Semana Revista
E sempre Donald Trump

Semana Revista E sempre Donald Trump

Tensões comerciais e decisões judiciais nos Estados Unidos marcaram uma semana intensa nos mercados, entre dados económicos positivos e sinais de prudência da Reserva Federal.

A última semana de Maio foi particularmente intensa nos mercados internacionais, dominada por uma combinação de desenvolvimentos geopolíticos, decisões judiciais e a divulgação de novos dados macroeconómicos que contribuíram para um sentimento misto entre os investidores.

No plano comercial, a política externa dos Estados Unidos voltou a ser o centro das atenções. Apesar de Donald Trump ter recuado temporariamente na aplicação de tarifas de 50% sobre produtos provenientes da União Europeia, adiando a medida de 1 de Junho para 9 de Julho com o objectivo de abrir espaço a novas negociações, as tensões comerciais mantiveram-se elevadas devido ao endurecimento das relações com a China. Washington introduziu novas restrições à venda de software utilizado no desenvolvimento de semicondutores e revogou autorizações de visto a cidadãos chineses, enquanto a administração Trump sinalizou a intenção de reforçar a venda de armamento a Taiwan, reacendendo fricções diplomáticas.

Em contrapartida, Pequim lançou uma campanha alargada contra a espionagem estrangeira, com foco nos cidadãos e entidades norte-americanas, alimentando o clima de incerteza bilateral.

A instabilidade comercial foi agravada por decisões judiciais nos Estados Unidos. O Tribunal Comercial Internacional determinou a suspensão de várias tarifas anteriormente decretadas pelo executivo norte-americano, uma medida que acabou por ser parcialmente revertida após recurso apresentado pela Administração. O tribunal de recurso considerou válidas algumas das imposições tarifárias, o que reacendeu o debate jurídico e político em torno da legalidade e eficácia destas medidas.

Apesar da pressão exercida por estes eventos, os mercados encontraram algum alento em indicadores económicos positivos.
Na Europa, os dados da inflação revelaram uma trajectória de desaceleração mais acentuada do que o previsto em França, Espanha e Itália, reforçando a expectativa de cortes nas taxas de juro por parte do Banco Central Europeu já na próxima semana.
Nos Estados Unidos, a publicação do índice de confiança económica da Conference Board apontou para uma estabilização do sentimento dos consumidores, com uma recuperação face ao mês anterior. A nível corporativo, os resultados da NVIDIA superaram largamente as expectativas dos analistas, impulsionados pela procura crescente por soluções de inteligência artificial, o que sustentou o desempenho positivo do sector tecnológico.

No plano monetário, as minutas da última reunião da Reserva Federal revelaram uma postura prudente por parte dos decisores, com os membros do Comité de Política Monetária a manterem cautela face aos sinais contraditórios da economia norte-americana.

No balanço da semana, e do mês, os mercados globais oscilaram entre a reacção às tensões políticas e os sinais encorajadores vindos da esfera económica, num contexto em que os investidores continuam a procurar clareza quanto à evolução da política monetária e ao futuro das relações comerciais entre as maiores potências do mundo.





Minutas do FOMC

Na reunião de 6 e 7 de maio de 2025, o Comité de Política Monetária da Reserva Federal dos EUA (FOMC) decidiu manter a taxa directora entre 4,25% e 4,5%, citando um contexto de grande incerteza económica. As minutas da sua reunião, divulgadas na quarta-feira, mostram que o banco central norte-americano espera actualmente cortar as taxas de juro uma ou duas vezes em 25 pontos até ao final do ano.

Apesar de os dados sugerirem que a actividade económica continua a crescer a um ritmo sólido e de o mercado de trabalho se manter robusto, a inflação ainda está acima da meta de 2%. Os responsáveis do Fed reconheceram que os progressos na redução da inflação têm sido irregulares, com aumentos mais fortes no início do ano, seguidos de algum alívio mais recentemente.

Um dos principais factores de preocupação para o Comité foi o aumento das tarifas comerciais anunciadas pelos Estados Unidos, que podem representar um choque negativo para a economia interna, ao mesmo tempo que aumentam a inflação. Os participantes alertaram que muitas empresas poderão repassar esses custos para os consumidores, o que agrava os riscos inflacionistas.

Além disso, os responsáveis destacaram que há risco de subida das expectativas de inflação se esta se mantiver elevada durante mais tempo. Vários membros do FOMC mostraram-se preocupados com o impacto das tarifas sobre os investimentos, o consumo e as cadeias de abastecimento, especialmente para pequenas empresas e sectores como a agricultura.

O Fed reconhece que enfrenta agora um desafio duplo: risco de inflação persistente por um lado, e risco de abrandamento económico e aumento do desemprego por outro. Face a este equilíbrio delicado, o FOMC optou por aguardar mais clareza nos dados antes de fazer novos ajustes à política monetária.

Por fim, a Reserva Federal reafirmou o seu compromisso com a estabilidade de preços e o pleno emprego, e garantiu que está preparada para ajustar a política sempre que os riscos económicos assim o exijam.





Resultados trimestrais da NVIDIA superam previsões, mas restrições comerciais impõem cautela no outlook.

A NVIDIA apresentou resultados sólidos para o primeiro trimestre fiscal de 2025, superando as expectativas do mercado tanto em termos de lucros como de receitas, num desempenho que reflecte a forte procura contínua por soluções de inteligência artificial (IA) a nível global. No entanto, o impacto das novas restrições comerciais impostas pelos Estados Unidos à China levou a tecnológica a adoptar uma postura mais prudente nas previsões para o trimestre em curso.

Entre Fevereiro e Abril, a empresa reportou um lucro ajustado de 0,81 dólares por acção e receitas de 44,06 mil milhões de dólares, superando as estimativas consensuais de 0,85 dólares por acção em lucros e 42,71 mil milhões de dólares em receitas. Em termos homólogos, o volume de negócios registou um crescimento expressivo de 69,18%. O resultado ultrapassou também o chamado Earnings Whisper number (estimativa implícita do mercado), fixado em 0,77 dólares por acção.

Para o segundo trimestre fiscal, que termina a 31 de Julho, a NVIDIA prevê receitas entre 44,10 mil milhões e 45,90 mil milhões de dólares, com margens brutas ajustadas situadas entre 71,5% e 72,5%, o que implica lucros estimados entre 0,94 e 1,03 dólares por acção. A previsão situa-se em linha com as expectativas do mercado, que apontavam para lucros de 0,97 dólares por acção e receitas de 45,11 mil milhões.

Jensen Huang, fundador e CEO da empresa, destacou o início da produção em larga escala do novo supercomputador Blackwell NVL72, desenvolvido para aplicações avançadas de IA com capacidade de raciocínio.

Contudo, nem tudo são boas notícias. A empresa alertou que as mais recentes restrições comerciais impostas por Washington sobre a venda de chips de alto desempenho à China terão um impacto negativo nas receitas do trimestre em curso, estimando-se uma perda potencial de até 8 mil milhões de dólares.

A NVIDIA continua a liderar o segmento de computação acelerada, mas enfrenta agora um contexto mais desafiante, tanto pela maturação do mercado de centros de dados para IA, como pelas crescentes limitações às suas operações internacionais. Em contraste com o desempenho explosivo registado em 2024, ano em que as acções quase triplicaram de valor, o comportamento bolsista da empresa em 2025 tem-se mantido relativamente estável, reflectindo a crescente complexidade regulatória e competitiva do sector.



Dados Económicos




Nos Estados Unidos foi uma semana curta, mas bem preenchida de indicadores económicos.
Começou logo com os dados da confiança do consumidor da Conference Board, que surpreenderam os mercados com o índice a subir de 85,7 para 98,0, o maior ganho mensal dos últimos quatro anos, logo após no mês anterior ter caído para um mínimo de cinco anos. Também no mesmo dia foram divulgados os números das encomendas de bens duradouros que mostraram uma queda de 6,3%, melhor do que o apontado pelas estimativas de –7,9%, recuando do aumento de 7,5% em Março. Sem os itens de transportes, as encomendas cresceram 0,2%, face a estimativas que davam uma queda de 0,1%. Ainda houve espaço para termos o índice de preço das casas do S&P/Case-Shiller que desacelerou do aumento de 4,5% do mês anterior e do esperado, para 4,1%.
O índice de Richmond, na quarta-feira, subiu de -13 para -9, em linha com o consenso de mercado.
Na quinta-feira, as atenções voltaram-se para a segunda estimativa do PIB do primeiro trimestre, que reviu em alta a leitura preliminar de -0,3%, mostrando uma contracção de 0,2%. Os habituais números semanais de novos pedidos de subsídio de desemprego mostraram um aumento de 226 mil para 240 mil, acima dos 229 mil esperados, e os números das vendas pendentes de casas mostraram uma queda de 6,3%, bem pior do que a queda estimada de 1,0% e após o aumento, revisto em baixo, de 5,5% do mês anterior.
Na sexta-feira a divulgação da medida preferida do Fed para a inflação, o core PCE price index de Abril, em termos mensais saiu em linha com as previsões com um aumento de 0,1%, onde a medida anual caiu de 2,7% (revista em alta) do mês de Março para 2,5%, abaixo das estimativas de 2,6%. O PCE caiu de 2,3% para 2,1%, abaixo das estimativas de 2,1%. As despesas pessoais saíram em linha com o esperado, com um aumento mensal de 0,2%, abrandando dos 0,7% de Março, e os rendimentos pessoais surpreenderam ao subir 0,8%, acima dos 0,7%, revistos em alta, do mês anterior e acima dos 0,4% estimados. Os números da balança comercial de bens do mês de Abril mostraram um défice de 87,6 mil milhões de dólares, baixando drasticamente dos 163,2 mil milhões, revistos em alta, observado no mês anterior, bem melhor que os 141,8 mil milhões de dólares previstos pelo mercado. Os números preliminares dos inventários grossistas estabilizaram, face a um aumento esperado de 0,4%. O índice Chicago PMI caiu de 44,6 para 40,5, contra uma ligeira recuperação esperada para 45,1. Por fim, a leitura final dos dados da Universidade de Michigan mostraram uma recuperação no índice de confiança do consumidor dos 51,1 da leitura preliminar para 52,2, e as expectativas de inflação abrandaram de 7,3% para 6,6% no curto prazo e no prazo mais longo de 4,4% para 4,2%.

Na Zona do Euro tivemos uma semana ligeira de dados económicos, onde o destaque foi para os dados da inflação das principais economias europeias. França foi a primeira a divulgar os números do índice de preços do consumidor, que mostraram uma queda nos preços a nível mensal de 0,1%, com a medida anual a mostrar apenas uma inflação de 0,7%.
Na Alemanha, em termos mensais, os preços subiram 0,1%, ligeiramente acima de uma estabilização esperada, com a inflação anual a manter-se a 2,1% face a um abrandamento estimado para os 2,0%.
Em Espanha, os preços em termos mensais estabilizaram, contrariando previsões para uma subida de 0,2%, após 0,6% no mês de Abril, onde a inflação anual caiu de 2,2% para 1,9%, abaixo das previsões que apontavam para 2,1%.
Em Itália, a inflação anual caiu dos 1,9% em Abril, para 1,7% em Maio, com os preços em termos mensais a estabilizarem após o aumento de 0,1% do mês anterior, contrariando estimativas de uma subida de 0,3%.
Tivemos ainda, na Zona Euro, o índice de confiança económica da Comissão Europeia que subiu de 93,6 para 94,8, acima dos 94 esperados, e o índice das expectativas da inflação do consumidor do Banco Central Europeu subiu de 2,9% para 3,1%, acima do consenso de mercado que apontava para 3%. Foi o valor mais elevado desde Fevereiro de 2024.
Na Alemanha, além dos dados da inflação, tivemos também o índice de confiança do consumidor GfK, que saiu bem em linha com o esperado, subindo de -20,6 para -19,9, as vendas a retalho de Abril caíram 1,1%, após o aumento de 0,9%, revisto em alta, do mês anterior, números abaixo do esperado que apontavam para um pequeno aumento de 0,2%, e ainda a taxa de desemprego que se manteve nos 6,3%.
Em França, os dados da despesa de consumo cresceram 0,3%, ficando abaixo dos 0,9% esperados, após a queda revista em alta de 1,1% no mês anterior, e a segunda estimativa do PIB do primeiro trimestre confirmou a leitura preliminar de um crescimento económico de 0,1%.

No Reino Unido, foi uma semana quase vazia de indicadores económicos, onde o índice de preços das lojas BRC continuou a mostrar uma queda de 0,1%, e onde o índice CBI Realized Sales mostrou uma queda de -8 para -27, bem maior do que os -14 esperados.

No Canadá as atenções foram para os dados do PIB que mostraram em Março um crescimento de 0,1%, em linha com o esperado, após a contracção anterior de 0,2%. Os números preliminares para Abril mostraram também um crescimento económico de 0,1%, contrariando previsões que apontavam para uma contracção de 0,3%. O PIB do primeiro trimestre mostrou um crescimento trimestral de 0,5%, em linha com o trimestre anterior revisto em baixo e acima dos 0,2% estimados, com o PIB anual a subir dos 2,1% (revistos em baixa de 2,6%) para 2,2%.
A semana começou com os números preliminares das vendas manufactureiras de Abril, que caíram inesperadamente 2%, contra estimativas de um crescimento de 0,2%, acelerando a queda de Março de 1,4%.
Mais tarde, as vendas grossistas também surpreenderam negativamente o mercado, ao mostrarem uma queda de 0,9%, face a um aumento esperado de 0,1%.
Na quinta-feira tivemos os números da conta corrente que mostraram um défice de 2,1 mil milhões de dólares canadianos, melhor do que o previsto de 4 mil milhões e após um défice revisto em baixo de 3,6 mil milhões de dólares canadianos do trimestre anterior.

Na Suíça, os números da balança comercial mostraram um excedente de 6,36 mil milhões de francos suíços, acima dos 5,55 mil milhões estimados e dos 6,29 mil milhões de francos suíços do mês anterior.
Tivemos também o índice de confiança económico da UBS que subiu de -51,6 para -22, melhor do que os -35 esperados, e ainda o barómetro económico KOF que saiu ligeiramente acima do estimado a 98,5, subindo dos 97,1 do mês anterior.

Na China foi uma semana praticamente vazia de indicadores económicos. Tivemos logo no início da semana os números dos lucros industriais, que mostraram um crescimento de 1,4%, acima dos 0,8% do mês anterior e das previsões de 1,2%.
No sábado, com os mercados fechados, tivemos a divulgação dos dados oficiais dos PMI, que saíram em linha com o esperado. O índice geral registou uma ligeira subida de 50,2 para 50,4 e índice industrial de 49 para 49,5, com o índice de serviços a registar uma queda ligeira de 50,4 para 50,3.

No Japão, a acção esteve toda no último dia da semana, onde tivemos a divulgação de um conjunto alargados de indicadores económicos. No topo das atenções do mercado esteve a divulgação dos dados de Maio da inflação de Tóquio. A inflação global manteve-se nos 3,4% (valor revisto em baixo de 3,5% do mês anterior), contrariando estimativas que apontavam para uma subida para 3,6%. No entanto, a inflação subjacente, sem alimentos frescos, a medida mais observada pelo Banco do Japão, subiu de 3,4% para 3,6%, acima dos 3,5% esperados, com a inflação sem alimentos nem energia a subir de 2% para 2,1%, em linha com as previsões.
A taxa de desemprego manteve-se nos 2,5%.
A produção industrial, em Abril, caiu 0,9%, menos do que o esperado de 1,4%, após o aumento de 0,2% em Março.
As vendas a retalho aumentaram 3,3%, bem acima dos 2,9% previstos, acelerando dos 3,1% do mês anterior.
O início de construção de casas caiu 26,6%, uma queda maior do que a estimada de 18,2%, após o aumento de 39,1% no mês anterior.
Antes dos dados divulgados na sexta-feira, tivemos o índice de confiança do consumidor, que subiu de 31,2 para 32,8, acima dos 31,8 apontados pelo consenso de mercado.

Na Nova Zelândia, no que tocou a indicadores económicos, foi uma semana quase vazia, onde tivemos a divulgação do índice de confiança empresarial ANZ que caiu de 49,3 para 36,6, desiludindo as estimativas que apontavam para uma subida para 53, e os números das licenças de construção de Abril mostraram uma redução de 15,6%, bem maior dos que os 2,3% estimados, após o aumento revisto em alta de 10,7% em Março.

Na Austrália as atenções começaram por ir para a inflação do mês de Abril que se manteve nos 2,4% em linha com o mês de Março, mas acima das estimativas que apontavam para 2,3%.
Os números do trabalho da construção estabilizaram, desiludindo as estimativas que apontavam para um crescimento de 0,5%.
Por fim, na sexta-feira, os números das vendas a retalho mostraram uma queda inesperada de 0,1%, face a uma previsão de crescimento de 0,3%.
Os números das licenças de construção de Abril mostraram também inesperadamente uma queda de 5,7%, face a um aumento esperado de 3,1%, mesmo assim um pouco melhor do que a queda revista no mês anterior de 7,1%.
O crédito no sector privado aumentou 0,7%, acima do estimado e do mês anterior de 0,5%.



Os Bancos Centrais



O Reserve Bank of New Zealand, tal como esperado, continuou o seu ciclo de corte de taxas de juro, reduzindo a sua taxa directora de 3,50% para 3,25%. O relatório de política monetária indicou mais um corte de juros, com a possibilidade de outro, com o economista-chefe do banco central a afirmar que as taxas entraram na zona neutra. O corte teve a votação de 5-1, com um membro a defender a manutenção da taxa. O banco central prevê que a inflação suba para 2,7% no terceiro trimestre de 2025, antes de retornar para perto de 2% a partir de 2026. A economia deve crescer 1,5% neste ano até Março de 2026, em comparação com os 1,8% projectados anteriormente em Fevereiro.



Mercados accionistas



Mercados registam forte recuperação em Maio após perdas em Abril.

Maio terminou com um desempenho positivo nos principais mercados accionistas globais, marcando uma inversão face às perdas expressivas registadas em Abril. Os ganhos fizeram-se sentir de forma transversal, desde a Ásia até aos Estados Unidos, sustentados por um ambiente mais benigno no que respeita às tensões comerciais e por indicadores económicos que favoreceram a tomada de risco por parte dos investidores.

O alívio nas tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China, logo no início do mês, foi o principal catalisador do sentimento positivo. A reaproximação entre Washington e Pequim, com a suspensão de tarifas e o retomar das negociações, contribuiu para restaurar a confiança nos mercados. Noutra frente, embora o encontro entre Donald Trump e o governador do Banco do Canadá, Mark Carney, não tenha produzido avanços concretos, o simples gesto diplomático foi suficiente para aliviar a pressão nas relações entre os dois países.
Ainda no plano internacional, a deslocação de Trump ao Médio Oriente, numa ofensiva diplomática com vista à captação de investimento estrangeiro para os Estados Unidos, foi também interpretada como um sinal de estabilidade, reforçando o apetite pelo risco entre os investidores globais.

No entanto, nem tudo foram sinais positivos. A retirada, por parte da agência Moody’s, da última notação máxima atribuída à dívida soberana dos EUA gerou apreensão quanto à sustentabilidade das finanças públicas norte-americanas. A aprovação, pelo Congresso, da chamada “One Big Beautiful Bill” de Donald Trump, com implicações orçamentais significativas, lançou dúvidas adicionais sobre a trajectória da dívida pública, exercendo alguma pressão sobre os mercados financeiros, ainda que de forma limitada.

Desempenho dos mercados em Maio

Na Ásia, os mercados registaram ganhos expressivos, com destaque para Hong Kong e Coreia do Sul, onde os índices Hang Seng e Kospi subiram mais de 5% no mês. No Japão, os índices Nikkei e Topix avançaram mais de 4%, enquanto os mercados indianos foram os que menos subiram, com o Nifty 50 e o Sensex a valorizarem cerca de 1,6%.

Na Europa, o desempenho foi globalmente positivo. O DAX, na Alemanha, liderou os ganhos, subindo 6,7% após a nomeação de um novo chanceler. Em França, o CAC 40 avançou 2,08%. Os índices Euro Stoxx 600 e Euro Stoxx 50 registaram ganhos próximos dos 4%, enquanto o FTSE 100, no Reino Unido, valorizou 3,24%. Em Portugal, o índice PSI encerrou o mês com um expressivo ganho de 5,66%.

Nos Estados Unidos, os três principais índices terminaram o mês com valorizações sólidas. O Dow Jones subiu 3,94%, o S&P 500 avançou 6,15% e o Nasdaq liderou os ganhos com uma subida de 7,92%. O índice Russell 2000, representativo das pequenas capitalizações, registou uma valorização de 4,52%.


Semana mais curta marcada pela volatilidade e ganhos moderados

A última semana do mês, mais curta devido ao feriado nos mercados dos Estados Unidos e Reino Unido, ficou marcada pela volatilidade induzida por notícias relacionadas com tarifas comerciais. A decisão de Donald Trump de recuar na imposição de tarifas de 50% sobre produtos da União Europeia, seguida pela suspensão e reapreciação judicial de uma ordem do Tribunal de Comércio Internacional norte-americano, manteve os investidores atentos e os mercados a oscilarem entre ganhos e perdas.
Dados macroeconómicos mais benignos, como a inflação suavizada na zona euro, a recuperação da confiança dos consumidores nos Estados Unidos e os resultados acima do esperado da Nvidia, contribuíram para que os principais índices terminassem, ainda assim, em território positivo.

Desempenho semanal por regiões

Na Ásia, os mercados registaram desempenhos mistos. O índice Nikkei, no Japão, avançou 2,17%, enquanto o Topix subiu 2,41%. O ASX 200 australiano valorizou 0,88% e o Kospi sul-coreano liderou os ganhos com uma subida de 4,07%. Já na China, o CSI300 caiu 1,08% e o Hang Seng recuou 1,32%, com o Shanghai Composite praticamente inalterado (-0,03%). Na Índia, o Nifty 50 e o Sensex recuaram 0,41% e 0,33%, respectivamente.

Na Europa, o DAX alemão destacou-se com uma valorização de 1,60%. Os índices Euro Stoxx 600 e 50 avançaram cerca de 0,70%, o FTSE 100 ganhou 0,62% e o CAC 40 registou o desempenho mais modesto entre os principais índices, com uma subida de apenas 0,23%. Em Portugal, o PSI avançou 0,79%.

Nos Estados Unidos, os ganhos semanais foram também contidos, mas consistentes, com os principais índices de Wall Street a registarem valorizações entre os 1,60% do Dow Jones, até aos 2,01% do Nasdaq, em que pelo meio o S&P 500 ganhou 1,88%.

Gráfico Fonte XTB xStation 5


Mercado cambial



O sentimento de “Sell América” abrandou durante este mês de Maio, mas não desapareceu.
As incertezas que continuam a ser criadas por uma política comercial errática, onde num dia temos um abrandamento do discurso agressivo e no próximo uma escalada de tarifas, mantêm os mercados financeiros em alerta, e tendencialmente a afastarem-se do dólar. Também durante este mês de Maio, a agência de notação financeira Moody’s cortou a última classificação máxima da dívida que os Estados Unidos ainda detinham, contribuindo ainda mais para este sentimento de “Sell América”. A decisão da Moody’s surgiu na sequência do aumento contínuo da dívida pública dos Estados Unidos e dos elevados défices orçamentais, colocando de alguma forma em causa a sustentabilidade da dívida. As yields obrigacionistas de longo prazo subiram para máximos multianuais, com as yields a 10 anos a atingirem os 4,62% e a 30 anos a ultrapassarem os 5% (5,15%). Mas a Câmara de Representantes aprovou posteriormente o projecto de lei “one big, beautiful bill” de Donald Trump, que prevê um aumento significativo do défice orçamental norte-americano e que segue no Senado para votação.

Apesar de tudo, algum abrandamento do discurso de tarifas e da agressividade por parte de Donald Trump tanto de ordens executivas da Casa Branca, como através de mensagens na sua rede social Truth, durante grande parte do mês, trouxe mais alguma tranquilidade aos mercados, abrandando o tal sentimento de “Sell América”.

Isto é visível nas perdas do dólar durante este mês de Maio, que após as dos meses anteriores de 3% e 4,5%, “apenas” perdeu este mês cerca de 0,7%. O índice DXY iniciou o mês a negociar a 99,45 para terminar a 99,27, tendo registado alguma volatilidade, negociando entre um máximo de 101,80 e um mínimo de 98,60.

O euro continua a beneficiar do sentimento de afastamento do dólar, como a segunda divisa global mais líquida e ainda pela transferência de alocação de investimento dos mercados norte-americanos para os europeus. Desde o início do ano, o índice accionista do Euro Stoxx 600 avançou um pouco mais de 8%, face a 0,50% do S&P 500. A comparação entre o índice alemão DAX com o Nasdaq norte-americano é ainda mais gritante, onde o primeiro ganhou este ano 20,5%, enquanto o segundo caiu 1%.
Apesar de recuar do máximo do ano registado em Abril, no mês de Maio o EUR/USD terminou o mês a 1,1356, após o ter iniciado a 1,1323, recuperando de uma correcção que o levou a um mínimo de 1,1065.

A libra esterlina, suportada por um melhor sentimento de risco e por uma economia menos exposta aos caprichos da política comercial norte-americana, registou o melhor desempenho mensal, entre as economias desenvolvidas.
O GBP/USD atingiu um novo máximo de mais de três anos ao negociar a 1,3593, depois de ter iniciado o mês a 1,3322 e fechado a 1,3472.
O EUR/GBP, após ter registado um máximo em Abril a 0,8738, começou Maio a negociar a 0,8495 e terminou a 0,8428, depois de ter chegado a um mínimo de 0,8355.

As moedas tidas como de porto seguro, como são o caso do iene e do franco suíço, que registaram anteriormente fortes ganhos, estabilizaram no mês de Maio, entre um ambiente em que as incertezas se mantêm mas o sentimento de risco foi ainda assim melhorado.

O iene recuou dos máximos atingidos no mês anterior. A maior exposição às tarifas dos Estados Unidos e as expectativas de subidas de taxas de juro a diminuírem, foram pressionando a divisa nipónica durante o mês de Maio.
O USD/JPY começou o mês a negociar a 139,32 para terminar a 144,26, recuando de um máximo de 148,65. O EUR/JPY terminou a negociar a 163,39, depois de ter começado o mês a negociar a 161,96.

o franco suíço registou ganhos ligeiros.
O USD/CHF terminou o mês a 0,8227, após ter começado a negociar a 0,8259 e ter atingido um máximo de 0,8476.
O EUR/CHF iniciou o mês a negociar a 0,9363 e terminou a 0,9343, em volatilidade reduzida, tendo ficado contido entre um mínimo de 0,9292 e um máximo de 0,9421.

As moedas nórdicas, a par com a libra, fruto de um melhor sentimento de risco e de uma exposição mais reduzida à política comercial de Donald Trump, foram entre as economias desenvolvidas das que melhor desempenho registaram em Maio. A coroa sueca ganhou cerca de 0,40% e a coroa norueguesa 1%. O USD/SEK registou um novo mínimo de mais de três anos ao negociar a 9,4560 e o EUR/SEK manteve-se em torno dos recentes mínimos, terminando o mês a 10,8830. O USD/NOK registou um mínimo dos últimos dois anos ao negociar a 10,046, enquanto o EUR/NOK recuou dos mínimos do mês anterior, mas manteve-se a negociar entre um mínimo de 11,42 e um máximo de 11,82.

Nos mercados emergentes, o rand sul-africano destacou-se pela positiva, avançando no mês de Maio cerca de 2%, enquanto pela negativa tivemos a lira turca que perdeu cerca de 1,90%.
O USD/ZAR atingiu um mínimo dos últimos cinco meses ao chegar a 17,75 e o EUR/ZAR, após ter registado no mês anterior um máximo histórico de 22,14, terminou este mês a negociar a 20,41, depois de ter chegado a um mínimo de 20,10.
O USD/TRY registou o mais elevado fecho mensal de sempre a 39,19 e o EUR/TRY atingiu um novo máximo de sempre a 44,66, fechando o mês a 44,58.

Na semana, o dólar registou uma ligeira recuperação e o euro manteve os ganhos da semana anterior.
O índice do dólar, DXY, recuperou de um mínimo de 98,59, para terminar a 99,27, após recuar de um máximo acima de 100 (100,41).
O EUR/USD terminou em torno do nível de abertura da semana a 1,1356, após ter chegado a atingir um mínimo de 1,1210.
As moedas de refúgio, como o iene e o franco suíço, registaram um ligeiro recuo esta semana. O USD/CHF terminou a 0,8227, depois de ter começado a semana a 0,8199 e o USD/JPY após a iniciar a 142,41, terminou a 143,87.
Nos mercados emergentes o destaque faz-se pela negativa, onde o real brasileiro foi a moeda que mais caiu, perdendo cerca de 1,25%.

Gráfico Fonte XTB xStation 5


Commodities



Petróleo

Mercado petrolífero estabiliza em Maio após mínimos de quatro anos

O mês de Maio trouxe alguma estabilização ao mercado petrolífero, após as acentuadas quedas registadas em Abril. Os preços do crude recuperaram parte do terreno perdido, encerrando o mês com uma valorização entre 3% e 4%, impulsionados sobretudo pelo abrandamento das tensões comerciais globais e por expectativas mais favoráveis quanto à evolução da procura.

No início do mês, os preços do petróleo registaram nova pressão descendente após a OPEP+ anunciar um aumento inesperado da produção para o mês seguinte, estimado em 411 mil barris por dia. Esta decisão, que sucede a um movimento semelhante ocorrido anteriormente, reacendeu receios de excesso de oferta numa conjuntura ainda marcada por fragilidades na procura global.
Segundo analistas do sector, o objectivo desta medida terá sido penalizar membros do cartel, como o Cazaquistão e o Iraque, que têm repetidamente ultrapassado as quotas acordadas. Ao forçar uma descida nos preços, a OPEP+ procurará reforçar o cumprimento das metas de produção e testar simultaneamente os limites actuais da procura internacional.

O impacto inicial foi expressivo, com o Brent a recuar para níveis abaixo dos 59 dólares por barril e o WTI a negociar abaixo dos 55,50 dólares, valores que não eram atingidos há cerca de quatro anos. Contudo, à medida que as tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China começaram a dar sinais de alívio, os preços inverteram a tendência e iniciaram uma trajectória de recuperação.

A confiança dos investidores foi reforçada pela suspensão, por um período de 90 dias, de uma parte significativa das tarifas comerciais, bem como por um entendimento preliminar entre os Estados Unidos e o Reino Unido. A este quadro somaram-se indicadores económicos vindos da China, onde as exportações superaram as expectativas e as importações de petróleo cresceram 7,5% face ao mesmo período do ano anterior, sinais encorajadores para a procura futura de energia.

Apesar das pressões associadas ao potencial aumento da oferta, o sentimento positivo manteve-se ao longo do mês, sustentado por um ambiente global de menor aversão ao risco. Ainda assim, a evolução do mercado continuou condicionada por vários factores de incerteza.

Entre esses factores destaca-se a possibilidade de novos aumentos de produção por parte da OPEP+, com relatos a indicarem que os países do cartel debatem novos acréscimos de produção que poderão entrar em vigor já no próximo trimestre. Em paralelo, permanece a expectativa quanto a uma eventual reversão dos cortes voluntários de 2,2 milhões de barris por dia, implementados anteriormente com o objectivo de equilibrar o mercado.

No plano geopolítico, as tensões no Médio Oriente continuam a representar um factor de suporte para os preços. A possibilidade de um conflito entre o Irão e Israel, com implicações no fornecimento de petróleo, manteve-se como um risco latente, tal como as negociações nucleares entre Washington e Teerão, que decorrem actualmente com o objectivo de desbloquear o acesso iraniano ao mercado global de crude.

Balanço do mês: recuperação moderada num contexto incerto

O desempenho do mercado petrolífero em Maio reflecte um frágil equilíbrio entre sinais de retoma e pressões estruturais. A recuperação dos preços após os mínimos plurianuais de Abril traduz-se num ganho moderado, mas ainda insuficiente para garantir uma inversão clara da tendência de baixa registada no início do ano.
As próximas semanas poderão revelar-se decisivas, com os investidores atentos à evolução das políticas de produção da OPEP+, ao desenrolar das negociações comerciais e nucleares, e à solidez dos dados macroeconómicos nas principais economias consumidoras de energia.

A Semana: Petróleo encerra Maio sob nova pressão vendedora

Na recta final de Maio, os preços do petróleo voltaram a registar perdas, pressionados por uma combinação de factores geopolíticos e fundamentais. A retórica proteccionista dos Estados Unidos voltou a intensificar-se, com novas ameaças tarifárias por parte da administração Trump, reacendendo os receios em torno da procura global por matérias-primas.

A par destas tensões comerciais, o mercado foi ainda penalizado pela crescente probabilidade de um aumento adicional da produção por parte da OPEP+, bem como pelo possível regresso de volumes significativos de crude iraniano ao mercado internacional, caso as negociações nucleares entre Washington e Teerão resultem num levantamento das sanções actualmente em vigor.

Este enquadramento de incerteza e expectativa de maior oferta contribuiu para uma correção nos preços do crude. O Brent recuou cerca de 2% no acumulado da última semana, encerrando Maio nos 62,85 dólares por barril. Já o WTI registou uma desvalorização próxima de 1%, fixando-se nos 60,90 dólares.

Este movimento reforça a percepção de que o equilíbrio entre os fundamentos da oferta e da procura continua frágil, com o mercado altamente sensível a factores exógenos de natureza política e diplomática.

Gráfico Fonte XTB xStation 5



Ouro

O Ouro fecha Maio em torno dos níveis de abertura, num mês de forte volatilidade.

O preço do ouro terminou o mês de Maio praticamente inalterado face ao valor de abertura, após um período marcado por elevada volatilidade e movimentos contraditórios nos mercados financeiros globais.

A primeira metade do mês foi caracterizada por uma procura sólida pelo metal precioso, suportada por factores estruturais e conjunturais. A continuidade das compras por parte dos bancos centrais — com destaque para a China, que aumentou as suas reservas de ouro pelo sexto mês consecutivo — reforçou o posicionamento do ouro como activo estratégico de diversificação. De acordo com dados do Conselho Mundial do Ouro, o Banco Popular da China adicionou cerca de 2 toneladas em Abril, acumulando aproximadamente 31 toneladas no espaço de seis meses. Também o Banco Nacional da Polónia manteve-se como um dos principais compradores do ano, contribuindo para o saldo líquido positivo das compras por bancos centrais.

O contexto geopolítico instável e os receios em torno da sustentabilidade da dívida norte-americana continuaram a oferecer suporte à procura por activos de refúgio. Notícias de potenciais confrontos no Médio Oriente e ameaças tarifárias por parte da administração dos EUA ampliaram os níveis de incerteza, levando os investidores a proteger-se através do ouro.

Contudo, essa tendência foi contrariada por episódios pontuais de forte pressão vendedora. Em particular, o reforço do dólar norte-americano e o aumento do apetite pelo risco em períodos de recuperação dos mercados accionistas levaram a uma correcção significativa no valor do ouro, que chegou a cair quase 5% num curto espaço de tempo. A valorização do dólar reduziu a atratividade do metal precioso para investidores estrangeiros, ao passo que o alívio nas tensões comerciais em determinados momentos enfraqueceu a procura por activos defensivos.

Apesar destas oscilações, o ouro beneficiou de uma recuperação nos últimos dias de Maio, apoiada por uma nova vaga de aversão ao risco e por dados económicos frágeis, que reavivaram a expectativa de um ambiente global mais instável.

No cômputo geral, o mês de Maio revelou-se um verdadeiro espelho das forças contraditórias que actualmente moldam os mercados financeiros: por um lado, os fundamentos de longo prazo que sustentam a procura por ouro; por outro, as pressões de curto prazo decorrentes das flutuações cambiais e do sentimento dos investidores. O resultado foi um fecho de mês praticamente neutro, com o ouro a oscilar, mas a estabilizar em torno dos níveis com que iniciou o período.

Gráfico Fonte XTB xStation 5



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