A semana que começa
O “shutdown” continua
Mais uma semana em que os mercados irão continuar privados dos dados mais impactantes da maior economia do mundo, onde teremos mais reuniões de bancos centrais e apresentação de resultados empresariais
Uma semana de incerteza nos mercados: entre a ausência de dados americanos, e mais reuniões de bancos centrais e resultados empresariais.
Os mercados financeiros globais preparam-se para mais uma semana marcada pela ausência dos dados económicos mais relevantes dos Estados Unidos, numa altura em que o encerramento do governo americano (shutdown) se prolonga já há mais de um mês, privando investidores e analistas de informação crucial sobre a maior economia do mundo. Esta falta de visibilidade sobre indicadores fundamentais como o emprego, a inflação e o crescimento económico tem deixado os mercados numa posição particularmente vulnerável, obrigando os investidores a navegar às cegas num período tradicionalmente rico em dados macroeconómicos.
Esta lacuna informativa contrasta com uma agenda particularmente intensa noutras frentes. Diversos bancos centrais de economias importantes anunciaram na semana passada as suas decisões de política monetária, e outros irão fazê-lo esta semana, prometendo continuar a fornecer pistas valiosas sobre a direcção futura das taxas de juro e das condições financeiras globais.

Simultaneamente, a temporada de resultados empresariais do terceiro trimestre prossegue a todo o vapor, com dezenas de empresas de diversos sectores a apresentarem os seus números, oferecendo aos investidores uma visão directa sobre a saúde das empresas e a resiliência da actividade económica num contexto de incertezas geopolíticas e comerciais.
Esta semana iremos contar com os dados da Aramco, AMD, Toyota, AstraZeneca, McDonald’s, Uber, Pfizer, Spotify, ConocoPhillips, BP, Rheinmetall, Airbnb, Petrobras, BMW, Commerzbank, Ryanair, Telefonica, e EDP entre muitas outras empresas.
Dados Económicos

Estados Unidos da América
Esta semana poderíamos ter os importantes dados do mercado de trabalho, os nonfarm payrolls, mas a paralisação do governo norte-americano vai-nos manter privados dos mesmos. Mesmo assim iremos poder contar com o relatório de emprego da ADP, os PMIs do ISM e o índice de confiança do consumidor da Universidade de Michigan.
A semana começa com a divulgação do PMI manufactureiro do ISM, onde as estimativas apontam para que se mantenha em contracção, mas subindo de 49,1 para 49,2, tal como o subíndice do emprego que deverá subir de 45,3 para 45,4, enquanto o dos preços deverá continuar a mostrar aceleração de 61,9 para 62,6. Teremos também a leitura final do PMI da S&P Global que deverá confirmar o número preliminar de 52,2.
Na terça-feira teremos o índice de optimismo económico da RCM/TIPP, que deverá mostrar um pequeno recuo de 48,3 para 48,1.
Quarta-feira será o dia em que teremos o relatório mensal privado do emprego da ADP, onde as previsões apontam para a criação de 28 mil novos postos de trabalho, após a contracção do mês passado de 32 mil empregos. Teremos também o PMI de serviços do ISM, com as previsões a apontarem para uma subida de 50 para 51, onde o subíndice do emprego, apesar de uma subida estimada de 47,2 para 47,5, deverá continuar a mostrar contracção, e o subíndice dos preços a acelerar, apesar de uma queda prevista de 69,4 para 69. Iremos ter ainda a leitura final do PMI de serviços da S&P Global, que deverá manter os 55,2 preliminares.
Na quinta-feira iremos ter o “Challenger Job Cuts”, um relatório que mostra quantas pessoas receberam aviso de despedimento durante o mês, dando uma ideia rápida de como está o mercado de trabalho, se está a piorar ou a melhorar. Em Setembro foi de 54 mil e as previsões apontam para 73 mil no mês de Outubro.
Na sexta-feira, iremos ter os dados da Universidade de Michigan, onde as previsões apontam para que o índice de confiança do consumidor suba de 53,6 para 54,0, e as expectativas de inflação se mantenham inalteradas nos 4,6% e 3,9%, respectivamente para 1 e 5 anos.
Zona Euro
Iremos ter uma semana mais tranquila relativamente a dados económicos.
Teremos as leituras finais dos PMI manufactureiro e de serviços que deverão confirmar as leituras preliminares, respectivamente de 50 e 52,6, o índice de preços no produtor que deverá mostrar uma contracção de 0,2% no mês de Setembro, após os -0,3% em Agosto, e as vendas a retalho deverão mostrar um aumento mensal de 0,2%, acima dos 0,1% do mês anterior.
Na Alemanha, iremos ter a divulgação das encomendas às fábricas, que após a queda de 0,8% em Agosto, deverão aumentar em Setembro, segundo as previsões, 1%. O mercado aponta também para um aumento da produção industrial de 2,9%, após a contracção de 4,3% no mês anterior. Os números da balança comercial deverão mostrar um excedente de 15,6 mil milhões de euros em Setembro, abaixo dos 17,2 mil milhões apresentados no mês anterior.
Em França, teremos também números da produção industrial, que deverão mostrar um aumento de 0,1%, após a redução de 0,7% no mês de Agosto, e a balança comercial um défice de 5,2 mil milhões de euros, abaixo dos 5,5 mil milhões do mês anterior.
Em Itália e em Espanha iremos ter os números preliminares do PMI. Logo no primeiro dia da semana teremos o PMI manufactureiro, que deverá mostrar uma subida em Espanha de 51,5 para 51,8 e em Itália de 49,0 para 49,3. Mais tarde, na quarta-feira, o PMI de serviços deverá subir de 54,3 para 54,6 em Espanha e em Itália de 52,5 para 53,0.
Em Itália, iremos ter ainda a divulgação dos números das vendas a retalho do mês de Setembro, que deverão mostrar uma recuperação da queda de 0,1% no mês anterior, para um aumento de 0,2% em Setembro.
Reino Unido
Será também uma semana bastante ligeira de indicadores económicos.
Iremos ter as leituras finais dos PMI de serviços e industrial, onde não se esperam desvios às leituras preliminares de 51,1 e 49,6, respectivamente.
Iremos ter a divulgação do PMI da construção, com as estimativas a apontarem para uma subida de 46,2 para 46,7, mas com o sector s continuar em contracção.
Por fim, teremos o índice de preços dos imóveis Halifax, que no mês de Outubro, segundo as estimativas, deverá mostrar um crescimento de 0,1%, após a contracção de 0,3% no mês anterior.
Canadá
Por aqui as atenções irão estar postas nos dados do mercado de trabalho a divulgar no último dia da semana. As previsões apontam para que a taxa de desemprego continue a aumentar (de 7,1% para 7,2%) e a taxa de participação a diminuir (de 65,2% para 65,1%). O número de novos postos de trabalho deverá aumentar em 5.000, com 75 mil novos postos de trabalho temporário e uma queda de 80 mil a tempo inteiro.
Iremos ter também o índice Ivey PMI, com as estimativas a apontarem para uma queda de 59,8 para 55,2.
Teremos ainda, logo no início da semana, o índice PMI manufactureiro da S&P Global, que deverá mostrar uma subida de 47,7 para 48,2, mantendo-se em contracção.
Suíça
As atenções começam por ir para os dados da inflação, onde as previsões apontam para que os preços em Outubro mostrem uma contracção mensal de 0,1%, depois dos -0,2% no mês de Setembro, com a inflação anual a subir de 0,2% para 0,3%.
O PMI manufactureiro deverá também subir, de 46,3 para 47,5, mas com o sector a manter-se em contracção.
Iremos ter dados do emprego, com a divulgação da taxa de desemprego que se deverá manter nos 2,8%.
Por fim, o índice de confiança do consumidor deverá registar uma ligeira subida de -37 para -36.
China
Depois dos dados oficiais da actividade económica na semana passada, esta semana é a vez dos dados privados da RatingDog (ex Caixin). O índice manufactureiro, segundo as estimativas, deverá mostrar uma queda de 51,2 para 50,7, mas mantendo-se em expansão, o mesmo com o PMI de serviços que deverá mostrar uma queda de 52,9 para 52,6.
O mercado conta ainda com a divulgação dos números da balança comercial de Outubro, onde as previsões apontam para um aumento dos 90,5 mil milhões de dólares do mês anterior, para 96 mil milhões.
Japão
As atenções irão estar principalmente na divulgação dos ganhos médios salariais, onde as previsões apontam para um crescimento de 2%, acelerando dos 1,3% apresentados no mês anterior.
Iremos ter também os números da despesa das famílias, que deverão mostrar uma aceleração do aumento de 2,3% no mês anterior, para 2,6%.
Nova Zelândia
Por aqui, o destaque da semana vai também para os dados do emprego relativos ao terceiro trimestre. A taxa de desemprego deverá, segundo as previsões, subir de 5,2% para 5,3%, com a taxa de participação a subir de 70,5% para 70,7%. A variação trimestral do emprego deverá mostrar um crescimento de 0,1%, após a queda de igual valor no trimestre anterior. O índice de custo laboral trimestral deverá mostrar uma desaceleração dos 0,6% no trimestre anterior, para 0,4%.
Teremos também os números das licenças de construção, que deverão desacelerar em Setembro, dos 5,8% no mês anterior, para 0,8%.
Iremos ter ainda o relatório de estabilidade financeira do RBNZ.
Austrália
De indicadores económicos iremos ter, logo no início da semana, o anúncio de empregos do ANZ de Outubro, que após a redução de 3,3% no mês anterior, deverão mostrar um aumento de 0,5%.
Teremos os números das licenças de construção, com as estimativas a apontarem para um aumento de 5,5%, recuperando parte da queda de 6% do mês anterior.
Os números da despesa das famílias, segundo as previsões, deverão mostrar uma subida mensal de 0,3%, acelerando dos 0,1% do mês anterior.
Para terminar a semana iremos ter os números da balança comercial de bens, onde as previsões apontam para um excedente em Setembro de 3,86 mil milhões de dólares australianos, acima dos 1,83 mil milhões do mês de Agosto.
Bancos Centrais

O Banco de Inglaterra
Com a economia do Reino Unido a manter-se em crescimento moderado, ligeiramente acima do esperado, mas continuando pressionada por uma inflação persistente, que se situa entre 3,5% e 3,8%, bem acima da meta de 2%, e o desemprego a subir para 4,8%, o nível mais elevado desde 2021, sinalizando um enfraquecimento do mercado de trabalho e maior pressão sobre o consumo, o BoE tem pela frente uma decisão complexa.
Na última reunião, o Banco de Inglaterra manteve a taxa directora nos 4%, procurando equilibrar o combate à inflação com a necessidade de proteger o crescimento e o emprego. O governador Andrew Bailey tem reiterado que a instituição segue um “caminho aberto”, ajustando as decisões de política monetária de forma gradual e dependente dos dados económicos.
Para esta semana, o consenso do mercado aponta para a manutenção das taxas, embora cresça a probabilidade de um corte até ao final do ano, caso se confirme uma desaceleração mais clara da inflação e um agravamento do desemprego. Essa hipótese reflecte as preocupações do banco central com a fragilidade da economia e o ritmo lento da desinflação.
Qualquer decisão terá impacto directo nos títulos britânicos, na libra esterlina e nos mercados accionistas. Um corte nas taxas poderá aliviar a pressão sobre a dívida e apoiar os activos de risco, mas uma manutenção prolongada reforçaria o compromisso do BoE no combate à inflação, ainda que à custa de um crescimento mais fraco no curto prazo.
O Reserve Bank of Australia
O RBA deverá confirmar a manutenção das taxas de juro inalteradas esta semana, numa altura em que a inflação volta a mostrar sinais de persistência. Os dados mais recentes da inflação referentes ao terceiro trimestre superaram as expectativas, mantendo-se acima do valor médio de 2,5% da meta do banco central, um dado que deverá pesar mais na decisão do que a ligeira subida da taxa de desemprego registada em Setembro.
Apesar desse aumento pontual no desemprego, outros indicadores do mercado de trabalho continuam a apontar para uma economia resiliente, com níveis de emprego sólidos e uma procura interna que resiste ao impacto das políticas de aperto monetário.
O consenso entre analistas e investidores é de que o banco central optará por manter a taxa diretora nos 3,60%, reforçando a ideia de uma política de “esperar para ver”, enquanto avalia o impacto das subidas de juros anteriores.
O Norges Bank
O banco central norueguês reúne-se esta semana e tudo aponta para que mantenha a sua política monetária inalterada. As condições económicas internas, com inflação moderada, crescimento contido e mercado laboral equilibrado, favorecem a opção por continuidade. Em vez de alterar taxas, o banco central aposta num discurso cauteloso, monitorizando os dados futuros antes de decidir um novo rumo.
A estratégia assume que o ciclo poderá estar em pausa, mas não descartando reajustes caso a inflação ou causas externas se intensifiquem. A ênfase recai sobre a flexibilidade e a observação da evolução económica, com o Norges Bank a manter-se pronto para agir se necessário.
O Riksbank
O banco central sueco prepara-se para, tal como o BCE, manter uma postura de “pausa” mais prolongada.
Depois de um corte de 25 pontos base em Setembro, que foi visto mais como um gesto de apoio à actividade do que uma mudança estrutural, os dados recentes reforçam a ideia de que novas descidas de taxa estão fora do horizonte próximo.
A inflação (CPIF) permanece acima da meta, em torno de 3,1 %, e o crescimento trimestral surpreendeu, com um avanço de 1,1 % no terceiro trimestre (2,4 % em termos homólogos).
Nesta reunião, não se esperam novas orientações futuras significativas. O banco central baseia-se em projecções anteriores, sugerindo que as taxas poderão manter-se inalteradas bem para lá de 2027, salvo choques externos severos. Para que volte a haver cortes, seria necessário um desvio persistente da inflação para baixo ou sinais claros de recessão interna.
O Banco do México
O Banxico deverá na reunião desta semana voltar a cortar a sua taxa de juro directora, de 7,50% para 7,25%.
Espera-se que o Banxico continue cauteloso, podendo ajustar a política monetária dependendo dos dados macroeconómicos recentes, visando estabilizar a inflação e apoiar a economia nacional.
O Banco Central do Brasil
A taxa Selic está actualmente num máximo de 15%, mantida desde Junho, com o banco central a controlar a inflação, que permanece acima da meta, enquanto o crescimento económico desacelera moderadamente.
A expectativa para a reunião desta semana é de manutenção da taxa, com possibilidade de cortes graduais em 2026, caso haja convergência das expectativas inflacionárias e melhora nas condições económicas. O Copom permanece atento a factores fiscais, externos e ao cenário político nacional, que influenciam o ritmo da política monetária.