mil, após a queda revista em alta de 57,4 mil empregos no mês anterior. O número de postos de trabalho a tempo inteiro aumentou em 15 mil, abaixo dos 20 mil esperados, e a tempo parcial 17,2 mil.
Os dados da actividade económica privada, PMI, mostraram um recuo do mês anterior, com o índice manufactureiro a cair de 52,1 para 51,7 e o de serviços de 51,6 para 51,4.
Os Bancos Centrais
O Banco Central Europeu, como esperado, cortou as suas taxas directoras em 25 pontos base, com a taxa de depósito a cair de 2,50% para 2,25%. O BCE adoptou um tom moderado, observando os riscos negativos para o crescimento e minimizando os riscos positivos para a inflação. Isto foi ainda realçado por Christine Lagarde durante a conferência de imprensa, dizendo que "estamos a enfrentar um choque negativo da procura" da guerra comercial de Trump e, portanto, que o consenso dentro do Conselho do BCE considera as tarifas como um factor de amortecimento para a perspectiva de inflação a médio prazo. O BCE retirou da sua declaração de política monetária a frase "tornando-se significativamente menos restritiva", com Lagarde a referir-se à redacção anterior como sendo sem sentido, dada a incerteza actual sobre a taxa neutra e a persistência de recentes impulsionadores das condições financeiras. Os dados que irão sendo recebidos orientarão o BCE na sua avaliação sobre como proceder no ambiente actual numa abordagem de reunião a reunião.
O Banco do Canadá decidiu manter a sua taxa de juro directora inalterada em 2,75%. O BoC disse que a imprevisível política tarifária dos EUA alimentou a incerteza, reduziu as perspectivas de crescimento económico e aumentou as expectativas de inflação. O banco central sublinhou que as tensões comerciais globais, particularmente entre os Estados Unidos e o Canadá, estão a reduzir a confiança dos consumidores e das empresas e a obstruir a recuperação do mercado de trabalho no país. "Os membros do BoC continuarão a avaliar o momento e a intensidade das pressões descendentes sobre a inflação, provenientes de uma economia mais fraca, e das pressões ascendentes sobre a inflação, provenientes de custos mais elevados. O nosso foco será garantir que os canadianos continuem confiantes na estabilidade dos preços durante este período de turbulência global. Isto significa que apoiaremos o crescimento económico, garantindo ao mesmo tempo que a inflação se mantém bem controlada", observou o banco central no relatório.
O Banco Central da Turquia aumentou inesperadamente a sua principal taxa de juro de recompra a uma semana de 42,5% para 46%.
Desde o colapso do mercado turco desencadeado pela detenção do mais importante e popular rival do Presidente Erdogan, Ekrem Imamoglu, o banco central suspendeu, numa reunião de emergência, a facilidade de recompra como fonte de financiamento. Desde então, passou a oferecer financiamento através da facilidade de empréstimos overnight, que na altura foi aumentada para 46% e agora novamente para 49%. Portanto, só se a linha de recompra de uma semana continuar fechada é que esta decisão implicará um movimento de aperto monetário de 3 pontos percentuais.
Mercados accionistas
Durante a época da Páscoa, os investidores viveram duas semanas de alguma volatilidade nos mercados, mas que terminaram, no geral, em terreno positivo. O alívio veio do abrandamento na intensificação da guerra comercial liderada por Donald Trump, apesar dos avanços e recuos que marcaram a sua postura ao longo dos últimos dias.
Na Ásia, o cenário foi de otimismo, com as ações no Japão a registarem desempenhos significativos. Notícias que indicam que um acordo comercial com os Estados Unidos pode estar iminente ajudaram a impulsionar os índices japoneses. O índice Nikkei, principal referência do Japão, subiu 2,81%, enquanto o Topix avançou 2,69%.
Na China, o impacto da trégua nas tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China foi notório, embora os ganhos tenham sido mais moderados. O índice CSI 300 registou um ganho de 0,38%, enquanto o Shanghai Composite subiu 0,56%. Por outro lado, o Hang Seng, de Hong Kong, teve um desempenho mais robusto, subindo 2,74%.
Na Austrália, o índice ASX 200 subiu 1,91%, e na Coreia do Sul, o Kospi avançou 2,53%. Na Índia, o otimismo também esteve presente, com o índice Nifty 50 a subir 0,79% e o Sensex a avançar 0,84%.
Em suma, a pacificação temporária da guerra comercial ajudou a dar um impulso aos mercados asiáticos, com várias bolsas a registarem ganhos durante a semana, embora a volatilidade continue a ser um fator a ser monitorizado pelos investidores.
Na Europa, os mercados acionistas receberam um impulso adicional com mais um corte nas taxas de juro pelo Banco Central Europeu (BCE), aliado às expectativas de que novos cortes possam ocorrer no futuro próximo. A decisão do BCE, juntamente com a suspensão temporária das tarifas previamente anunciadas por Donald Trump, ajudou a aumentar a confiança dos investidores, contribuindo para um ambiente de maior otimismo nos mercados europeus.
Na última semana, o índice Euro Stoxx 600 registou um avanço de 2,77%, enquanto o Euro Stoxx 50 subiu 4,47%. O índice alemão DAX foi o maior vencedor entre os índices europeus, com uma subida de 4,89%. O CAC 40, de França, também apresentou um bom desempenho, subindo 3,44%, enquanto o FTSE 100 do Reino Unido teve um crescimento mais moderado de 1,69%.
Em Portugal, o índice PSI acompanhou a tendência positiva, registando uma valorização de 3,07%, refletindo o otimismo generalizado nos mercados acionistas europeus.
O ambiente de confiança crescente, impulsionado pelas políticas monetárias do BCE e pela redução das tensões comerciais, continua a ser favorável para os mercados europeus, que observam com atenção as próximas decisões económicas a nível global.
Após uma semana de perdas antes da Páscoa, os mercados acionistas norte-americanos registaram uma recuperação significativa nesta última semana. A recuperação foi impulsionada por resultados empresariais que superaram as estimativas do mercado, pelo abrandamento das tensões comerciais com os outros países e pelos sinais de possível alívio monetário por parte de alguns membros da Reserva Federal.
Os principais índices de Wall Street registaram ganhos expressivos nesta última semana. O índice Dow Jones subiu 2,48%, enquanto o S&P 500 avançou 4,59%. O Nasdaq, por sua vez, liderou os ganhos, disparando 6,73%, refletindo o optimismo dos investidores, especialmente no sector tecnológico.
Gráfico Fonte XTB xStation 5
Mercado cambial
Nas últimas duas semanas o mercado cambial viveu momentos de forte descrédito pelo dólar norte-americano, levando-o para mínimos dos últimos anos. As ameaças de Donald Trump a Jerome Powell e a pressão feita sobre o banco central norte-americano para que reduza as suas taxas de juro, levou os mercados a colocar em dúvida a capacidade de independência da Reserva Federal, levando a fortes vendas do activo “América” lideradas pelo dólar e pelas Treasuries.
O índice do dólar, DXY, atingiu um mínimo abaixo dos 98,00, o que não sucedia desde Março de 2022.
A fuga ao dólar veio beneficiar outras moedas de refúgio, como o franco suíço e o iene japonês, além do euro que beneficiou ainda da sua maior liquidez, a segunda maior a seguir ao dólar norte-americano.
O EUR/USD registou um máximo bem acima de 1,1500 (1,1573), o que não sucedia desde Novembro de 2021, terminando a semana a negociar a 1,1364, em máximos de mais de três anos.
O franco suíço, fruto da sua qualidade de moeda de refúgio, no auge da aversão ao risco, atingiu máximos de décadas, com o USD/CHF a cair até 0,8040, nível que não se registava desde Setembro de 2011. A semana terminou a negociar a 0,8278.
Face ao euro, manteve-se a negociar perto dos recentes mínimos de sempre, com o EUR/CHF a ter atingido um mínimo de 0,9276, para terminar a semana a 0,9405.
O iene registou também fortes valorizações, como mais uma divisa de refúgio dos mercados. No início da semana, o USD/JPY chegou a atingir um mínimo abaixo de 140,00 (139,89) para recuperar até um máximo de 144,03, tendo terminado a semana a 143,68. Já o EUR/JPY manteve-se a negociar num intervalo relativamente apertado nestas últimas semanas, entre um mínimo de 160,98 e um máximo de 163,76.
A libra registou duas semanas de valorizações, tanto face ao dólar como face ao euro. Um posicionamento mais favorável na exposição às tarifas norte-americanas, face ao euro, sinais de alguma resiliência económica relativamente à moeda única e com um Banco de Inglaterra mais hawkish que o Banco Central Europeu, contribuíram para a recente recuperação da libra.
O cable atingiu um máximo do ano a 1,3424, a uns meros 10 pontos abaixo do máximo de 2024, que se ultrapassado teríamos de recuar até Fevereiro de 2022 para atingirmos um nível semelhante. A semana terminou a negociar a 1,3311.
Face ao euro, depois de há três semanas, o EUR/GBP ter atingido um máximo do último ano e meio a 0,8738, o preço caiu nestas últimas duas semanas até um mínimo de 0,8511, terminando esta semana a 0,8536.
Nos mercados emergentes, a lira turca destaca-se pela negativa e o real brasileiro pela positiva.
A lira turca, apesar de mais um aumento de taxas de juro por parte do seu banco central, continua a sofrer após a detenção do principal opositor de Erdogan.
Nesta última semana, a lira turca perdeu perto de 2% tanto face ao dólar como face ao euro, tendo registado um novo máximo de sempre face ao euro ao negociar a 44,30.
O real brasileiro ganhou esta semana um pouco mais de 2%, tanto face ao dólar como face ao euro. Fortes fluxos de exportação de commodities reforçaram a posição externa do Brasil. A redução de 90% nas importações de petróleo bruto dos Estados Unidos reportada pela China redirecionou as remessas de petróleo e soja transportadas por via marítima para os produtores brasileiros, enquanto os preços do minério de ferro subiram devido à reactivação da procura chinesa. O apelo do vice-presidente Geraldo Alckmin para um envolvimento paralelo com Washington e Pequim tranquilizou os exportadores e renovou o ímpeto do acordo comercial Mercosul-UE, há muito estagnado, reforçando a confiança na estrutura macroeconómica do Brasil, proporcionando mais suporte à moeda.
Gráfico Fonte XTB xStation 5
Commodities
Petróleo
Preços do petróleo estabilizam apesar de revisões em baixa da procura.
Após terem atingido mínimos de quatro anos, os preços do petróleo estabilizaram nas últimas duas semanas, registando uma recuperação sólida. O Brent avançou 3,5% e o WTI ganhou 3,8% nesse período, apoiados por sinais de procura resiliente e por expectativas de que a oferta se mantenha controlada.
Esta recuperação ocorreu apesar das revisões em baixa das previsões de crescimento da procura mundial de petróleo.
A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) reduziu ligeiramente as suas projeções, antecipando agora um crescimento de 1,3 milhões de barris por dia em 2025 e 1,28 milhões em 2026, alertando para o aumento da incerteza, sobretudo devido ao impacto das tarifas norte-americanas na economia global.
Já a Agência Internacional de Energia (AIE) foi ainda mais prudente, cortando 300 mil barris por dia às suas previsões para 2025, para um crescimento de apenas 726 mil barris diários, descendo para 692 mil em 2026. A AIE reforçou a expectativa de um excedente de oferta nos próximos anos, embora tenha minimizado o impacto do recente aumento de produção da OPEP+, dado que muitos produtores já operavam acima das suas quotas.
Apesar destes cortes nas projeções, o mercado manteve-se firme, impulsionado por uma procura robusta nos sectores da aviação e da mobilidade rodoviária, factores que continuam a dar suporte aos preços do crude.
Gráfico Fonte XTB xStation 5
Ouro
Ouro atingiu máximos históricos antes de corrigir.
Na semana anterior à Páscoa, a forte aversão ao risco e a quebra de confiança nos activos norte-americanos levaram os investidores a procurar refúgio no ouro.
Rumores de que Donald Trump estaria a considerar afastar o presidente da Reserva Federal, Jerome Powell, aumentaram ainda mais a procura pelo metal precioso, fazendo disparar o seu preço para um novo máximo histórico de 3500 dólares por onça.
Contudo, a confirmação de Trump de que não pretendia demitir Powell, aliada a um abrandamento no discurso sobre tarifas, especialmente em relação à China, restaurou parte da confiança dos mercados. Como resultado, o ouro recuou dos máximos históricos, terminando a última semana a negociar nos 3307 dólares por onça.
No balanço das duas últimas semanas, o ouro acumulou ainda assim uma valorização de cerca de 2,6%.
Gráfico Fonte XTB xStation 5