Semana Revista
Tarifas, resultados e dados económicos

A semana foi marcada pela divulgação de dados económicos relevantes na Zona Euro e nos EUA, com os mercados atentos às negociações de tarifas comerciais e na apresentação de resultados empresariais.
A semana foi marcada por uma intensa agenda de divulgação de dados económicos relevantes, tanto na Zona Euro como nos Estados Unidos, num contexto em que os mercados mantiveram o foco nas negociações em torno das tarifas comerciais e na apresentação de resultados empresariais.
Na Zona Euro, a economia cresceu 0,4% no primeiro trimestre do ano. Entre as principais economias, Espanha destacou-se com um aumento de 0,6%, enquanto França e Países Baixos registaram crescimentos mais modestos, de apenas 0,1%. A Alemanha apresentou uma subida de 0,2% e a Itália superou as expectativas ao crescer 0,3%. Portugal registou uma contracção de 0,5%, representando a maior queda trimestral desde a crise pandémica. A Irlanda, influenciada pelo peso das multinacionais norte-americanas, registou um crescimento de 3,2%, contribuindo com 0,1 pontos percentuais para o crescimento global do PIB da Zona Euro.
A inflação manteve-se estável nos 2,2% em Abril, contrariando as previsões dos analistas e reforçando a incerteza quanto ao ritmo de descida dos preços no bloco europeu.
A economia dos Estados Unidos registou uma contração de 0,3% no primeiro trimestre de 2025, a primeira queda do PIB desde 2022. Este recuo foi principalmente causado por um forte aumento das importações, devido à antecipação das tarifas comerciais impostas pela administração Trump, o que levou o défice comercial a valores recorde.
Apesar desta contracção, o consumo das famílias cresceu 1,8% e o investimento empresarial manteve-se robusto, mas os cortes nos gastos do governo federal também contribuíram para a travagem da economia. A inflação manteve-se estável em Março, segundo o indicador preferido da Reserva Federal.
No mercado de trabalho, os Estados Unidos continuaram a criar emprego, com 177 mil novos postos em Abril e uma taxa de desemprego estável nos 4,2%, apesar de um ligeiro abrandamento face ao mês anterior.
Em resumo, a economia americana começou o ano com dificuldades, reflectindo o impacto das políticas comerciais e a incerteza sentida por empresas e consumidores.
No plano internacional, Donald Trump deu sinais de abrandar a sua postura na guerra comercial, enquanto a China se mostrou disponível para avaliar propostas de negociação apresentadas pelos EUA, embora condicione o diálogo à revisão de certas práticas e ao levantamento de tarifas por parte de Washington.
No Canadá, Mark Carney foi eleito primeiro-ministro de um governo minoritário, numa conjuntura marcada pelas tensões comerciais com os Estados Unidos e pela promessa de políticas económicas orientadas para a redução de tarifas e o apoio a sectores estratégicos.
Na Ucrânia, Volodymyr Zelensky aceitou um acordo com os Estados Unidos para a exploração de minerais raros, numa estratégia que visa reduzir a dependência americana da China e criar oportunidades de investimento e reconstrução para a economia ucraniana.
No plano empresarial, os investidores acompanharam atentamente a divulgação dos resultados do primeiro trimestre, com várias empresas a apresentarem desempenhos robustos e a superarem as expectativas do mercado, refletindo alguma resiliência face ao contexto de incerteza global.
Em suma, a semana ficou marcada por uma conjugação de factores económicos, políticos e empresariais que influenciaram o sentimento dos mercados, num ambiente de elevada volatilidade e expectativa quanto à evolução das negociações comerciais e à trajectória da inflação e do crescimento económico nas principais economias mundiais.
Trimestre marcado por lucros resilientes, cortes de custos e impacto das tarifas.
O primeiro trimestre de 2025 continua marcado por um desempenho misto das grandes empresas globais, num cenário de crescentes incertezas económicas e geopolíticas. Apesar da pressão exercida pelas tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos e pela desaceleração do consumo em alguns mercados, muitas empresas conseguiram apresentar resultados acima das expectativas, graças a estratégias de contenção de custos, aumento de preços e aposta em áreas com maior margem de crescimento.
Nos sectores tecnológico e financeiro, os resultados foram, em geral, positivos. Empresas como Microsoft, Meta e Visa superaram as previsões de lucro, beneficiando da procura por serviços digitais, inovação em inteligência artificial e aumento no volume de pagamentos. A banca europeia também surpreendeu pela positiva, com lucros robustos impulsionados pelo trading e pela volatilidade dos mercados.
Já na indústria farmacêutica e da saúde, houve sinais de solidez. Várias empresas do sector conseguiram proteger margens com cortes de despesas e bom desempenho de medicamentos-chave. Por outro lado, gigantes como a Moderna e a Humana reforçaram a aposta em reestruturações e ajustes operacionais para manter a rentabilidade.
Porém, nem todos os sectores escaparam ilesos. Empresas mais expostas ao consumo discricionário e ao comércio internacional, como a Apple, Amazon, Estée Lauder e Harley-Davidson, enfrentaram dificuldades. O impacto das tarifas dos EUA, em especial, levou algumas destas companhias a reverem previsões, ajustarem planos de produção e até suspenderem projecções financeiras.
Apesar dos sinais de resiliência, a incerteza quanto ao rumo da política comercial americana, a instabilidade económica na China e os custos operacionais crescentes continuam a dominar o discurso empresarial. Muitas empresas mantêm-se prudentes nas projecções para o resto do ano, num contexto onde eficiência interna e adaptação a novos mercados parecem ser os pilares para enfrentar os próximos meses.
Dados Económicos
Nos Estados Unidos, tivemos uma semana bastante preenchida de dados económicos relevantes, onde as atenções estiveram voltadas principalmente para os dados do crescimento económico e do mercado de trabalho.
Com um primeiro dia praticamente vazio de dados, a semana começou verdadeiramente na terça-feira onde os primeiros dados do emprego revelaram a primeira surpresa, com as vagas de emprego JOLTS a baixarem de 7,48 milhões (revistas em baixo) para 7,19 milhões, o nível mais baixo desde Setembro. O indicador de confiança do consumidor da Conference Board caiu para um mínimo de quase cinco anos ao baixar de 93,9 (revistos em alta) para 86,0, bem abaixo dos 87,4 esperados. O índice de preços das casas S&P/Case-Shiller de Fevereiro desacelerou um pouco mais do que o esperado de 4,7% para 4,5%, a balança comercial de bens do mês de Março mostrou um défice de 162 mil milhões de dólares, maior do que os 143,7 mil milhões de dólares esperados e os números preliminares dos inventários grossistas mostraram um aumento de 0,5%, melhor do que os 0,6% estimados.
Na quarta-feira foi mais um dia de surpresas. Os números do PIB do primeiro trimestre deste ano mostraram que a economia norte-americana contraiu pela primeira vez desde 2022. Em termos trimestrais a economia contraiu 0,3%, face a um crescimento esperado de 0,4% e caindo dos 2,4% do último trimestre de 2024. Os rendimentos pessoais desaceleraram de 0,8% para 0,5%, acima dos 0,4% esperados, e as despesas pessoais cresceram de 0,5% para 0,8%, bem acima dos 0,4% estimados. O Core PCE Price Index relativo ao primeiro trimestre subiu de 2,6% para 3,5%, bem acima dos 3,3% esperados. No mercado de trabalho, os números do emprego privado ADP mostraram uma queda de 147 mil revistos em baixo no mês de Março, para 62 mil, bem abaixo dos 123 mil previstos. O Índice de Custo do Emprego relativo ao primeiro trimestre de 2025, manteve o crescimento de 0,9% do trimestre anterior. Os números das vendas pendentes de casas surpreenderam positivamente os mercados ao mostrarem um aumento de 6,1%, bem acima do aumento de 2,3% do mês anterior e dos 0,9% esperados, enquanto o índice Chicago PMI caiu de 47,6 para 44,6, ficando abaixo do consenso que apontava para 45,9.
Na quinta-feira foi dia de ISM manufactureiro que saiu acima do esperado pelos mercados, com o índice a cair ligeiramente de 49 para 48,7, face aos receios de uma queda maior para 48,0. Os seus subcomponentes foram também melhor do que o esperado, com os preços a subirem de 69,4 para 69,8, abaixo dos 72,9 estimados, o emprego a subir de 44,7 para 46,5 e as novas encomendas de 45,2 para 47,2. O PMI manufactureiro da S&P Global foi revisto em baixo, de 50,7 para 50,2, e os habituais números semanais dos novos pedidos de subsídio de desemprego subiram em 18 000 pedidos, de 223 mil da semana anterior para 241 mil, começando a mostrar o impacto dos despedimentos.
Finalmente, no último dia da semana tivemos os tão esperados números do mercado de trabalho. A economia norte-americana conseguiu acrescentar 177 mil novos postos de trabalho, surpreendendo os mercados que esperavam por um aumento de 130 mil, mas onde o número do mês de Março foi revisto em baixo de 228 mil para 185 mil. A taxa de desemprego manteve-se nos 4,2% e a taxa de participação subiu de 62,5% para 62,6%. O crescimento médio salarial subiu 0,2%, desacelerando dos 0,3% do mês anterior. Tivemos ainda os números das encomendas às fábricas do mês de Março, que mostraram um crescimento mensal de 4,3%, acima dos esperados 4,2%.
Na Zona do Euro as atenções estiveram também voltadas para os dados do crescimento económico e para a inflação.
Os dados nacionais do PIB relativos ao primeiro trimestre das principais economias europeias saíram em linha com as estimativas. Em Espanha, o PIB mostrou um crescimento de 0,6%, ligeiramente abaixo dos 0,7% estimados, em França mostrou um crescimento em linha com o esperado (0,1%), tal como na Alemanha (0,2%) e em Itália (0,2%). Por fim, o agregado da Zona Euro surpreendeu ao mostrar um crescimento de 0,4%, acima das estimativas que apontavam para 0,2%, em linha com o trimestre anterior, com a medida anual a manter-se também nos 1,2%, acima dos 0,9% estimados.
Os preços no agregado da Zona Euro, em Abril, subiram mais do que o esperado pelos mercados. Em termos mensais aumentaram 0,6%, em linha com o mês anterior, com a inflação anual a manter-se nos 2,2%, ficando acima dos 2% previstos e com a inflação subjacente a subir de 2,4% para 2,7%, acima dos 2,5% estimados. Mas antes, já os números a nível nacional tinham dados sinais de um aumento dos preços acima das estimativas iniciais do mercado. Em Espanha, a inflação anual caiu de 2,3% para 2,2%, bem menos do que os 2% apontados pelo consenso. Em França, em termos mensais, os preços aumentaram 0,5%, mais do que os 0,4% esperados e dos 0,2% no mês anterior. Na Alemanha, depois da queda de 0,2% do mês anterior, subiram este mês 0,2%, em linha com as estimativas. Em Itália, os preços mostraram uma desaceleração para 0,2%, em linha com as estimativas, mas caindo de um aumento revisto em alta para 0,3% no mês anterior.
Os números preliminares do PMI manufactureiro foram revistos em alta de 48,7 para 49,0, onde ficaram os números finais.
A taxa de desemprego no mês de Março da Zona Euro foi de 6,2%, o mesmo nível do mês anterior, revista em alta de 6,1% para 6,2%.
A taxa de desemprego em Espanha subiu de 10,6% para 11,4%, bem acima dos 10,7% previstos, na Alemanha manteve-se nos 6,3% e em Itália subiu de 5,9% para 6,0%.
Na Alemanha, o indicador de confiança do consumidor GfK subiu inesperadamente de -24,3, revisto em alta, para -20,6, bem acima dos -25,6 apontados pelo consenso, e as vendas a retalho caíram 0,2%, menos do que os 0,4% esperados, mas com o aumento do mês anterior a ser revisto em baixo de 0,8% para 0,2%.
Em França, as despesas do consumidor caíram 1%, após a queda de 0,2% do mês anterior e de uma esperada estagnação deste mês.
No Reino Unido tivemos uma semana ligeira de dados económicos.
O Índice de Preços das Casas Nationwide caiu 0,6%, mais do que os 0,1% esperados, a aprovação de hipotecas saíram em linha com as 64 mil esperadas e os empréstimos líquidos a particulares aumentaram inesperadamente dos 4,6 mil milhões de libras para 13,8 mil milhões, bem acima dos 4,4 mil milhões estimados.
No Canadá foi também uma semana tranquila, com as atenções a estarem principalmente na divulgação dos dados do crescimento económico.
Os números do PIB de Fevereiro mostraram uma contracção de 0,2%, face a uma estagnação esperada, após o crescimento de 0,4% no mês anterior, com os números preliminares de Março, por outro lado, a mostrarem um crescimento de 0,1%, contrariando as previsões de uma contracção de 0,6%.
O PMI manufactureiro caiu de 46,3 para 45,3 abaixo do apontado pelo consenso de mercado de 46, ficando ainda mais em terreno de contracção.
Na Suíça, começamos por ter a divulgação do Barómetro Económico KOF que mostrou uma queda de 103,2 (revista em baixo) para 97,1, o nível mais baixo desde Novembro de 2023 e bem abaixo do consenso que apontava para 101,8.
Os números das vendas a retalho do mês de Março mostraram um aumento mensal de 0,6%, acima dos 0,3% estimados e após uma redução revista em alta no mês anterior de 1,3%, com a medida anual a subir de 1,2% (revista em baixo) para 2,2%, também acima das previsões de 1,9%.
O PMI manufactureiro caiu de 48,9 para 45,8, bem abaixo do consenso de mercado que apontava para 48,7.
Na China, a semana começou com a divulgação dos lucros industriais que aumentaram 0,8% nos primeiros três meses de 2025, recuperando de uma queda anterior de 0,3%, com os lucros do sector privado a caírem 0,3%, uma queda muito mais suave do que a de 9,0% no período anterior.
Foi semana de PMIs que mostraram o impacto da escalada da guerra comercial entre os Estados Unidos e a China. O índice geral oficial mostrou uma queda de 51,4 para 50,2, ainda assim melhor do que o esperado pelo mercado de 49,5. Tanto a actividade manufactureira como a de serviços mostraram quedas, ficando abaixo das previsões do mercado. O PMI manufactureiro caiu de 50,5 para 49, um mínimo dos últimos dois anos, abaixo dos 49,9 estimados. O PMI de serviços caiu de 50,8 para 50,4, abaixo dos 50,7 esperados, mas manteve-se em expansão.
O índice manufactureiro privado da Caixin (que tem uma cobertura mais forte das empresas orientadas para a exportação) também caiu, mas menos do que o esperado, de 51,2 para 50,4, acima dos 49,9 estimados, ficando em terreno de expansão.
No Japão, os números preliminares da produção industrial de Março mostraram uma queda de 1,1%, maior do que a prevista de 0,5%, após o aumento anterior de 2,3%.
As vendas a retalho aumentaram 3,1%, um crescimento abaixo dos 3,6% esperados, ainda assim acelerando dos 1,3% mostrados em Fevereiro.
Já os números do início de construção de casas surpreenderam pela positiva, ao crescerem 39,1%, bem mais do que os 0,9% estimados e os 2,4% do mês anterior.
Por outro lado, o índice de confiança do consumidor caiu mais do que o estimado pelos mercados, de 34,1 para 31,2, face aos 33,9 esperados.
Por fim, tivemos a taxa de desemprego do mês de Março que subiu de 2,4% para 2,5%, contrariando as previsões que apontavam para que se mantivesse inalterada nos 2,4%.
Na Nova Zelândia foi uma semana bastante tranquila, onde tivemos a divulgação do indicador de confiança empresarial ANZ, que caiu de 57,5 para 49,3 (ligeiramente abaixo dos 50 esperados, ficando em terreno de contracção) e ainda os números das licenças de construção de Março, que surpreenderam os mercados ao aumentarem 9,6%, bem acima das estimativas que apontavam para 2,9% e após o aumento de 0,7% do mês anterior.
Na Austrália as atenções voltaram-se principalmente para os dados da inflação do primeiro trimestre deste ano, que foi um pouco mista, mas não alterou as expectativas do mercado de que o Reserve Bank of Australia continuaria com um segundo corte de taxas de 25 pontos base na reunião deste mês de Maio. Os preços em termos trimestrais mostraram um aumento de 0,9%, ligeiramente acima dos 0,8% esperados, onde a inflação anual se manteve nos 2,4%, contrariando previsões de uma queda para 2,2%. A medida mais seguida pelo banco central, que exclui 30% dos itens mais voláteis, mostrou um aumento trimestral de 0,7%, acima dos 0,6% estimados, acelerando dos 0,5% do trimestre anterior, com a medida em termos anuais a cair de 3,3% (revisto em alta) para 2,9% (acima dos 2,8% estimados). O Índice de Preços do Consumidor de Março mostrou um aumento de 2,4% em termos homólogos, em linha com o mês anterior e acima dos 2,3% esperados pelo mercado.
A balança comercial de bens de Março mostrou um excedente de 6,9 mil milhões de dólares australianos, bem acima dos 3,12 mil milhões estimados, após os 2,85 mil milhões revistos em baixo mostrados no mês anterior.
A semana terminou com os dados das vendas a retalho do mês de Março que aumentaram 0,3%, abaixo das previsões que apontavam para 0,4%, desacelerando do aumento do mês anterior, revisto em alta, de 0,8%, e ainda com o Índice de Preços no Produtor do primeiro trimestre que aumentou de 0,9% em termos trimestrais, acima dos 0,8% esperados e do trimestre anterior.
Os Bancos Centrais
O Banco do Japão manteve a sua taxa de juro inalterada a 0,50%, como amplamente esperado pelo mercado.
O governador Kazuo Ueda alertou para o elevado nível de incerteza nos mercados financeiros globais, principalmente devido ao impacto potencial das tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos. Ueda sublinhou que, embora a economia japonesa esteja a recuperar de forma moderada, o crescimento deverá abrandar nos próximos trimestres, reflectindo os efeitos de uma desaceleração global e da incerteza sobre o comércio internacional.
Em termos de política monetária, o responsável referiu que a taxa real continua significativamente baixa e que, caso a economia e a evolução dos preços sigam as projecções do banco central, é esperado que o BoJ continue gradualmente a subir as taxas de juro. No entanto, o timing de futuras subidas poderá depender fortemente do desenrolar das negociações comerciais e da evolução das tarifas.
Ueda mostrou-se cauteloso quanto à possibilidade de alterações abruptas na inflação e no crescimento económico, destacando que mudanças significativas nas políticas tarifárias poderão obrigar o banco a rever o rumo da política monetária. Ainda assim, reiterou o compromisso do BoJ com a meta de inflação, que poderá ser alcançada entre o final do ano fiscal de 2026 e o de 2027.
Apesar da incerteza, Ueda destacou sinais positivos no consumo interno e no mercado de trabalho japonês, afirmando que a economia permanece em boa forma com base nos dados disponíveis. O banco central continuará atento aos movimentos nos mercados financeiros e cambiais e manterá uma abordagem flexível, de forma a garantir uma trajectória estável e sustentável da economia.
Mercados accionistas
Abril encerra em queda nos mercados globais, sob tensão geopolítica e tarifas comerciais.
O mês de Abril de 2025 foi dominado pela instabilidade nos mercados financeiros, num ambiente marcado por fortes tensões geopolíticas e por uma escalada abrupta nas políticas tarifárias internacionais. O arranque do mês coincidiu com o chamado “Dia da Libertação”, data que ficou assinalada pela imposição de tarifas comerciais por parte dos Estados Unidos a diversos países, em níveis não observados há quase um século. As tarifas recíprocas começaram nos 10%, mas atingiram máximos de 145% em relação à China e a outras economias asiáticas, ameaçando travar o comércio global.
Face à deterioração rápida do sentimento de mercado, os receios sobre a sustentabilidade da actividade económica internacional intensificaram-se. A percepção de risco sobre o activo “América” levou a uma correção expressiva nos mercados accionistas, travada apenas por uma suspensão temporária, de 90 dias, das novas tarifas, que ajudou a atenuar a pressão vendedora e permitiu alguma recuperação no final do mês.
Ainda assim, os principais índices accionistas mundiais registaram, em geral, um desempenho negativo em Abril, marcado por uma elevada volatilidade.
Nos Estados Unidos, o índice Dow Jones liderou as perdas com uma queda de 3,17%, enquanto o S&P 500 recuou 0,76%, depois de ter recuperado parte das perdas mais acentuadas registadas a meio do mês. O Nasdaq foi a excepção entre os principais índices norte-americanos, beneficiando da recuperação no sector tecnológico, encerrando com uma valorização marginal de 0,85%.
Na Europa, o panorama foi igualmente penalizador. O Euro Stoxx 600 caiu 1,21%, o Euro Stoxx 50 recuou 1,74% e o CAC 40, em França, liderou as perdas com uma queda de 2,53%. O FTSE 100, no Reino Unido, desvalorizou 1,02%. A excepção europeia foi a Alemanha, com o DAX a subir 1,50%, acompanhada por Portugal, cujo principal índice apresentou um ganho de 1,85%.
Já na Ásia, o comportamento foi mais resiliente, ainda que desigual. O Japão destacou-se positivamente com o Nikkei a avançar 1,20% e o Topix 0,32%. A Austrália registou um forte desempenho, com o ASX200 a valorizar 3,61%. Na Coreia do Sul e na Índia, os ganhos superaram os 3%. Por contraste, os mercados chineses registaram perdas expressivas: o CSI300 caiu 3,00%, o Shanghai Composite recuou 1,70% e o Hang Seng, de Hong Kong, afundou 4,33%, liderando as perdas entre os principais índices asiáticos.
A instabilidade reflectiu-se ainda nos níveis de volatilidade. O VIX, conhecido como o “índice do medo” de Wall Street, encerrou Abril com uma subida mensal de cerca de 11%. Durante o pico de tensão, o índice chegou a disparar mais de 100%, atingindo níveis próximos dos 60 pontos, valores não vistos desde os momentos mais críticos da pandemia.
O mês de Abril terminou, assim, com os mercados em compasso de espera, entre o alívio momentâneo da suspensão tarifária e a incerteza persistente sobre o rumo da política comercial global.
Esta semana, os mercados accionistas subiram com abrandamento das tensões comerciais e dados económicos positivos.
A semana ficou marcada por uma recuperação generalizada nos principais mercados accionistas mundiais, impulsionada por um abrandamento das tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China, e por indicadores económicos mais robustos do que o esperado. Apesar da menor liquidez nos mercados europeus e asiáticos, motivada pela interrupção provocada pelo feriado de 1 de Maio, o apetite pelo risco voltou a ganhar terreno, apoiado por uma postura mais moderada por parte de Donald Trump relativamente à política tarifária norte-americana.
Na Ásia, o sentimento dos investidores foi, em geral, positivo. O Japão destacou-se com o índice Nikkei a valorizar 3,15% e o Topix a subir 2,27%. A Austrália registou a melhor performance da região, com o ASX200 a avançar 3,39%. O mercado sul-coreano acompanhou o movimento, com o índice Kospi a subir 2,94%. Na Índia, o Nifty 50 valorizou 1,28% e o Sensex 1,63%. A excepção no continente asiático voltou a ser a China, onde os principais índices terminaram em terreno negativo: o Shanghai Composite e o CSI300 recuaram cerca de 0,45%.
Na Europa, a semana foi de ganhos expressivos, sustentados por dados de crescimento económico acima do esperado. Apesar da inflação ter saído ligeiramente acima das estimativas, o mercado reagiu de forma construtiva, interpretando os sinais como indício de resiliência económica. O índice Euro Stoxx 600 avançou 3,07% e o Euro Stoxx 50 subiu 2,52%. Na Alemanha, o DAX liderou os ganhos com uma valorização de 3,66%, seguido pelo CAC 40 francês, que cresceu 3,11%. O FTSE 100, no Reino Unido, avançou 2,15%. Já o PSI, em Portugal, teve um desempenho mais contido, encerrando a semana com uma subida marginal de 0,33%.
Nos Estados Unidos, os mercados mantiveram a trajectória de recuperação iniciada após as quedas de meados de Abril. A retórica menos agressiva da administração norte-americana em relação às tarifas, aliada a indicadores sólidos do mercado laboral e a resultados empresariais positivos, ajudou a sustentar o optimismo dos investidores. O índice Dow Jones subiu 3,00%, o S&P 500 avançou 2,92% e o Nasdaq liderou os ganhos com uma valorização de 3,42%.
Com a tensão comercial a aliviar e os dados macroeconómicos a surpreender pela positiva, os investidores voltaram a privilegiar o risco, num ambiente que poderá continuar volátil, mas que nesta fase mostrou sinais de estabilização.
Gráfico Fonte XTB xStation 5
Mercado cambial
Franco suíço lidera ganhos cambiais em Abril; dólar em queda generalizada.
O dólar norte-americano recuou 7,6% entre Março e Abril, pressionado pelo aumento das incertezas em torno das políticas económicas dos Estados Unidos, nomeadamente devido à imposição de tarifas recíprocas com países como a China, que atingiram níveis sem precedentes (até 145%). Apesar de parte dessas medidas ter sido adiada por 90 dias, o impacto nos mercados já se faz sentir, com os investidores a temerem um abalo duradouro na confiança global no activo “América”.
A crescente especulação sobre possíveis medidas extremas, como a demissão do presidente da Reserva Federal ou uma intervenção para enfraquecer o dólar, alimenta o receio de que a era da “excepcionalidade americana” esteja a chegar ao fim. A frágil posição fiscal dos EUA e a elevada exposição estrangeira a activos norte-americanos aumentam o risco de vendas significativas e de maior pressão sobre o dólar.
Embora os dados económicos concretos ainda não revelem deterioração acentuada, os indicadores de sentimento caíram fortemente, antecipando uma possível viragem nos dados do mercado laboral. Com a expectativa de três cortes de juros pelo Fed até ao final do ano, os analistas apontam para uma provável continuação da tendência de enfraquecimento do dólar nos próximos meses.
Os investidores procuraram alternativas mais seguras perante o aumento da incerteza em torno da política comercial dos Estados Unidos.
O franco suíço foi o grande vencedor do mês, reforçando o seu estatuto de moeda de refúgio. A moeda helvética valorizou cerca de 6,5% face ao dólar e 2% face ao euro, com o par USD/CHF a cair para 0,8263, o nível mais baixo desde Setembro de 2011.
Também o euro registou um desempenho sólido, apreciando-se quase 5% face ao dólar. O EUR/USD atingiu um novo máximo anual nos 1,1573, antes de consolidar perto de 1,1300. A moeda única foi a segunda mais forte do mês.
O iene japonês foi outra das moedas beneficiadas pela crescente aversão ao risco, motivada pelos anúncios de tarifas recíprocas por parte dos Estados Unidos no início do mês. O iene ganhou mais de 4% face ao dólar e manteve-se estável face ao euro, com o USD/JPY a recuar de 150,00 para 143,00, chegando a tocar os 139,89, o nível mais baixo do ano.
A libra esterlina valorizou frente ao dólar, com o par GBP/USD a subir de 1,2918 para 1,3332. No entanto, perdeu terreno face ao euro, com o EUR/GBP a atingir 0,8499. Apesar da valorização face ao dólar, a libra teve um desempenho inferior à maioria das divisas do G10, com apenas o dólar australiano e a coroa norueguesa a registarem ganhos mais modestos.
Nos mercados emergentes, o rand sul-africano e a lira turca destacaram-se pelas perdas, enquanto o peso mexicano registou uma valorização expressiva.
O rand teve um mês marcado por forte volatilidade, penalizado pelas tarifas de 30% impostas pelos EUA sobre importações da África do Sul, entretanto suspensas por 90 dias. A instabilidade política interna, com desacordos no Governo sobre um possível aumento do IVA, agravou a pressão sobre a moeda, que perdeu mais de 6% face ao euro e cerca de 2% face ao dólar.
A lira turca também sofreu perdas, caindo mais de 6% face ao euro e 1,5% face ao dólar, apesar da intervenção do banco central com subida de juros. A instabilidade política voltou a pesar, nomeadamente após a prisão de um importante opositor do presidente Erdogan.
Já o peso mexicano destacou-se pela positiva, com ganhos superiores a 4% face ao dólar. A ausência de medidas comerciais mais duras por parte dos EUA esperadas pelos mercados em relação ao México e os sinais de diálogo positivo entre os líderes dos dois países ajudaram a sustentar a moeda.
Na semana que marcou o final de Abril e o início de Maio, os mercados cambiais registaram uma volatilidade moderada, com a generalidade das moedas a negociar num padrão de consolidação. Entre os principais destaques estiveram o dólar australiano, que apresentou um desempenho positivo, e o iene japonês, que se destacou pela negativa. Nos mercados emergentes, o rand sul-africano recuperou parte do terreno perdido.
O dólar australiano valorizou cerca de 1%, beneficiando de um ambiente mais favorável ao risco nos mercados financeiros. O par EUR/AUD recuou de 1,7800 para cerca de 1,7530, enquanto o AUD/USD manteve-se relativamente estável, a oscilar entre 0,6400 e 0,6500.
Em contraciclo, o iene japonês foi penalizado pelo mesmo apetite ao risco, agravado pela decisão do Banco do Japão de manter a taxa de juro inalterada e por uma comunicação mais dovish do que o esperado. O USD/JPY, que chegou a descer abaixo dos 142,00, terminou a semana novamente em torno dos 145,00. Já o EUR/JPY manteve-se estável em torno de 164,00.
Nos mercados emergentes, o rand sul-africano recuperou entre 1,5% e 2% face às principais moedas, apoiado pela melhoria do sentimento global de risco, após um mês de Abril marcado por fortes perdas.
Gráfico Fonte XTB xStation 5
Commodities
Petróleo
Petróleo sofre forte queda em Abril, pressionado por tensões comerciais e sinais de aumento de produção da OPEP+
O mês de Abril foi particularmente negativo para o mercado do petróleo, com os preços a registarem uma queda acentuada de 18%, a maior desvalorização mensal desde Novembro de 2021. Tanto o Brent como o WTI sofreram perdas expressivas, num contexto de crescentes incertezas económicas e decisões estratégicas por parte dos principais países produtores.
O Brent, referência global, iniciou o mês a negociar perto dos $74,60 por barril, mas encerrou em mínimos de $61,10, depois de ter tocado um novo mínimo do ano nos $58,40, valor que não se via desde Fevereiro de 2021. Já o WTI, benchmark norte-americano, caiu de $71,40 no início de Abril para $58,20 no final do mês, após atingir um mínimo mensal nos $55,15.
O principal catalisador desta pressão vendedora foi a Arábia Saudita. Riade deu sinais claros de que não pretende continuar a sustentar os preços através de novos cortes na produção e manifestou-se preparada para lidar com um período prolongado de preços mais baixos. Logo no início do mês, os sauditas impulsionaram um aumento de produção acima do previsto para Maio, no âmbito da aliança OPEP+. Vários membros do grupo deverão propor uma nova aceleração dos aumentos já na reunião de Junho.
Simultaneamente, as tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China agravaram o sentimento nos mercados. A imposição de tarifas generalizadas sobre importações por parte dos EUA, a 2 de Abril, seguidas de medidas retaliatórias por Pequim, reacenderam o receio de uma guerra comercial entre os dois maiores consumidores mundiais de petróleo.
As perspectivas de abrandamento da economia global, aliadas a estas tensões geopolíticas e ao aumento previsto da oferta, criaram um ambiente desfavorável que dominou a negociação do petróleo durante todo o mês de Abril.
Gráfico Fonte XTB xStation 5
Ouro
Ouro regista máximos históricos em Abril impulsionado por tensões comerciais, mas corrige no final do mês.
O mês de Abril foi marcado por fortes oscilações no mercado do ouro, com o metal precioso a atingir novos máximos históricos antes de corrigir ligeiramente, pressionado por desenvolvimentos nas tensões comerciais e sinais de estabilização nos mercados financeiros. No final do mês, o ouro acumulou uma valorização de quase 6%, encerrando a cotação em 3.288,50 dólares por onça.
Ao longo de Abril, a procura por activos de refúgio intensificou-se à medida que os investidores reagiam a uma escalada nas tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China. O anúncio de tarifas recíprocas entre as duas maiores economias do mundo aumentou os receios sobre os impactos económicos de uma guerra tarifária prolongada. Este clima de incerteza levou o preço do ouro a ultrapassar sucessivamente marcas psicológicas, atingindo um novo recorde de 3.500 dólares por onça.
A incerteza política nos Estados Unidos contribuiu igualmente para o movimento ascendente, nomeadamente com rumores de que o Presidente Donald Trump estaria a ponderar a demissão do presidente da Reserva Federal, Jerome Powell, cenário que aumentou o nervosismo nos mercados e reforçou a procura pelo ouro.
Contudo, nas últimas sessões do mês, o ouro acabou por recuar face aos máximos atingidos. A confirmação de que Powell permaneceria no cargo e o tom ligeiramente mais moderado por parte da Casa Branca em relação às tarifas ajudaram a restaurar alguma confiança nos mercados, provocando uma ligeira correção nos preços. Ainda assim, o ouro manteve-se em níveis historicamente elevados, terminando Abril com uma valorização mensal sólida.
Na última semana do mês, o ouro caiu cerca de 1,5%, a pior semana desde Março, apesar de continuar a ser impulsionado por uma procura estrutural forte, associada à instabilidade económica e política global.
Gráfico Fonte XTB xStation 5