A semana que começa
Tensões, tarifas, BCE e emprego

A semana que começa Tensões, tarifas, BCE e emprego

A combinação de riscos geopolíticos crescentes, incertezas comerciais e indicadores económicos, como a decisão de taxas do BCE e o relatório de emprego norte-americano, deverá marcar o ritmo da semana.

Num contexto de crescente incerteza global, os mercados enfrentam uma nova vaga de tensão entre os Estados Unidos e a China, a persistente indefinição nas negociações nucleares com o Irão e sinais de um endurecimento na postura comercial de Donald Trump. Estes desenvolvimentos surgem numa semana em que se espera a decisão de juros por parte do Banco Central Europeu e a publicação dos números do mercado de trabalho norte-americano, dois indicadores que poderão redefinir as expectativas de política monetária nos principais blocos económicos.




Tensões renovadas entre os Estados Unidos e a China agravam cenário geopolítico e económico.

As tensões comerciais e estratégicas entre os Estados Unidos e a China voltaram a intensificar-se nos últimos dias, com sinais crescentes de deterioração nas relações bilaterais, tanto no plano económico como no domínio da segurança regional.

A Casa Branca subiu o tom nas críticas a Pequim, acusando a China de incumprimento do recente acordo comercial celebrado em Genebra. O Presidente norte-americano, Donald Trump, afirmou que Pequim “violou totalmente” o entendimento alcançado, que previa uma trégua de 90 dias nas tarifas, em troca da retoma das exportações chinesas de terras raras — elementos críticos para a produção de semicondutores, automóveis e equipamento tecnológico. Segundo fontes citadas pelo Wall Street Journal, a administração norte-americana vê com crescente desconfiança os sucessivos atrasos na aprovação de licenças de exportação por parte de Pequim, lançando dúvidas sobre o compromisso chinês com o acordo.

A tensão entre Washington e Pequim estende-se também ao plano militar. O secretário da Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, participou esta semana no fórum de segurança Shangri-La Dialogue, em Singapura, onde voltou a acusar a China de estar “credivelmente a preparar-se para usar força militar” na região do Indo-Pacífico, com especial foco sobre Taiwan. Hegseth alertou para os riscos de um eventual confronto e apelou a uma maior cooperação entre os países da ASEAN (Associação de Nações do Sudeste Asiático), reforçando o compromisso dos EUA com a segurança na região e com o equilíbrio estratégico face à crescente assertividade de Pequim.
As reacções não tardaram. O Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês respondeu com dureza, avisando Washington para não “brincar com o fogo” em relação à questão de Taiwan, considerando inaceitável a utilização deste dossiê como “utensílio de negociação” para conter a China.

No terreno, os sinais de escalada multiplicam-se. As forças armadas chinesas realizaram exercícios militares em redor do recife de Scarborough, uma zona disputada no Mar do Sul da China, aumentando a presença da Guarda Costeira e intensificando patrulhas “de aplicação da lei”. Este reforço da actividade militar chinesa na região surge numa altura em que os Estados Unidos procuram fortalecer alianças com países do Sudeste Asiático, instando os parceiros regionais a reforçar as suas capacidades defensivas.

Paralelamente, apesar da deterioração do ambiente político, a administração norte-americana procura manter canais diplomáticos abertos. Fontes da Casa Branca revelaram tentativas para agendar um contacto direto entre Donald Trump e o Presidente chinês, Xi Jinping, na esperança de reatar as negociações comerciais e evitar uma nova vaga de escalada tarifária.
A tensão crescente entre as duas maiores economias do mundo reacende os receios nos mercados globais e complica um cenário internacional já marcado por múltiplas incertezas. Com o equilíbrio geoestratégico em risco e os canais diplomáticos sob pressão, os próximos desenvolvimentos poderão ser determinantes para o rumo das relações sino-americanas e, por extensão, para a estabilidade económica global.





Nova escalada tarifária dos EUA reacende tensões comerciais com aliados e preocupa indústria global.

O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou no final da semana uma nova vaga de tarifas sobre o aço, elevando as taxas actuais de 25% para 50%. A medida, que entrará em vigor já na próxima quarta-feira, 4 de junho, foi formalmente comunicada durante um comício na Pensilvânia e confirmada mais tarde pelo próprio Presidente através da rede social Truth Social.

A decisão suscitou críticas imediatas por parte de parceiros comerciais, em particular da União Europeia e do Canadá. A Comissão Europeia lamentou profundamente a decisão de Washington, sublinhando que esta “aumenta a incerteza económica global, eleva os custos para consumidores e empresas, tanto na Europa como nos EUA, e mina os esforços em curso para alcançar um acordo comercial”.

Entretanto, o chanceler alemão, Friedrich Merz, anunciou uma visita à Casa Branca já na próxima semana, agendada para quinta-feira, 5 de Junho, onde irá discutir directamente com Trump os impactos da política tarifária, bem como temas relacionados com os conflitos na Ucrânia e no Médio Oriente. A deslocação surge num momento delicado das relações transatlânticas, marcado por divergências crescentes em matéria comercial.

Do lado canadiano, as críticas foram ainda mais contundentes. O sindicato United Steelworkers (USW) considerou a medida um ataque direto à indústria e aos trabalhadores do Canadá e apelou a uma resposta firme e imediata por parte do governo de Otava.

Esta nova ofensiva tarifária por parte da administração Trump insere-se num contexto mais amplo de endurecimento da política comercial norte-americana, que tem vindo a afastar-se de um modelo de cooperação multilateral para abraçar uma abordagem mais proteccionista e centrada na reindustrialização dos Estados Unidos. A retórica de Trump visa reforçar a base industrial do país, mas está a gerar crescentes fricções com parceiros históricos e a lançar incerteza sobre o futuro dos fluxos comerciais globais.
Com as tensões comerciais a voltarem ao centro do debate económico, os mercados internacionais estarão atentos aos desdobramentos desta medida, bem como às possíveis retaliações por parte dos países visados.





EUA e Irão

O Irão avisou que a ameaça do Presidente Donald Trump de atacar instalações nucleares iranianas é uma "linha vermelha" e que, se ultrapassada, terá "consequências severas". Apesar de insistir que não pretende fabricar armas nucleares, Teerão defende o seu direito à energia nuclear.
Enquanto decorrem negociações indiretas, mediadas por Omã, a Agência Internacional de Energia Atómica revelou este fim de semana que o Irão aumentou em 50% o seu stock de urânio altamente enriquecido. Washington exige garantias de que o Irão não terá armas nucleares e acesso às suas instalações, o que Teerão só aceita em parte.
O Irão criticou duramente o relatório da AIEA, acusando-o de falta de imparcialidade e de se basear em pressões políticas dos Estados Unidos e aliados europeus. A tensão volta a subir, com o risco de colapso das conversações a crescer.



Dados Económicos



Estados Unidos da América
Como sempre, em todos os início de mês, o destaque vai para os dados do mercado de trabalho que serão divulgados na primeira sexta-feira, os nonfarm payrolls.
Os mercados esperam que a economia tenha criado em Maio 130 mil novos empregos, o número mais baixo desde Novembro de 2024, caindo dos 177 mil do mês de Abril. A taxa de desemprego deverá manter-se nos 4,2%, com os mercados a prever que os ganhos salariais médios/hora devam mostrar uma subida de 0,3%, acelerando dos 0,2% do mês anterior.
Mas até à divulgação destes dados iremos conhecer um conjunto alargado de indicadores.
Logo na segunda-feira teremos os números finais do PMI manufactureiro da S&P Global que deverá manter a leitura preliminar de 52,3. Mas as atenções irão estar antes nos dados do ISM manufactureiro, onde as estimativas apontam para que registe uma ligeira recuperação de 48,7 para 49,3. Os subíndices de preços pagos, da produção e do emprego serão também escrutinados de perto. Teremos ainda números da despesa com a construção.
Na terça-feira teremos os primeiros dados do emprego, com a divulgação do relatório JOLTS de abertura de novas vagas de emprego. Depois dos números do mês passado, o mais baixo desde Março de 2021, as previsões apontam para nova queda para 7,05 milhões de vagas. Iremos ter também os números das encomendas às fábricas de Abril, onde o consenso aponta para uma redução de 3,1%, após o aumento de 4,3% em Março, e ainda o índice de optimismo económico RCM/TIPP, que deverá mostrar uma subida de 47,9 para 49,1.
Na quarta-feira as atenções dividem-se entre o PMI de serviços do ISM e os dados privados do emprego, ADP. O índice de serviços deverá, segundo as estimativas, registar uma ligeira subida de 51,6 para 52,0. Os números do ADP deverão, segundo as previsões, mostrar um aumento de 110 mil novos postos de trabalho, subindo os 62 mil apresentados no mês passado. Iremos ter também a leitura final do PMI de serviços da S&P Global. No final do dia teremos o relatório Beige Book do Fed.
Na quinta-feira teremos os habituais números semanais de novos pedidos de subsídio de desemprego, onde as estimativas apontam para que recuem dos 240 mil da semana passada, para cerca de 230 mil. Iremos ter ainda os números da balança comercial de Abril, com as previsões a apontarem para um défice de 117,2 mil milhões de dólares, recuando dos 140,5 mil milhões do mês anterior.

Zona Euro
Numa semana relativamente ligeira de indicadores económicos, as atenções vão para a divulgação dos números da inflação da Zona Euro. Após conhecidos os números das principais economias europeias na semana passada, as estimativas apontam para que o agregado da Zona Euro mostre um abrandamento da inflação de 2,2% para 2,1%, com a inflação subjacente a cair de 2,7% para 2,5%. Em termos mensais os preços deverão mostrar um aumento de 0,1%, caindo dos 0,6% em Abril.
Teremos também dados da inflação à porta das fábricas, onde as estimativas apontam para uma queda de 1,8%, acelerando a queda do mês passado de 1,6%.
Iremos ter a divulgação da taxa de desemprego que deverá permanecer nos 6,2%.
Teremos os números finais do PIB do primeiro trimestre que deverão mostrar uma revisão em alta de 0,3% para 0,4%.
Já as leituras finais dos PMI manufactureiro e do de serviços do S&P Global deverão manter as leituras preliminares.
Teremos ainda os números das vendas a retalho que deverão mostrar em Abril um aumento de 0,2%, recuperando da redução de 0,1% no mês anterior.
Na Alemanha, iremos ter a divulgação dos números das encomendas às fábricas e da produção industrial que, segundo as estimativas, os primeiros deverão mostrar uma redução de 1,1% e os segundos uma queda de 0,9%. Teremos também os números da balança comercial de Abril que deverá mostrar um excedente de 20,2 mil milhões de euros, abaixo dos 21,1 mil milhões do mês anterior.
Em França, os números da produção industrial deverão estabilizar, após um aumento de 0,2% no mês anterior, e a balança comercial deverá mostrar um défice de 6 mil milhões de euros, ligeiramente abaixo dos 6,2 mil milhões do mês anterior.
Em Itália, as estimativas apontam para um crescimento das vendas a retalho de 0,2%, após a queda de 0,5% registada no mês anterior.

Reino Unido
A semana irá começar com o índice de preços das casas Nationwide, que deverá mostrar uma estabilização, após a queda de 0,6% no mês anterior.
Teremos ainda os números da aprovação de hipotecas, que deverá mostrar um ligeiro crescimento de 64 mil para 65 mil, enquanto os empréstimos líquidos a particulares deverão mostrar uma redução dos 13,8 mil milhões de libras do mês anterior, para 2,8 mil milhões de libras.
Iremos ter as leituras finais dos PMI da S&P Global das actividades manufactureiras e de serviços, e ainda o PMI da construção, onde o consenso aponta para uma ligeira recuperação de 46,6 para 47,2.
A semana terminará com o índice de preço de casas do Halifax, onde as estimativas apontam para um aumento de 0,4%, acelerando dos 0,3% do mês anterior.

Canadá
Por aqui, relativamente a dados económicos, as atenções irão estar também nos dados do mercado de trabalho.
A taxa de desemprego deverá, segundo as estimativas, subir de 6,9% para 7%, com a taxa de participação a aumentar também, ligeiramente, de 65,3% para 65,4%. As previsões apontam para um pequeno crescimento do número de empregos, 5 mil, com um aumento de 15 mil empregos em part-time e uma redução de 10 mil empregos a tempo inteiro.
A semana irá começar com a divulgação do PMI manufactureiro, com o consenso a apontar para uma subida ligeira de 45,3 para 45,8.
Teremos também os números da balança comercial de Abril que deverá voltar a mostrar um excedente (200 milhões de dólares canadianos), após o défice do mês anterior de 500 milhões de dólares canadianos.
Iremos ter ainda o índice Ivey PMI, onde as estimativas apontam para uma subida de 47,9 para 48,3.

Suíça
Esta semana iremos ter um conjunto interessante de dados económicos. As atenções começam por ir para os números do PIB do primeiro trimestre, com as previsões a apontarem para um crescimento económico de 0,4%, acelerando dos 0,2% do trimestre anterior. Teremos ainda os números das vendas a retalho do mês de Abril, onde as previsões apontam para um crescimento mensal de 1%, com a medida anual a aumentar de 2,2% para 2,5%. Iremos ter a divulgação do índice PMI manufactureiro, com o consenso a apontar para uma subida de 45,8 para 48,1.
Na terça-feira os olhos estarão postos nos números da inflação de Maio. Os preços em termos mensais deverão mostrar um aumento de 0,2%, após terem estabilizado no mês anterior, com as previsões a apontarem para uma inflação anual negativa de 0,2%.
Por fim, a taxa de desemprego deverá manter-se nos 2,8%.

China
Após os PMI oficiais, esta semana é a vez dos PMI privados da Caixin. As estimativas apontam para que o índice composto recue de 51,1 para 50,7, com o índice manufactureiro a subir de 50,4 para 50,6 e o de serviços de 50,7 para 51,1.

Japão
A semana começa com a leitura final do PMI manufactureiro e posteriormente o de serviços.
As atenções irão estar principalmente nos dados dos ganhos médios salariais de Abril, onde as estimativas apontam para um crescimento de 2,6%, acelerando dos 2,3% do mês anterior.
Teremos ainda os números da despesa das famílias, onde as estimativas apontam para uma desaceleração do crescimento em termos anuais de 2,1% do mês anterior, para 1,6% em Abril.

Austrália
Por aqui, o destaque vai para a divulgação do PIB do primeiro trimestre deste ano. As previsões apontam para que, em termos trimestrais, a economia canadiana mostre um crescimento de 0,4%, desacelerando dos 0,6% do trimestre anterior, com a medida anual a acelerar dos 1,3% para 1,5%.
Teremos também os números dos lucros operacionais empresariais, relativos ao primeiro trimestre, com as previsões a apontarem para um crescimento de 1,4% em termos trimestrais, desacelerando dos 5,9% do trimestre anterior.
A balança comercial de Abril deverá mostrar um excedente de 6,05 mil milhões de dólares australianos, recuando ligeiramente dos 6,9 mil milhões do mês anterior.



Bancos Centrais



O Banco Central Europeu
Tudo aponta para que o Banco Central Europeu concretize um corte de 25 pontos base na reunião desta semana, reduzindo a taxa de depósito dos actuais 2,25% para 2,00%. A expectativa do mercado é quase consensual, sustentada pela continuação do abrandamento da inflação na Zona Euro, pela recente valorização do euro e pela queda dos preços do petróleo, factores que reforçam o argumento a favor de um alívio da política monetária.
Ainda assim, a decisão poderá não ser unânime. Membros tradicionalmente mais hawkish do Conselho de Governadores, como Robert Holzmann e Isabel Schnabel, manifestaram recentemente reservas quanto à oportunidade de um corte já neste mês de Junho. A decisão final poderá, por isso, reflectir não apenas os dados económicos mais recentes, mas também as divergências internas sobre o ritmo apropriado de normalização monetária.
As atenções estarão igualmente centradas nas novas projecções macroeconómicas do staff do BCE. As actualizações poderão fornecer pistas relevantes sobre a trajectória futura das taxas de juro, incluindo o espaço disponível para novos cortes até ao final do ano.

O Banco do Canadá
O banco central canadiano enfrenta uma decisão delicada na reunião desta semana, com os mercados divididos entre a expectativa de um corte de 25 pontos base e a manutenção da actual taxa de juro directora nos 2,75%.
Apesar da inflação global se manter controlada, a inflação subjacente tem vindo a mostrar sinais de aceleração, o que levanta dúvidas sobre o timing de um eventual alívio monetário. Paralelamente, as projecções macroeconómicas apontam para uma subida da taxa de desemprego, sugerindo um arrefecimento da actividade económica que poderá justificar uma abordagem mais acomodatícia.
A política comercial dos Estados Unidos continua também a ser um factor de incerteza relevante. Apesar de contactos diplomáticos recentes, nomeadamente entre o primeiro-ministro canadiano, Mark Carney, e o presidente norte-americano, Donald Trump, o risco de novas tarifas sobre produtos canadianos permanece, criando pressão adicional sobre a economia do país.
Neste contexto, o banco central canadiano poderá optar por antecipar-se a eventuais choques externos com uma redução preventiva da taxa directora, privilegiando uma postura mais flexível face à deterioração potencial do cenário económico global.


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