A semana que começa
Tensões, inflação e resultados

A semana que começa Tensões, inflação e resultados

Incertezas políticas em França e Japão, tensões Estados Unidos - China e arranque da época de resultados: uma semana de múltiplos riscos, onde “talvez” se conheçam os dados da inflação norte-americana.

A nova semana abre-se num contexto de elevada volatilidade política e económica, com França e Japão a continuarem no centro das atenções dos mercados, enquanto nos Estados Unidos renascem as tensões comerciais e geopolíticas com a China, num momento em que se aproxima o fim da trégua comercial entre as duas maiores economias do mundo e onde nos Estados Unidos continua a paralisação governamental.

Em França, Sébastien Lecornu foi reconduzido como primeiro-ministro de França pelo Presidente Emmanuel Macron poucos dias após a sua renúncia, num contexto de profunda crise política. Esta recondução representa uma tentativa de Macron em manter estabilidade e continuidade, sem recorrer a eleições antecipadas. Lecornu aceitou a missão "por dever", reconhecendo a necessidade de pôr fim à crise que está a exasperar os franceses e a prejudicar a imagem do país.

A tarefa de Lecornu passa agora por formar um novo governo e, sobretudo, apresentar e aprovar um orçamento até ao final do ano, num parlamento fragmentado e hostil, onde a oposição, tanto de esquerda (França Insubmissa) como de direita (Rassemblement National), já prometeu apresentar moções de censura e boicotar o novo executivo.

Embora Lecornu tenha sido reconduzido, a sua posição é frágil e enfrenta críticas intensas, com os adversários a classificarem o governo como uma "piada de mau gosto" e uma "humilhação para o povo francês". A recondução mostra a falta de alternativas viáveis para Macron e abre um novo capítulo de incerteza política, com os próximos dias a serem decisivos para a sobrevivência do governo e para as decisões fiscais que poderão definir o futuro económico de França.





No Japão, a vitória de Sanae Takaichi na liderança do Partido Liberal Democrata (PLD) gerou inicialmente um rali nos mercados, com o Nikkei a atingir novos máximos históricos, impulsionado pelas expectativas de políticas expansionistas e de estímulo fiscal contínuo, uma continuação do “Abenomics”. No entanto, o entusiasmo inicial dissipou-se com o anúncio da saída do Komeito, parceiro de coligação há mais de 25 anos, que alega falta de respostas sobre reformas políticas e financeiras.

Este rompimento enfraquece a posição de Takaichi antes mesmo de ser formalmente nomeada primeira-ministra e coloca em causa a estabilidade do futuro governo. Os mercados reagiram com cautela, com o iene a manter-se fraco e as acções a perderem parte dos ganhos iniciais. A incerteza sobre a capacidade de formar uma maioria parlamentar sustentável torna o cenário japonês menos previsível, apesar da continuidade nas políticas económicas.





Já nos Estados Unidos, a tensão volta a centrar-se na relação com a China. Com o fim da trégua comercial em vista, Washington e Pequim intensificam as posturas, com novas ameaças de tarifas e restrições tecnológicas. A administração Trump anunciou a possibilidade de impor uma sobretaxa de 100% sobre produtos chineses, em resposta ao controlo de exportação de terras raras por parte da China e custos adicionais sobre o transporte marítimo — um movimento que já está a pressionar as cadeias de abastecimento globais e a alimentar a aversão ao risco.





Este cenário geopolítico complexo ocorre numa semana crucial para os mercados: o arranque da nova época de resultados empresariais, com os grandes bancos norte-americanos como Citigroup, Goldman Sachs, JPMorgan Chase, Wells Fargo, Bank of America e Morgan Stanley, prontos para divulgar os seus resultados, além de outras empresas importantes como BlackRock, Johnson & Johnson, American Express, Abbott Laboratories e Charles Schwab.





Também esta semana, as atenções dos mercados estarão centradas nas reuniões anuais do Fundo Monetário Internacional (FMI), em Washington. Este tradicional encontro reúne banqueiros centrais, ministros das finanças, decisores políticos, investidores e especialistas do sector privado e académico, todos com um papel fundamental na definição da agenda económica global.

Num momento marcado por várias incógnitas — desde a continuidade das tensões comerciais entre China e Estados Unidos, à instabilidade política na Europa e na Ásia, passando pelas dúvidas sobre a evolução da inflação mundial — as reuniões do FMI serão um palco chave para discutir os desafios e riscos que condicionam a recuperação económica.

Esperam-se debates intensos sobre a estabilidade financeira global, estratégias para mitigar riscos geopolíticos, o impacto das políticas monetárias divergentes e a necessidade de promover o crescimento inclusivo e sustentável. Além disso, a divulgação do relatório anual do FMI será muito observada como termómetro das perspectivas económicas para 2026, particularmente face aos riscos inflacionistas e potenciais pressões sobre os mercados financeiros.

Este encontro representa uma oportunidade para os principais intervenientes alinharem cenários e reajustarem expectativas numa altura crucial para os mercados globais, configurando-se como um dos eventos mais influentes da semana para investidores e analistas financeiros.



Dados Económicos



Estados Unidos da América
Uma grande parte dos departamentos estatísticos do governo continuam paralisados, o que mantém os mercados privados dos habituais indicadores económicos. Caso o governo reabra, para além da divulgação dos dados adiados nos primeiros dias de Outubro, onde se destacam o relatório oficial do emprego, poderemos ter esta semana:
Os importantes dados da inflação, onde as previsões apontam para um crescimento mensal dos preços em 0,3%, abrandando dos 0,4% do mês de Agosto, com a inflação anual a subir de 2,9% para 3%. Já sem alimentos nem energia, a inflação subjacente deverá mostrar um abrandamento de 3,1% para 3%.
Já os preços à porta das fábricas, segundo as previsões, deverão voltar a acelerar. Depois de em Agosto terem caído 0,1% em termos mensais, em Setembro deverão mostrar um crescimento de 0,3%, e sem alimentos nem energia 0,2%.
As vendas a retalho, segundo as estimativas, deverão mostrar um crescimento de 0,4%, desacelerando dos 0,6% do mês de Agosto. O grupo de controlo deverá mostrar um aumento de 0,2%, desacelerando dos 0,7% do mês anterior.
Os números semanais de novos pedidos de subsídio de desemprego continuam a ser estimados em torno de 230 mil e os inventários empresariais, segundo as previsões, deveriam desacelerar do crescimento de 0,2% em Julho, para 0,1% em Agosto.
As licenças de construção, após a redução de 2,3% em Agosto, deverão mostrar um aumento em Setembro de 0,8%, assim como o início de construção de imóveis que deverá mostrar um aumento de 1% em Setembro, recuperando uma pequena parte da queda de 8,5% de Agosto.
A Reserva Federal anunciou que não irá divulgar os números da produção industrial, na sexta-feira, onde as previsões apontavam que mantivessem o ritmo de crescimento do mês anterior, de 0,1%, já que se baseia em vários dados do governo que se encontram em shutdown.
Durante esta semana poderemos contar com os seguintes indicadores:
O índice de pequenas e médias empresas NFIB, segundo as estimativas, deverá mostrar um ligeiro recuo dos 100,8 do mês de Agosto, para 100,5 em Setembro.
Na quarta-feira, o índice manufactureiro do Fed de Nova Iorque deverá subir dos -8,7 para -5, enquanto no final do dia iremos ter o relatório Beige Book da Reserva Federal dos Estados Unidos, importante na decisão de política monetária da Fed.
Iremos ter na quinta-feira, o índice de mercado imobiliário da NAHB, onde as previsões apontam para uma subida de 32 para 34.

Zona Euro
Teremos mais uma semana pela frente ligeira de dados económicos.
Na terça-feira iremos ter a divulgação do índice alemão de confiança económica ZEW que, na Zona Euro deverá mostrar um recuo de 26,1 para 19,5, e na Alemanha de 37,3 para 30. Teremos também os dados finais da inflação na Alemanha.
Na quarta-feira, as atenções irão para os números da produção industrial, onde as previsões apontam para uma queda de 2,2% no mês de Agosto, após um crescimento de 0,3% em Julho. Teremos mais dados finais da inflação, desta vez em França e Espanha.
Na quinta-feira iremos ter os números da balança comercial de Agosto que, segundo as previsões, deverão apresentar um excedente de 9,1 mil milhões de euros, reduzindo dos 12,4 mil milhões de euros do mês anterior. Será a vez de vermos os números finais da inflação em Itália.
Na sexta-feira iremos conhecer os dados finais da inflação do agregado da Zona Euro, que deverão confirmar as leituras preliminares de 2,2% e de 2,3% da inflação subjacente.

Reino Unido
Por aqui teremos uma semana mais bem preenchida de dados económicos, com as atenções a começarem por ir para os do mercado de trabalho.
A taxa de desemprego deverá manter-se nos 4,7%, o número de postos de trabalho, segundo as estimativas, deverá mostrar uma redução de 13 mil, após 8 mil no mês anterior. A variação média do emprego dos três meses até Agosto deverá mostrar um aumento de 70 mil, abrandando dos 232 mil no mês passado. Os ganhos médios salariais incluindo bónus deverão mostrar uma desaceleração do aumento de 4,7% do mês anterior para 4,4%. Os números de novos pedidos de subsídio de desemprego (Claimant Count Change) deverão aumentar em 12 mil, abaixo dos 17,4 mil no mês de Agosto.
De destacar também a divulgação do PIB mensal de Agosto, onde as previsões apontam para um crescimento económico de 0,1%, após a estagnação mostrada no mês de Julho.
Teremos também a divulgação do BRC Retail Sales Monitor (que mede a evolução das vendas a retalho, comparando com o mesmo mês do ano anterior) onde as estimativas apontam para uma desaceleração do crescimento de 2,9% em Agosto, para um aumento em Setembro de 1,5%.
Os números da produção industrial, segundo as estimativas, deverão mostrar um aumento de 0,5%, recuperando parte da queda de 0,9% no mês de Julho.
A balança comercial de bens deverá mostrar um défice de 22,1 mil milhões de libras, ligeiramente menos do que o défice do mês anterior de 22,2 mil milhões.
E a produção da construção deverá desacelerar do crescimento de 2,4% em Julho, para 1% em Agosto.

Canadá
Depois do feriado, a semana começa com a divulgação do número de licenças de construção, onde as previsões apontam para um aumento de 0,2%, recuperando da queda de 0,1% do mês anterior.
Teremos os números das vendas manufactureiras de Agosto, que deverão mostrar uma queda de 1,5%, após o aumento de 2,5% no mês de Julho, tal como as vendas grossistas, que após o aumento de 1,2% no mês anterior, deverão cair em Agosto 1,3%.
O número de início de construção de imóveis deverá registar um ligeiro aumento dos 246 mil para 247 mil.

China
Os mercados vão receber um série de dados económicos, com a China a voltar do longo feriado da Golden Week.
A balança comercial em setembro deverá mostrar um excedente de 98,5 mil milhões de dólares, abaixo dos 102,3 mil milhões do mês anterior, com as exportações a aumentarem 6% e as importações 1,5%.
Os novos empréstimos em yuans deverão aumentar de 590 mil milhões de yuans em Agosto, para 1.472 mil milhões em Setembro.
Iremos ter também dados da inflação, com os preços em termos mensais, segundo as previsões, a poderem mostrar um aumento de 0,2%, depois de se terem mostrado estáveis no mês de Agosto, mantendo a deflação, com os preços a caírem 0,1%, acima da queda de 0,4% no mês anterior.
Os preços à porta das fábricas deverão também manter-se em deflação, desacelerando dos -2,9% para -2,3% em termos anuais.

Japão
Por aqui iremos ter uma semana ligeira de dados económicos. As encomendas de maquinaria, excluindo navios e centrais energéticas, deverão mostrar um aumento de 0,5%, recuperando uma pequena parte da redução de 4,6% mostrada no mês anterior e a actividade terciária deverá mostrar uma contracção de 0,2%, após o crescimento de 0,5% do mês anterior.

Nova Zelândia
Uma semana quase vazia de indicadores económicos onde teremos a divulgação do índice de serviços Business NZ, onde as estimativas apontam para uma subida de 47,5 para 50,4.

Austrália
O destaque desta semana vai para o mercado de trabalho. As previsões apontam para que a taxa de desemprego suba de 4,2% para 4,3%, com a taxa de participação a aumentar de 66,8% para 66,9%. O mercado espera ver um aumento de 19 mil novos postos de trabalho, com um aumento de 25 mil empregos a tempo inteiro e uma redução de 6.000 a tempo parcial.
Iremos ter ainda o índice de confiança empresarial NAB, que deverá mostrar uma subida de 4 para 9.




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