A semana que começa
Inflação, PMIs e resultados

A semana que começa Inflação, PMIs e resultados

As tensões políticas e comerciais mantêm-se, tal como o “shutdown” do governo norte-americano, numa semana onde os mercados estarão atentos à inflação nos EUA, aos PMI em termos globais e aos resultados empresariais

As tensões políticas e comerciais continuam a marcar o tom nos mercados, num contexto em que o impasse político em Washington mantém o governo norte-americano parcialmente paralisado e alimenta a incerteza sobre o impacto económico. A atenção dos investidores volta-se agora para os dados de inflação nos Estados Unidos, que poderão oferecer novas pistas sobre a trajetória da política monetária da Reserva Federal, e para os índices PMI a nível global, capazes de medir o pulso da atividade nas principais economias. Ao mesmo tempo, a nova temporada de resultados empresariais ganha força, oferecendo um retrato mais claro do tecido empresarial e das avaliações bolsistas.




Japão à beira de uma viragem histórica: disputa pelo poder entre Takaichi e Tamaki coloca mercados e iene em alerta

O Japão entra numa semana politicamente decisiva, com o Parlamento agendado para votar na terça-feira o próximo primeiro-ministro, num contexto de grande incerteza e de equilíbrios frágeis. A nova líder do Partido Liberal Democrata (LDP), Sanae Takaichi, enfrenta um início de mandato atribulado depois de o seu parceiro de coligação, o Komeito, ter decidido romper a aliança logo após as eleições internas do partido. Desde então, o LDP tem procurado novos apoios e tenta agora convencer o Partido da Inovação do Japão (Ishin) a juntar-se à coligação governamental. Contudo, o cenário está longe de ser claro, um dos co-líderes do Ishin admitiu que a decisão está “50/50”, podendo tanto apoiar Takaichi como alinhar com a oposição.

Do outro lado, Yuichiro Tamaki, líder do Partido Democrático do Povo (DPP), surge como a figura capaz de unir as forças opositoras, o DPP, o Partido Constitucional Democrático (CDP) e o próprio Ishin, em torno de uma agenda centrada no aumento dos rendimentos reais das famílias japonesas. Se este bloco conseguir o apoio do Komeito, poderá alcançar uma maioria mínima na câmara baixa (234 lugares contra o limiar de 233), abrindo caminho para uma mudança histórica: pela primeira vez desde 2009, o LDP poderia ser relegado para a oposição. Num país conhecido pela sua estabilidade política, o impasse actual reflecte uma nova fase de volatilidade e debate sobre o rumo económico e social do Japão.

Uma eventual vitória de Sanae Takaichi poderá ser vista pelos mercados como um sinal de continuidade política e económica. A nova líder do LDP tem defendido uma linha próxima do antigo primeiro-ministro Abe, o que tenderia a sustentar o sentimento dos investidores. Ainda assim, persistem dúvidas sobre a capacidade do LDP em garantir uma maioria sólida, o que poderá traduzir-se em alguma pressão de curto prazo sobre os activos japoneses.

Pelo contrário, uma vitória de Yuichiro Tamaki representaria uma mudança mais profunda e potencialmente disruptiva. O seu compromisso em aumentar os salários líquidos e impulsionar o consumo interno poderia ser bem recebido pelos sectores mais dependentes da procura doméstica, mas levantaria interrogações sobre a sustentabilidade orçamental e a orientação futura do Banco do Japão. Nesse cenário, o iene poderia registar alguma apreciação inicial devido à perceção de um possível endurecimento das políticas económicas, embora a reacção dos mercados dependerá muito da composição final do governo e da sua capacidade de garantir estabilidade.





As tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China intensificaram-se de forma notória, centrando-se sobretudo em três áreas sensíveis que moldam o comércio e a tecnologia globais.
Pequim anunciou novas restrições à exportação de terras raras e matérias-primas estratégicas, minerais cruciais para a produção de semicondutores, baterias e outros componentes de alta tecnologia. Esta medida é vista como resposta directa às sanções e pressões tecnológicas de Washington, visando controlar o acesso a elementos essenciais para indústrias estratégicas.
Os Estados Unidos alargaram a sua lista negra de empresas chinesas, impondo limitações ao acesso a tecnologias, componentes e investimentos, sobretudo nos sectores de inteligência artificial, telecomunicações e fabrico de chips. O objectivo é travar o avanço tecnológico de empresas consideradas estratégicas para a segurança nacional norte-americana.
Por fim, ambos os países têm adoptado tarifas e medidas sobre o transporte marítimo e o comércio bilateral, aumentando os custos logísticos e tornando as cadeias de abastecimento globais mais imprevisíveis. Donald Trump deixou claro que, caso Pequim não ceda nas suas práticas industriais e comerciais, poderão seguir novas tarifas ainda mais abrangentes sobre produtos chineses. Este conjunto de acções e ameaças gera um clima de elevada incerteza para empresas e investidores, com especial impacto nos sectores tecnológico e logístico, e mantém os mercados em alerta para possíveis retaliações e interrupções nas cadeias críticas de abastecimento global.





Esta semana será marcada pela divulgação de balanços trimestrais de várias empresas relevantes tanto na Europa como nos Estados Unidos, numa fase decisiva da temporada de resultados. Na Europa, destacam-se grandes grupos como L’Oréal, SAP, Hermès, Prada, Barclays e Unilever, cujos relatórios financeiros refletirão a evolução dos sectores de luxo, tecnologia e bens de consumo, num contexto de incertezas económicas e de ajustes em cadeias de abastecimento globais. Nos EUA, apesar do impacto do prolongado shutdown governamental, antecipam-se resultados de gigantes como Tesla, Netflix, Mastercard, AT&T, T-Mobile, IBM, Intel, Coca-Cola, McDonald’s, Lockheed Martin, General Motors, Ford e Philip Morris, particularmente observados pela sua capacidade de sustentabilidade de margens e adaptação a pressões inflacionistas. Esta semana de balanços surge igualmente antes da publicação dos dados oficiais da inflação norte-americana, o que poderá influenciar a interpretação dos mercados sobre os resultados corporativos e as orientações futuras das políticas monetárias da Fed. Assim, investidores terão um foco atento a estes relatórios para ajustar expectativas e estratégias em mercados que continuam impactados por tensões políticas e económicas.



Dados Económicos



Estados Unidos da América
Com a paralisação do governo sem fim à vista, o mercado continua sem muitos dados sobre o desempenho da economia, com as agências estatísticas a permanecerem encerradas. Pelo menos esta semana iremos ter os dados da inflação, já que o Bureau of Labor Statistics anunciou que irá divulgar esses dados na próxima sexta-feira.
As previsões apontam para um crescimento mensal dos preços em 0,4%, o mesmo ritmo do mês de Agosto, com a inflação anual a subir de 2,9% para 3,1%. Já sem alimentos nem energia, a inflação subjacente deverá manter-se nos 3,1% em termos anuais, e com os preços a aumentarem mensalmente 0,3%, em linha com o aumento do mês anterior.
Iremos ter também dados do mercado imobiliário, com os números da venda de casas existentes que, segundo as estimativas, deverão mostrar uma queda de 2% em Setembro, e com a venda de casas novas a caírem 13,8%.
Teremos ainda os dados da actividade económica privada, os PMI da S&P Global, onde as estimativas apontam para que o índice composto suba ligeiramente de 53,9 para 54, com a actividade manufactureira e a de serviços a registarem também ligeiras subidas de 52 para 52,1 e de 54,2 para 54,3, respectivamente.
Iremos ter a revisão dos dados da Universidade de Michigan, onde não são esperadas alterações aos dados preliminares, onde o índice de confiança do consumidor ficou nos 55 e as expectativas de inflação ficaram nos 4,6% e 3,7% para 1 e 5 anos, respectivamente.

Zona Euro
As atenções esta semana vão para os dados da actividade económica, a divulgar no último dia.
O índice PMI composto, segundo as estimativas do mercado, deverá mostrar um abrandamento na actividade económica da Zona Euro, mas mantendo-se em expansão, recuando de 51,2 para 50,5. A actividade industrial deverá recuar de 49,8 para 49,5 continuando em contracção, enquanto o sector de serviços deverá recuar de 51,3 para 50,9, mantendo-se em expansão.
Antes dos dados agregados da Zona Euro iremos ter dados nacionais em França e na Alemanha. Em França, o PMI manufactureiro deverá cair de 48,2 para 48, enquanto o de serviços deverá mostrar uma subida de 48,5 para 49. Ambos em território de contracção, tal como o índice composto que deverá subir de 48,1 para 48,5. Na Alemanha, a actividade económica deverá mostrar também um recuo, com o índice composto a cair de 52 para 50,5, mas mantendo-se em expansão. O PMI de serviços deverá recuar de 51,5 para 51 e o manufactureiro de 49,5 para 49.
Teremos também os números da conta-corrente do mês de Agosto que deverá mostrar um excedente de 22,5 mil milhões de euros, recuando dos 27,7 mil milhões mostrados no mês anterior.
Iremos ter ainda o índice de confiança do consumidor da Comissão Europeia onde, segundo as previsões, deverá mostrar uma queda de -14,5 para -15.
A nível nacional temos:
Na Alemanha, o índice de preços no produtor de Setembro que, segundo as previsões, deverá mostrar uma redução em termos homólogos de 1,9%, após os -2,2% do mês anterior, com os preços em termos mensais a subirem 0,1%.
Em França, iremos ter o índice de confiança empresarial que deverá mostrar uma queda de 96 para 94.
Em Espanha, teremos a divulgação da taxa de desemprego do terceiro trimestre, onde as previsões apontam para uma subida de 10,29% para 10,8%.

Reino Unido
Por aqui iremos ter mais uma semana relativamente bem preenchida de indicadores económicos, com especial relevo para a inflação.
O índice de preços do consumidor deverá mostrar uma subida em termos mensais de 0,2%, recuando dos 0,3% do mês anterior, com a inflação anual, segundo as previsões, a subir de 3,8% para 4%. Sem alimentos nem energia, os preços em Setembro deverão ter registado um aumento de 0,2%, com a inflação subjacente a subir de 3,6% para 3,7%.
As atenções irão estar também na divulgação dos PMI, onde o índice composto deverá mostrar uma subida de 50,1 para 50,5, sinalizando um aumento da actividade económica britânica, com o PMI industrial a subir de 46,2 para 46,7, mas a continuar bem em contracção, enquanto o de serviços deverá subir dos 50,8 do mês passado para 51,1.
De destacar também a divulgação dos números das vendas a retalho, onde as previsões apontam para uma queda mensal de 0,2%, após o aumento de 0,5% no mês de Agosto.
Teremos também:
Os números dos empréstimos ao sector público, com as previsões a apontarem para 20,5 mil milhões de libras, acima dos 17,7 mil milhões do mês anterior.
O índice de preço dos imóveis, que deverá mostrar uma aceleração dos 2,8% do mês anterior, para 2,99%.
O índice das expectativas das encomendas industriais CBI, que deverá cair de -17 para -20.
E o indicador de confiança do consumidor da GfK, onde as previsões apontam para uma queda de -19 para -20.

Canadá
O destaque da semana vai para a inflação. Os preços em termos mensais deverão mostrar uma queda de 0,1%, com a inflação anual a subir dos 1,9% em Agosto, para 2,2% em Setembro, e a inflação subjacente de 2,6% para 2,7%. A medida mais seguida pelo Banco do Canadá, CPI Trimmed-Mean, que exclui 40% dos itens mais voláteis, deverá manter-se inalterada nos 3%.
Teremos também os números das vendas a retalho de Agosto que, segundo as previsões, deverão mostrar um crescimento mensal de 1%, recuperando a queda de 0,8% do mês anterior. Sem vendas automóveis as vendas deverão mostrar com um aumento de 1,5%, após a queda de 1,2% no mês anterior. Os números preliminares de Setembro, em termos mensais, deverão mostrar uma desaceleração dos 1% para 0,5%.
Teremos ainda a divulgação, logo no início da semana, da sondagem do Banco do Canadá da perspectiva empresarial do 3º trimestre.

Suíça
Por aqui teremos os números da balança comercial, onde as previsões mostram um excedente de 5,22 mil milhões de francos suíços, após os 4 mil milhões do mês anterior.

China
Esta semana as atenções vão especialmente para os dados relativos ao crescimento económico do terceiro trimestre, onde as previsões apontam para uma desaceleração do PIB de 5,2% para 4,7%, em termos homólogos, com o crescimento trimestral a desacelerar dos 1,1% do segundo trimestre, para 0,8%.
Teremos mais um conjunto alargado de dados mensais.
O índice de preço das casas de Setembro deverá mostrar uma queda de 2,5%, o mesmo ritmo do passado mês de Agosto.
Os números da produção industrial deverão mostrar também uma desaceleração de 5,2% para 5%.
As vendas a retalho, após o aumento de 3,4% em Agosto, deverão mostrar em Setembro um crescimento de 2,9%.
A taxa de desemprego deverá mostrar uma queda de 5,3% em Agosto, para 5,2% em Setembro.
Finalmente, o investimento em activos fixos deverá subir 0,2%, desacelerando dos 0,5% apresentados em Agosto.

Japão
As atenções irão estar esta semana especialmente nos dados da inflação que, segundo as previsões, deverá subir de 2,7% para 2,9%. Sem alimentação nem energia, a inflação deverá manter-se acima de 3%, mas caindo dos 3,3% em Agosto, para 3,2% em Setembro.
Iremos ter também os dados da actividade económica, que se deverá manter em torno dos níveis do mês passado, com o PMI composto da S&P Global a recuar ligeiramente de 51,3 para 51,2, onde a actividade industrial deverá continuar em contracção, com o índice a subir de 48,5 para 48,6, e o de serviços a recuar de 53,3 para 53, mantendo-se em expansão.
Teremos ainda os números da balança comercial de Setembro, que deverão mostrar um défice de 90 mil milhões de ienes, abaixo dos 150 mil milhões do mês de Agosto.

Nova Zelândia
Por aqui os olhos estarão colocados nos números da inflação do terceiro trimestre. As previsões apontam para que os preços, em termos trimestrais, mostrem um aumento de 0,9%, acelerando dos 0,5% mostrados no segundo trimestre. Em termos homólogos, a inflação deverá subir de 2,7% para 3%.
Teremos também os números da balança comercial de Setembro que deverão apresentar um défice de 1,7 mil milhões de dólares neozelandeses, após o défice de Agosto de 1,2 mil milhões.

Austrália
Os dados da actividade económica privada deverão manter-se em expansão. O PMI composto da S&P Global deverá mostrar um recuou dos 52,4 para 52, com o PMI do sector industrial a recuar de 51,4 para 51 e o da actividade de serviços a cair de 52,4 para 51,8.



Bancos Centrais



O People’s Bank of China
O banco central chinês deverá manter inalteradas as suas taxas de juro de empréstimos preferenciais (Loan Prime Rate) nos 3,00% e 3,50%, respectivamente para empréstimos a um e cinco anos.

O Banco Central da Turquia
Os dados de inflação de Setembro voltaram a surpreender em alta, reflectindo a persistência das pressões nos preços dos alimentos e as dificuldades em conter a inflação nos serviços. Os primeiros indicadores de Outubro sugerem que os riscos continuam inclinados para o lado de uma nova subida, colocando à prova a estratégia do banco central.
A instituição mantém uma orientação claramente restritiva, reafirmando que está pronta para voltar a apertar a política monetária caso as projecções de inflação se desviem das metas intermédias. A grande dúvida, neste momento, é se o banco deverá interromper ou apenas ajustar o ritmo dos cortes de taxas, face ao agravamento da tendência subjacente.
Ainda assim, tendo em conta o nível já muito elevado da taxa directora e a expectativa de uma moderação gradual da inflação nos próximos meses, é provável que o ciclo de descidas prossiga. O mercado antecipa um corte de 150 pontos base, para 39%, na reunião desta semana. No entanto, os riscos estão claramente inclinados para uma decisão mais prudente, com um corte mais limitado ou mesmo uma pausa no processo de afrouxamento monetário.


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