A semana que começa
Bancos centrais e tarifas

Os mercados irão seguir com atenção as negociações comerciais dos Estados Unidos, as decisões dos bancos centrais, especialmente do Fed e ainda a anunciada reunião entre Donald Trump e Mark Carney.
Esta semana, os mercados estarão atentos a vários acontecimentos de relevo, com destaque para as potenciais negociações entre os Estados Unidos e a China no que diz respeito às tarifas aduaneiras, a decisão de política monetária da Reserva Federal norte-americana e a continuação da temporada de resultados empresariais relativos ao primeiro trimestre.
O foco estará igualmente virado para Jerome Powell, presidente do Fed, que voltará a estar no centro das atenções com a realização da reunião do FOMC na próxima quarta-feira. A expectativa generalizada dos mercados é de que a taxa de juro se mantenha inalterada, com os investidores à procura de sinais mais claros sobre os próximos passos da política monetária norte-americana.
No plano geopolítico, o Primeiro-Ministro canadiano, Mark Carney, terá na terça-feira o seu primeiro encontro oficial com o Presidente norte-americano, Donald Trump, desde que venceu as eleições. A reunião decorrerá em Washington e terá como tema central as relações comerciais entre os dois países, que se têm deteriorado desde a imposição de tarifas por parte dos Estados Unidos sobre produtos como aço e automóveis canadianos, medidas que levaram o Canadá a retaliar com tarifas sobre vários bens norte-americanos.
Carney antecipou que o encontro será “difícil, mas construtivo”, sublinhando que não se deverá esperar um acordo imediato para pôr fim à guerra comercial. O primeiro-ministro canadiano já declarou que o modelo anterior de relacionamento económico e de segurança com os Estados Unidos “está ultrapassado”, deixando em aberto o futuro da relação entre os dois países vizinhos.
Com o cenário internacional marcado por incerteza comercial e política monetária, os mercados manter-se-ão vigilantes face a qualquer sinal de aproximação entre Pequim e Washington, bem como à evolução das relações bilaterais entre os EUA e o Canadá. Tudo isto acontece num contexto de elevada volatilidade, amplificado pelos resultados trimestrais de grandes empresas que continuam a ser divulgados ao longo da semana.
O Fed deve manter taxas de juro inalteradas na próxima reunião, apesar da pressão da Casa Branca.
O presidente da Reserva Federal dos Estados Unidos, Jerome Powell, voltará a estar no centro das atenções esta semana, com a próxima reunião do Comité Federal de Mercado Aberto (FOMC) marcada para quarta-feira, 7 de Maio. Os mercados antecipam amplamente que a Fed mantenha as taxas de juro inalteradas, atribuindo apenas 3% de probabilidade a um corte já nesta reunião.
Esta decisão deverá voltar a gerar críticas por parte de Donald Trump, que reiterou nos últimos dias que “Powell deveria reduzir as taxas de juro”. Apesar da pressão da Casa Branca, tanto Powell como outros membros do banco central têm manifestado prudência.
O presidente do Fed afirmou recentemente que a instituição está numa postura de "esperar para ver", sublinhando que embora o mercado de trabalho continue resiliente, os efeitos das tarifas comerciais podem ser mais negativos do que inicialmente estimado.
Powell reforçou ainda a importância de manter a estabilidade dos preços, afirmando que "não é possível ter um mercado laboral sólido sem estabilidade de preços" e que o compromisso do Fed é garantir que a inflação a longo prazo permaneça bem ancorada.
Por sua vez, Chris Waller, influente governador do Fed, foi ainda mais claro, dizendo não esperar qualquer alteração das taxas nas reuniões de Maio ou Junho. Waller justificou esta posição com a pausa de 90 dias na implementação das tarifas recíprocas entre os EUA e a China, referindo que “não haverá tempo suficiente para que esses efeitos se manifestem nos dados reais antes de Julho”.
Assim, enquanto os mercados aguardam por uma possível mudança de política monetária mais adiante, tudo indica que o Fed manterá uma abordagem cautelosa na reunião desta semana.
Outros Bancos Centrais
Banco de Inglaterra
O Banco de Inglaterra (BoE) deverá anunciar esta quinta-feira, 8 de Maio, um corte de 25 pontos base na sua taxa directora, reduzindo-a para 4,25%. A decisão estará em linha com as expectativas do mercado e do consenso dos analistas, que apontam para uma abordagem prudente por parte da autoridade monetária britânica.
A votação dentro do Comité de Política Monetária (MPC) deverá revelar uma maioria clara a favor desse corte: estima-se um resultado de 8-1, com Swati Dhingra a ser a única a defender uma redução mais agressiva de 50 pontos base, tal como já fez em ocasiões anteriores.
Apesar deste corte, não se espera uma mudança significativa no discurso da instituição. O BoE deverá reiterar que qualquer flexibilização futura da política monetária será feita de forma “gradual e cuidadosa”, mantendo assim uma orientação cautelosa perante a evolução económica.
O comunicado desta semana será acompanhado pela actualização das projecções económicas. Espera-se que o Banco reveja em baixa a sua previsão de inflação para 2025 e, simultaneamente, reveja em alta a previsão de crescimento do PIB no mesmo ano, impulsionado por um desempenho económico mais robusto no primeiro trimestre.
Embora as tarifas comerciais e a incerteza global continuem a representar riscos negativos, o Reino Unido parece estar menos exposto do que outras economias europeias. Ainda assim, os sinais de desaceleração e os riscos externos justificam uma abordagem ligeiramente mais acomodatícia por parte do Banco de Inglaterra.
A conferência de imprensa a seguir à reunião será acompanhada de perto pelos mercados em busca de pistas sobre o ritmo e a probabilidade de futuros cortes.
Norges Bank
O banco central da Noruega deverá manter esta semana a sua taxa de juro inalterada nos 4,5% pela décima primeira reunião consecutiva.
Na reunião anterior, a orientação futura do banco central, apontou para a continuação do actual nível da taxa de juro, alertando que uma redução prematura das taxas poderia alimentar novas pressões inflacionistas.
Riksbank
Os mercados esperam que o banco central sueco mantenha também a sua taxa de juro inalterada nos actuais 2,25%, após os seus responsáveis dizerem na anterior reunião que não tencionam cortar mais a sua taxa, após a terem reduzido desde os 4% em menos de um ano.
Banco Nacional da Polónia
O banco central polaco reúne esta quarta-feira e poderá anunciar um novo corte na taxa de juro de referência, impulsionado pela forte desaceleração da inflação em Abril, pela moderação no crescimento dos salários e por dados económicos mais fracos.
Com estes factores a abrirem espaço para uma política monetária mais acomodatícia, os analistas admitem que o corte possa ser de 50 pontos base, reduzindo significativamente o custo do dinheiro. No entanto, permanece em aberto a possibilidade de uma abordagem mais cautelosa, com uma descida mais moderada de 25 pontos base.
Independentemente da decisão final, é provável que o comunicado após a reunião adopte um tom menos dovish, numa tentativa do banco central de conter expectativas excessivamente optimistas por parte dos mercados quanto ao ritmo de futuras descidas de juros.
O Banco Central do Brasil
Com as expectativas de inflação a continuarem a subir, os mercados esperam que o banco central brasileiro volte a subir a sua taxa Selic, mas desta vez a um ritmo mais baixo, em 50 pontos base, de 14,25% para 14,75%.
Resultados empresariais.
A temporada de resultados do primeiro trimestre prossegue esta semana a todo o vapor, com a divulgação dos números de algumas das maiores empresas mundiais a captar a atenção dos investidores globais.
Nos Estados Unidos, os destaques incluem a Ford, a Uber e a Walt Disney, cujos resultados serão acompanhados de perto para aferir o impacto da conjuntura económica e das alterações nos padrões de consumo. O sector tecnológico também estará em evidência, com as contas da Palantir, AMD e Shopify, enquanto do lado energético se esperam os resultados da Occidental Petroleum e da gigante saudita Aramco.
Na Europa, empresas de vários sectores irão apresentar os seus balanços. O sector automóvel estará representado por BMW e Ferrari, ao passo que a banca europeia dará importantes sinais através dos resultados de Intesa Sanpaolo, UniCredit e Commerzbank. A área da energia contará com nomes como Enel, Endesa e EDP Renováveis, esta última com particular interesse para o mercado português.
A farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk, um dos nomes mais influentes do sector da saúde, também divulgará os seus números, enquanto AB InBev e Marriott representarão os sectores do consumo e hotelaria, respectivamente. Na Alemanha, as atenções estarão voltadas para a Rheinmetall, dada a crescente relevância da indústria de defesa.
Por fim, será também divulgado o desempenho da AP Moeller - Maersk, um importante indicador do estado do comércio global, dada a sua posição de liderança no transporte marítimo.
A diversidade de sectores e regiões torna esta semana especialmente relevante para avaliar o pulso da economia global e as perspectivas para os próximos trimestres.
Dados Económicos
Estados Unidos da América
Relativamente a indicadores económicos, iremos ter uma semana bastante ligeira.
A semana começa com a divulgação do índice de serviços do ISM, onde os mercados prevêem uma queda de 50,8 para 50,2, seguindo ainda atentamente o subíndice do emprego. Teremos também a leitura final do PMI de serviços da S&P Global que se deverá manter nos 51,4 da leitura preliminar.
Seguem-se os números da balança comercial de Março, que deverão mostrar um défice de 124,7 mil milhões de dólares, após os 122,7 mil milhões do mês anterior.
Iremos ter o índice de optimismo económico RCM/TIPP, onde o consenso aponta para uma ligeira subida de 49,1 para 50,2.
Os números do crédito ao consumo de Março deverão mostrar um aumento de 9,9 mil milhões de dólares, após a queda de 800 milhões no mês anterior.
Na quinta-feira iremos ter os habituais números semanais de novos pedidos de subsídio de desemprego, que depois do aumento para 241 mil na semana anterior, segundo as estimativas deverão cair para os 232 mil.
Zona Euro
Por aqui teremos também uma semana bastante tranquila.
A semana começa com o indicador de confiança do investidor Sentix que, segundo as estimativas, deverá mostrar uma subida de -19,5 para -14,9.
Iremos ter o Índice de Preços do Produtor do mês de Março, que segundo as previsões deverá mostrar uma queda mensal nos preços à porta das fábricas de 1,4%, após o aumento de 0,2% no mês anterior.
A leitura final do índice PMI de serviços deverá manter o valor da leitura preliminar de 49,7.
O destaque da semana vai para os números das vendas a retalho do mês de Março, onde as previsões apontam para uma queda mensal de 0,1%, após o aumento de 0,3% no mês de Fevereiro.
A nível regional:
Na Alemanha teremos os dados das encomendas às fábricas de Março, onde as estimativas apontam para um aumento de 1,1%, os números da produção industrial deverão mostrar um aumento de 0,9%, após a queda de 1,3% do mês anterior e a balança comercial deverá mostrar um excedente de 18,8 mil milhões de euros, após os 17,7 mil milhões no mês de Fevereiro.
Em França, a produção industrial em Março deverá mostrar um aumento de 0,4%, desacelerando dos 0,7% do mês anterior, e os números da balança comercial deverão mostrar um défice de 7 mil milhões de euros, reduzindo dos 7,9 mil milhões no mês anterior.
Em Itália, as vendas a retalho deverão mostrar um crescimento de 0,2%, ligeiramente acima dos 0,1% do mês anterior e a produção industrial deverá ter aumentado 0,4%, após a queda de 0,9% do mês de Fevereiro.
Reino Unido
Mais uma semana ligeira de indicadores económicos. Teremos o PMI da construção que deverá, segundo as estimativas, recuar de 46,4 para 46, ficando ainda mais em terreno de contracção. A leitura final do PMI de serviços deverá manter-se nos 48,9.
Teremos também o RICS House Price Balance, um indicador que mede a diferença percentual entre os agentes imobiliários que reportam subida e descida dos preços das casas, com o consenso a apontar para uma queda de 4%, após o aumento de 2% do mês anterior.
Iremos ter ainda o índice de preços das casas do Halifax, onde as previsões apontam para um aumento de 0,2%, após a queda de 0,5% do mês anterior.
Canadá
Esta semana o destaque vai para os dados do emprego que irão ser divulgados no último dia da semana.
As previsões apontam para que a taxa de desemprego se mantenha inalterada nos 6,7%, com a taxa de participação a cair de 65,2% para 65%. Após a redução de 32,6 mil postos de trabalho em Março, deveremos assistir a um aumento em Abril de 22,5 mil, com o número de empregos em part-time a reduzir e a tempo inteiro a aumentarem.
Antes iremos ter os números da balança comercial de Março, onde as estimativas apontam para um défice de 1,7 mil milhões de dólares canadianos, após o défice do mês anterior de 1,5 mil milhões.
Teremos ainda o Ivey PMI, onde as estimativas apontam para um ligeiro recuo de 51,3 para 51,2.
Suíça
As atenções esta semana vão para os dados da inflação, onde as estimativas apontam para um aumento mensal dos preços de 0,2%, com a inflação anual a manter-se nos 0,3%.
Teremos também a taxa de desemprego que se deverá manter nos 2,8% e ainda o indicador da confiança do consumidor SECO que deverá registar uma ligeira subida de -35 para -34.
China
A semana começa com o PMI privado de serviços da Caixin, com as estimativas a apontarem para um recuo dos 51,9 para 51,7, seguindo em expansão.
Tentativamente iremos ter os números da balança comercial de Abril, que deverão mostrar um excedente de 94,3 mil milhões de dólares, após os recordes atingidos nos meses de Fevereiro e Março, antes da imposição de tarifas por parte dos Estados Unidos.
Já com os mercados encerrados, no próximo sábado, iremos ter os dados da inflação de Abril, onde as previsões apontam para um aumento nos preços em termos mensais de 0,2%, após a queda de 0,4% no mês anterior, com zero inflação anual, após a deflação de -0,1% mostrada no mês de Março.
Teremos também o Índice de Preços do Produtor que deverá continuar a mostrar uma deflação em termos anuais, mas subindo de -2,5% para -2,3%.
Japão
Iremos ter uma semana bastante ligeira de dados económicos, que chegarão apenas no último dia da semana.
Iremos ter os números dos ganhos médios salariais que deverão mostrar uma desaceleração dos 2,7% do mês anterior para 2,6% e os números da despesa das famílias que deverão mostrar um aumento de 0,2%, após a redução de 0,5% no mês anterior.
Nova Zelândia
As atenções vão inteiramente para os dados do mercado de trabalho do primeiro trimestre deste ano. As previsões apontam para que a taxa de desemprego suba de 5,1% para 5,3%, com o emprego a aumentar em 0,1%, recuperando a queda de 0,1% do trimestre anterior, e onde a taxa de participação deverá cair de 71% para 70,8%. Teremos ainda o Índice de Custo Laboral do primeiro trimestre que deverá mostrar uma desaceleração dos 0,6% do trimestre anterior para 0,5%.
Austrália
Por aqui iremos ter uma semana bem vazia de indicadores económicos.
O Instituto de Melbourne divulga a sua medida de inflação mensal, com as estimativas a apontarem para um aumento mensal dos preços de 0,4%, desacelerando dos 0,7% do mês anterior.
Teremos o índice do anúncio de vagas de emprego do ANZ, onde o consenso aponta para uma desaceleração dos 0,4% do mês anterior para 0,3%.
E por fim teremos os números de licenças de construção que, após a queda de 0,3% no mês de Fevereiro, deverão em Março mostrar uma queda de 1,7%.