Semana Revista
Donald Trump

Semana Revista Donald Trump

Com uma semana vazia de indicadores económicos de primeira linha, tanto na União Europeia como nos Estados Unidos, o grande motor dos mercados voltou a estar em Donald Trump.

Donald Trump teve uma semana particularmente intensa no plano político e diplomático. No campo comercial, voltou a agitar os mercados ao ameaçar vários parceiros com novas tarifas de importação, formalizadas através do envio de cartas oficiais. Inicialmente previstas para entrarem em vigor a 9 de Julho, as tarifas foram entretanto adiadas para 1 de Agosto, permitindo uma janela adicional para negociações bilaterais.
Em matéria geopolítica, Trump manifestou confiança num possível cessar-fogo em Gaza, ao mesmo tempo que endureceu o discurso em relação à Rússia, prometendo sanções adicionais ao regime de Vladimir Putin e reforço do apoio militar à Ucrânia, com o envio de mais armamento e munições.
No plano interno, manteve a pressão sobre a Reserva Federal, criticando novamente Jerome Powell pela manutenção das taxas de juro em níveis que considera excessivamente elevados, insistindo na necessidade de cortes.




Trump reabre a frente tarifária e envia cartas com ameaças comerciais a 22 países

Os Estados Unidos voltaram a agitar os mercados internacionais com o envio de cartas oficiais a 22 países, anunciando novas tarifas de importação que poderão entrar em vigor já a 1 de Agosto. Esta nova ofensiva comercial, liderada pelo presidente Donald Trump, retoma o tom proteccionista que marcou o seu primeiro mandato e reacende o tema das guerras comerciais no panorama global.

As cartas, que ficaram conhecidas nos bastidores como “Letter Day”, comunicam a imposição de tarifas adicionais que variam entre 20% e 50% para determinados produtos importados. Países como Japão, Coreia do Sul, Brasil e outros parceiros estratégicos receberam o aviso. Ainda assim, foi concedido um novo prazo de quatro semanas para que decorressem negociações bilaterais que possam evitar a aplicação efectiva das tarifas.

Apesar do tom duro, com frases como “sem mais prorrogações”, a decisão de prolongar o prazo mostra que ainda há espaço para acordo. A estratégia parece ser a de manter a pressão sobre os parceiros comerciais, mas ao mesmo tempo evitar um choque económico imediato.
Além disso, uma novidade nesta ronda de comunicações foi a ameaça de aplicar tarifas adicionais de 10% a países associados aos BRICS (China, Índia, Brasil, Rússia e África do Sul), caso avancem com medidas de desdolarização, ou seja, com esforços para reduzir a dependência do dólar nas trocas internacionais. Esta medida levanta dúvidas sobre a sua aplicabilidade prática, mas revela uma preocupação crescente dos Estados Unidos com a perda de influência do dólar no comércio mundial.
Do ponto de vista económico, este novo capítulo da política comercial norte-americana cria incerteza entre os parceiros e no próprio mercado interno. Para já, os investidores e empresas afectadas aguardam por desenvolvimentos até ao final de Julho, esperando que se chegue a soluções negociadas.

Em suma, os Estados Unidos voltam a recorrer às tarifas como instrumento de pressão, num movimento que visa defender a competitividade interna, mas que poderá ter custos elevados se a retaliação dos parceiros vier a concretizar-se. Até lá, a ameaça paira, e a incerteza mantém-se.





Trump volta a atacar Powell enquanto Fed revela divisões internas

Num contexto político e económico já marcado pela incerteza, Donald Trump voltou esta semana a criticar abertamente o presidente da Reserva Federal, Jerome Powell. O presidente norte-americano acusou o Fed de manter as taxas de juro demasiado elevadas, prejudicando, na sua visão, a competitividade da economia dos Estados Unidos.

Esta semana foram divulgadas as minutas da última reunião da Reserva Federal, realizada em Junho. O documento revelou um ambiente de incerteza dentro do Comité de Política Monetária (FOMC), especialmente no que toca ao impacto que as recentes ameaças tarifárias poderão ter sobre a inflação nos próximos meses. As opiniões divergem: enquanto alguns membros reconhecem o risco de subida de preços, outros sublinham que o efeito poderá ser apenas temporário.

Essa divisão interna também se reflectiu nas perspectivas quanto ao momento e ao ritmo de futuros cortes de juros. Apesar do famoso “dot plot”, o gráfico das projeções dos membros do FOMC, já ter sinalizado essa divergência no mês passado, as minutas confirmam que não há consenso claro. Membros como Christopher Waller e Michelle Bowman admitiram estar abertos à possibilidade de um corte já em Julho, caso os dados económicos mostrem sinais de fraqueza.

Contudo, esse cenário perdeu força com a divulgação do relatório de emprego de Junho, que superou as expectativas do mercado e mostrou que o mercado laboral norte-americano continua relativamente resiliente. Esse resultado acabou por reduzir a probabilidade de um corte iminente, pelo menos na reunião deste mês.

Para os mercados, a principal leitura é que o Fed continua dependente dos dados e que qualquer decisão sobre juros será feita com base na evolução concreta da economia, incluindo os efeitos potenciais das novas tarifas comerciais. Ainda assim, a pressão política, especialmente vinda de Donald Trump, poderá complicar a gestão da comunicação e reforçar os riscos de interferência externa sobre a independência da política monetária.





BCE: vozes divergentes sobre novos cortes de juros, ou não

Ao longo da semana, vários membros do Conselho Executivo do BCE intervieram publicamente, deixando claro que, apesar das recentes flexibilizações monetárias, as perspectivas sobre futuras decisões divergem.

Fabio Panetta reforçou um tom mais expansionista. Em declarações durante um evento bancário em Itália, frisou que se os riscos à actividade económica se agravarem e acentuarem a desinflação, seria "apropriado continuar a aliviar a política monetária". Panetta lembra que a inflação deverá situar-se nos 1,4 % no início de 2026, regressando ao objectivo de 2 % apenas no ano seguinte, e defende uma abordagem monetária flexível, avaliando com cuidado cada reunião do BCE.

Por contraste, Isabel Schnabel adoptou uma postura mais cautelosa. Em entrevista à Econostream, apontou que a inflação está bem ancorada em torno dos 2 %, o crescimento económico surpreendeu positivamente e o impulso fiscal na Alemanha sustenta o outlook. Segundo Schnabel, os juros actuais situam-se num nível confortável dentro da zona neutra (entre 1,75 % e 2,25 %), pelo que "a fasquia para um novo corte é muito elevada", recomendando agir apenas perante desvios relevantes da meta de inflação.

Também Philip Lane, economista-chefe do BCE, tem defendido que futuros cortes só fazem sentido perante alterações materiais no cenário inflacionista e que não devem ocorrer ajustes com base em flutuações temporárias (p. ex., preços do petróleo). Esta linha reforça uma abordagem mais estável e menos reactiva.

Outros membros, como Holzmann, de Guindos, Vujčić, Lane em outras intervenções, e Nagel, também deram o seu contributo ao debate, sublinhando nuances entre prudência e abertura a mais cortes conforme os dados evoluam. De Guindos, por exemplo, expressou a esperança de que a taxa de câmbio se mantenha estável para evitar impactos inflacionistas adicionais, enquanto Vujčić afirmou que as decisões futuras dependerão dos próximos dados.

Em resumo, esta semana assistiu-se a um debate interno no BCE que equilibra dois vectores:
- Permanência cautelosa: representada por Isabel Schnabel e Philip Lane, que ressaltam o progresso na inflação e uma economia mais resistente, argumentando que a margem para cortes adicionais é hoje limitada.
- Flexibilidade condicional: advogada por Panetta e outros, que permanecem atentos a sinais de fraqueza económica ou de desinflação persistente que justifiquem ajustes em baixa.

A estratégia resultante parece assim caminhar numa linha intermédia: a política monetária está confortável nestes níveis, mas permanece dependente dos dados. Qualquer corte futuro será avaliado com base em riscos concretos ao crescimento ou à inflação que emergirem nas próximas semanas.



Dados Económicos




Nos Estados Unidos tivemos uma semana bem tranquila de dados económicos.
Começámos com o índice de pequenas e médias empresas NFIB que recuou de 98,8 para 98,6,contrariando as estimativas de uma ligeira subida para 98,9.
Os números do crédito ao consumo de Maio caíram dos 16,9 mil milhões de dólares, revistos em baixo, do mês de Abril, para 5,1 mil milhões, bem abaixo dos 10,6 mil milhões de dólares esperados.
E finalmente na quinta-feira tivemos os números semanais de novos pedidos de subsídio de desemprego, que caíram dos 232 mil da semana anterior, revistos em baixo, para 227 mil, abaixo das estimativas que apontavam para cerca de 235 mil.

Na Zona do Euro foi também uma semana bastante ligeira de indicadores económicos.
As atenções estiveram especialmente voltadas para o índice de confiança do investidor Sentix, que subiu de 0,2 para 4,5, superando largamente os 1,1 esperados pelo mercado, e registou o valor mais elevado desde Fevereiro de 2022.
Sob o foco do mercado esteve também a divulgação dos números das vendas a retalho do mês de Maio. Os números do mês de Abril foram revistos em alta, mostrando um aumento de 0,3% e em Maio as vendas caíram 0,7%, ligeiramente melhor das estimativas do mercado que apontavam para uma redução de 0,8%.
Na Alemanha a produção industrial surpreendeu os mercados ao mostrar um crescimento de 1,2%, contrariando estimativas de uma queda de 0,6%, com os números do mês anterior a serem revistos em baixo para -1,6%. A balança comercial mostrou um excedente acima do esperado de 18,4 mil milhões de euros e acima do mês anterior de 15,8 mil milhões, revistos em alta. O índice de preços grossistas mostrou uma subida de 0,2%, em linha com as previsões, após a contracção de 0,3% no mês anterior.
Tivemos os números finais da inflação na Alemanha e em França. Os primeiros mantiveram as leituras preliminares de 0% em termos mensais, enquanto em França foram revistos em alta de 0,3% para 0,4%.
Em França, a balança comercial saiu em torno das previsões do mercado, mostrando um défice de 7,8 mil milhões de euros, com o défice do mês anterior a ser revisto em baixo para 7,7 mil milhões de euros.
Em Itália, a produção industrial caiu 0,7%, contrariando estimativas que apontavam para um ligeiro crescimento de 0,1% e com os números do mês anterior a serem revistos em baixo para um crescimento de 0,9%.

No Reino Unido as atenções foram para os dados do PIB do mês de Maio que desiludiram os mercados ao mostrarem uma contracção da economia britânica de 0,1%, face a previsões de um crescimento de 0,1%, ainda assim melhor do que a queda de 0,3% do mês anterior.
Mas não foram só os números do PIB que desiludiram os mercados. A produção industrial caiu 0,9%, contrariando estimativas de um aumento de 0,4% e acelerando a queda do mês anterior de 0,6%. A produção da construção mostrou um crescimento de 1,2%, face ao mesmo período do ano passado, abaixo das estimativas de 1,7% e do crescimento de 3,6%, revistos em alta, do mês anterior.
A balança comercial de bens mostrou um défice de 21,7 mil milhões de libras, ligeiramente maior do que o esperado de 21,5 mil milhões e dos 22,4 mil milhões, revistos em baixo, do mês anterior.
No início da semana tivemos ainda o índice de preço das casas do Halifax, que mostrou uma estabilização, face a uma redução esperada de 0,1% e após a queda de 0,4% no mês anterior.

No Canadá as atenções estiveram voltadas principalmente para os dados do mercado de trabalho.
A taxa de desemprego caiu inesperadamente de 7,0% para 6,9%, face a previsões de se manter inalterada, com a taxa de participação a subir de 65,3% para 65,4, ficando abaixo das estimativas de 65,5%. A economia canadiana aumentou em 83,1 mil os postos de trabalho em Junho, bem mais do que os 10 mil esperados. Foram mais 13,5 mil empregos a tempo inteiro e 69,5 mil a tempo parcial, números bem acima das estimativas que apontavam para uma redução de 11 mil empregos a tempo inteiro e um aumento de 21 mil em part-time. O salário médio hora mostrou um aumento de 3,2%, abaixo do mês anterior e das estimativas de 3,5%.
Tivemos também o índice Ivey PMI que subiu de 48,9 para 53,3, acima dos estimados 49,1, voltando para terreno de expansão e em máximos dos últimos três meses, e ainda os números das licenças de construção que subiram inesperadamente 12%, após a queda de 6,8% do mês anterior, bem acima de um pequeno aumento esperado de 0,9%.

Na Suíça foi uma semana praticamente vazia de indicadores económicos, onde tivemos o índice de confiança do consumidor SECO que subiu de -37 para -32, acima dos esperados -35.
Os números das reservas em moeda estrangeira do Banco Nacional da Suíça mostraram uma subida de 704 mil milhões de francos suíços para 713 mil milhões.

Na China as atenções começaram por ir para os dados da inflação, com o índice de preços no consumidor em Junho a voltar a ter um crescimento positivo pela primeira vez desde Janeiro, subindo para 0,1% na comparação anual, face a -0,1% em Maio, superando as expectativas do mercado.
Já o índice de preços do produtor, em termos anuais, caiu ainda mais em deflação, acelerando dos -3,3% em Maio, para -3,6% em Junho, bem abaixo dos -3,2% estimados pelo mercado.

No Japão a semana começou com os números dos ganhos médios salariais que registaram uma inesperada desaceleração dos 2% do mês anterior, face às estimativas do mercado para uma aceleração para 2,4%.
Os números da conta-corrente mostraram um saldo positivo de 2,82 triliões de ienes, ficando acima dos 2,58 triliões esperados, e dos 2,31 triliões de ienes do mês anterior.
O índice da confiança dos observadores económicos saiu em linha com o estimado, subindo de 44,4 para 45,0, ligeiramente abaixo dos 45,2 previstos.
Os números preliminares das encomendas de maquinaria em Junho caíram 0,5%, bem abaixo do crescimento de 3,4% do mês anterior.
Os dados da inflação à porta das fábricas saíram em linha com as estimativas, com o índice de preços no produtor em termos anuais a cair de 3,3%, revistos em alta, em Maio, para 2,9% em Junho.

Na Nova Zelândia, os números das chegadas de visitantes de Maio mostraram um aumento de 6,1% face ao mesmo período do ano passado, caindo dos 18,8% do mês anterior e ficando abaixo do aumento esperado de 15,8%.
O índice manufactureiro BusinessNZ subiu de 47,5 para 48,8, acima dos 48,0 estimados.

Na Austrália foi uma semana também bastante tranquila, relativamente a indicadores económicos, com o índice de anúncios de empregos ANZ-Indeed a mostrar um aumento de 1,8%, bem mais do que os 0,2% esperados, e após a queda revista em baixo de 0,6% do mês anterior, e ainda o índice de confiança empresarial NAB, a subir de 2 para 5.



Os Bancos Centrais



The Reserve Bank of Australia surpreendeu esta semana ao manter a taxa de juro de referência nos 3,85%, contrariando as expectativas do mercado, que apontavam para um corte até aos 3,60%.
A decisão dividiu o conselho de política monetária: seis dos nove membros votaram a favor de manter a taxa inalterada. Segundo o RBA, a inflação tem evoluído de forma geral em linha com as previsões de Maio, embora com algumas surpresas marginais em alta. Para a autoridade monetária, é ainda necessário obter mais dados que confirmem de forma clara que a inflação caminha de forma sustentável para a meta dos 2,5%.
O banco destacou também sinais positivos na procura interna e na evolução dos rendimentos das famílias, ajudados por um mercado de trabalho ainda apertado. Ainda assim, o RBA reconhece que o panorama económico continua incerto, especialmente no que toca ao comércio externo.
A governadora Michele Bullock sublinhou preocupações com o aumento dos custos na construção de habitação e em bens duradouros, dois elementos a seguir de perto na próxima divulgação do índice de preços no consumidor (CPI). Até à reunião de Agosto, os dados trimestrais da inflação e mensais do emprego deverão ser decisivos para os próximos passos da política monetária.

The Reserve Bank of New Zealand decidiu esta semana manter a taxa de juro inalterada nos 3,25%, uma decisão amplamente esperada tanto pelos mercados como pelos analistas.
A possibilidade de um novo corte chegou a ser considerada, devido à fraqueza do crescimento económico no curto prazo e ao risco de que essa debilidade prolongada possa colocar pressão descendente sobre a inflação a médio prazo. No entanto, o RBNZ optou por esperar pela próxima reunião, em Agosto, avaliando que os riscos inflacionistas no imediato justificam uma abordagem mais prudente.
A inflação, que se situava nos 2,5% no primeiro trimestre, é agora esperada subir ligeiramente, aproximando-se do limite superior da meta de 1 a 3%, antes de voltar a convergir para os 2% no início de 2026, apoiada por alguma folga na capacidade produtiva.
A manutenção da taxa oferece também tempo ao banco central para observar melhor a evolução do contexto económico internacional, nomeadamente em relação a tarifas e outras medidas comerciais, e perceber se a fraqueza interna se irá prolongar ou não.
Nos mercados, os contratos de juro continuam a prever uma probabilidade de dois em três para haver um corte na próxima reunião.

O Banco da Coreia manteve esta semana a taxa de juro de referência nos 2,5%, em linha com as expectativas do mercado.
A decisão reflecte o equilíbrio delicado que a autoridade monetária procura manter entre o apoio à economia, ainda fragilizada pelas incertezas no comércio internacional, e a necessidade de evitar desequilíbrios financeiros, nomeadamente no mercado imobiliário, onde os preços das casas continuam a subir de forma significativa.
A manutenção da taxa permite ao banco central preservar uma política ainda acomodatícia, num contexto em que o crescimento económico enfrenta desafios, ao mesmo tempo que mantém vigilância sobre riscos de excesso de valorização nos activos.



Mercados accionistas



A semana do “Dia da Libertação 2.0” acabou por ser a semana das tarifas adiadas.

Os mercados accionistas começaram a semana expectantes pelo que poderia vir por parte da política comercial dos Estados Unidos e não tiveram de esperar muito por conhecê-las. Cedo foram divulgadas cartas para países asiáticos como o Japão e a Coreia do Sul que foram “presenteados” com impostos de 25% sobre as suas exportações para os Estados Unidos, mas com Donald Trump a adiar a imposição dessas tarifas de 9 de Julho para 1 de Agosto, abrindo assim a porta a mais negociações. Anunciou também um novo imposto sobre mais um metal, desta vez o cobre, em 50%, também a partir de 1 de Agosto, enquanto ameaçou imposição de uma tarifa de 200% sobre produtos farmacêuticos, embora com um período de transição de um ano. O Brasil foi alvo de uma tarifa de 50%, num gesto com forte carga política, já que na notificação oficial é referido o “tratamento injusto” a Jair Bolsonaro. Também o Canadá viu ser imposta uma tarifa de 35% sobre produtos que não estejam cobertos pelo acordo USMCA (United States-Mexico-Canada Agreement). Apesar deste ruído político-comercial, os mercados acionistas mantiveram-se relativamente resilientes.

Nos Estados Unidos, a NVIDIA fez história ao tornar-se a primeira empresa do mundo a atingir os 4 triliões de dólares em capitalização bolsista, contribuindo para novos máximos históricos no S&P 500 e no Nasdaq. Ainda assim, a semana terminou em terreno negativo: o Dow Jones caiu 1,02%, o S&P 500 recuou 0,31% e o Nasdaq 0,08%.

Na Ásia, o desempenho dos mercados foi misto. O destaque positivo veio da Coreia do Sul, onde o Kospi subiu 3,98%, liderando os ganhos regionais. Na China, a semana também foi positiva, com o CSI300 a avançar 0,82%, o Shanghai Composite 1,09% e o Hang Seng de Hong Kong 0,93%. Em sentido contrário, o Nikkei japonês recuou 0,61% e o Topix 0,17%, enquanto na Austrália o ASX200 caiu 0,27%. A Índia teve uma semana negativa, com os principais índices a cederem pouco mais de 1%.

Na Europa, o tom foi claramente positivo. O índice Euro Stoxx 600 subiu 1,15%, enquanto o Euro Stoxx 50 ganhou 1,81%. O DAX alemão liderou os ganhos entre as principais praças, com uma valorização de 1,90%. Em França, o CAC 40 avançou 1,73% e, no Reino Unido, o FTSE 100 subiu 1,34%, renovando máximos históricos durante a semana.
Em contraciclo esteve o mercado português. O índice PSI recuou 0,65%, contrariando a tendência positiva dos seus pares europeus.

Gráfico Fonte XTB xStation 5


Mercado cambial



Esta semana, o tema das tarifas voltou a ser o grande motor dos mercados financeiros em geral e em especial do mercado cambial.

Num primeiro momento, com constantes anúncios de tarifas a vários parceiros comerciais por parte dos Estados Unidos, o dólar acabou por ser o grande beneficiado da semana, enquanto os países com tarifas mais elevadas terminaram por ver as suas moedas pressionadas.
Os mercados não valorizaram esta semana as pressões feitas por Trump a Powell e o índice do dólar, DXY, recuperou dos mínimos registados na semana anterior a 96,00, para terminar esta semana em torno de 97,50, com um ganho semanal de cerca de 0,90%.

O EUR/USD caiu do recente máximo do ano a 1,1830, registado na semana passada, para terminar abaixo dos 1,1700 (1,1690), numa semana de volatilidade bastante contida, face às expectativas para esta semana.

A libra registou uma semana de perdas, recuando face ao euro cerca de 0,4% e ao dólar cerca de 1,1%. O GBP/USD caiu de níveis de abertura, perto de máximos, de 1,3644, para terminar perto de mínimos abaixo de 1,3500. O EUR/GBP subiu de um mínimo de 0,8597, terminando em máximos a 0,8665.

O iene foi a moeda do G10 que mais perdeu esta semana, caindo cerca de 2% face ao dólar e de 1,2% face ao euro. O USD/JPY subiu de níveis de abertura, e mínimos, de 144,45 até fechar em máximos em torno de 147,42, enquanto o EUR/JPY subiu de 169,90 até ao fecho a 172,35.

O franco suíço continuou esta semana a negociar em alta, seguindo em torno dos recentes máximos face ao dólar, embora recuando ligeiramente esta semana, enquanto avançou face ao euro. O USD/CHF manteve-se esta semana num intervalo apertado entre um mínimo de 0,7920 e um máximo de 0,7995, enquanto o EUR/CHF caiu de 0,9367 até 0,9302, em torno do qual fechou a semana.

Dentro das moedas do G10 de destacar o comportamento da coroa sueca, a única que conseguiu terminar a semana registando um ganho (muito modesto) face ao dólar norte-americano e ganhando perto de 1% face ao euro. O USD/SEK abriu a semana a 9.559 para a terminar a 9,555, enquanto o EUR/SEK caiu de 11,278 até aos 11,113.

Nos mercados emergentes, as moedas do Brasil e da África do Sul (pertencentes aos BRICS) foram as que mais perderam esta semana, e o peso mexicano foi a que mais ganhou.
O real brasileiro perdeu esta semana cerca de 2,50% face ao dólar e de 1,8% face ao euro, enquanto o rand sul-africano perdeu perto de 2,1% face ao dólar e de 1,3% face ao euro.
o peso-mexicano terminou a semana recuando marginalmente face ao dólar, enquanto ganhou cerca de 0,7% face ao euro.

Gráfico Fonte XTB xStation 5


Commodities



Petróleo

Os mercados petrolíferos voltaram a subir esta semana, dando continuidade à recuperação iniciada na semana passada, após as fortes quedas registadas no final de Junho. Apesar de um novo aumento da produção por parte da OPEP+, os preços mantiveram uma trajectória positiva, impulsionados por factores geopolíticos, sinais de confiança por parte da Arábia Saudita e expectativas firmes quanto à evolução da procura global.

Os preços até começaram a semana em queda, após o anúncio, no fim de semana, de um novo aumento de produção por parte da OPEP+. O cartel e os seus aliados acordaram um reforço da oferta de 548 mil barris por dia a partir de Setembro, acima dos 411 mil bpd previamente planeados, dando assim continuidade ao plano de reversão dos cortes aplicados nos últimos anos. No entanto, os receios iniciais quanto ao excesso de oferta acabaram por ser atenuados.

Um dos factores que ajudou a suportar os preços foi o aumento do preço de venda do crude saudita para os compradores asiáticos, sinal claro de que Riade acredita num mercado suficientemente robusto para absorver a oferta adicional. Esta decisão foi interpretada pelos investidores como um voto de confiança na dinâmica da procura, em especial nos mercados asiáticos.

Nos Estados Unidos, os dados semanais mostraram um aumento nos inventários de crude, que normalmente pesaria nos preços, mas esse efeito foi neutralizado por uma diminuição nos inventários de gasolina, indicando uma procura sólida por derivados, especialmente durante a época alta de verão.

A nível geopolítico, o ambiente manteve-se tenso, com novos ataques à navegação no Mar Vermelho a elevarem os prémios de risco. Para além disso, circulam rumores de novas sanções internacionais à Rússia, o que voltou a colocar pressão sobre a oferta futura. Esses dois factores contribuíram para reforçar o sentimento positivo no mercado.

Do lado estrutural, a OPEP publicou o seu relatório anual (World Oil Outlook 2025), no qual reafirma uma visão optimista para a procura global a longo prazo. A organização prevê que a procura mundial de petróleo atinja quase 123 milhões de barris por dia em 2050, face aos 103,7 milhões em 2024. Entre 2024 e 2030, a procura deverá crescer cerca de 9%, com a Índia, o resto da Ásia, o Médio Oriente e África a liderarem esse crescimento.

Em contraste, a Agência Internacional de Energia (AIE) revelou uma perspectiva mais cautelosa no curto prazo. No seu relatório de Julho, reviu em baixa o crescimento da procura para 2025, para 700 mil barris por dia, e manteve uma estimativa igualmente modesta para 2026 (720 mil bpd). Ao mesmo tempo, a agência reviu em alta a estimativa para a oferta global, que deverá crescer 2,1 milhões de barris por dia em 2025, reflectindo precisamente os novos aumentos de produção da OPEP+.

Apesar destas divergências nas previsões, o mercado respondeu de forma positiva. O Brent subiu esta semana 3,4%, passando dos mínimos de $67,35 para máximos de $70,70 por barril. Já o WTI ganhou 3,3%, recuperando de $65,50 para $68,95 por barril.

Gráfico Fonte XTB xStation 5



Ouro

Os preços do ouro encerraram a semana com ganhos sólidos, impulsionados pela retórica proteccionista dos Estados Unidos e pela procura por activos seguros em momentos de tensão, mesmo perante a força do dólar americano.

Apesar da apreciação do dólar e de um mercado laboral sólido, o ouro teve uma semana positiva, impulsionado por renovadas tensões comerciais, incerteza geopolítica e forte procura por segurança.

O preço ficou contido num intervalo relativamente apertado, entre um mínimo de 3.282,75 dólares por onça e um máximo de 3.368,90, tendo o preço terminado a semana a 3.356,30, em torno do nível onde a iniciou.

Gráfico Fonte XTB xStation 5



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