Semana Revista
Uma semana volátil
O mais prolongado “shutdown”, um sentimento de mercado “estragado”, escassos dados económicos e mais bancos centrais.
O mais prolongado shutdown da história dos Estados Unidos continua a pesar sobre o sentimento dos mercados, que permanece “estragado” e sem rumo definido. A escassez de dados económicos — consequência directa da paralisação governamental — limita a visibilidade sobre a evolução da economia, deixando os mercados a navegar quase às cegas. Num cenário de informação limitada, as atenções voltam-se inevitavelmente para os bancos centrais, que continuam a desempenhar um papel determinante na definição do rumo dos mercados financeiros, num contexto em que cada sinal ou nuance de política monetária pode ter um impacto desproporcionado nas expectativas dos investidores.

O Shutdown histórico continua a pesar
O encerramento do governo dos Estados Unidos tornou-se o mais longo da história, abrangendo uns sem precedentes 38 dias (no final desta semana). Este impasse político prolongado não só cria uma imensa incerteza, como também restringe severamente a divulgação de dados económicos oficiais cruciais, forçando os investidores a confiarem em conjuntos de dados privados menos fiáveis e contribuindo para mercados nervosos.
O Gabinete de Orçamento do Congresso argumentou que o shutdown já retirou cerca de 1% do crescimento anualizado do PIB do quarto trimestre, com este efeito a subir para 1,5% até meados de Novembro e 2% perto do final do mês. Em termos de dólares, isto equivale a quase 40 mil milhões de dólares.
Powell foi questionado sobre o impacto do shutdown e reconheceu que os dados limitados poderiam fazer com que os responsáveis procedessem com mais cautela na reunião de meados de Dezembro: "Há uma possibilidade de que faça sentido ser mais cauteloso sobre mover (as taxas)'".
Um atraso nos pagamentos de assistência alimentar a americanos de baixos rendimentos poderia baixar os gastos de consumo em Novembro em até meio ponto percentual, de acordo com o Bank of America. Os pagamentos do Programa de Assistência Nutricional Suplementar (SNAP) ficaram quase congelados este mês devido ao shutdown, embora um tribunal federal tenha ordenado que a administração Trump pagasse pelo menos metade dos subsídios mensais dos beneficiários.

Um sentimento de mercado "estragado"
O tema dominante da semana foi a correção acentuada das acções relacionadas com inteligência artificial, que tinham sido as principais impulsionadoras do mercado durante grande parte de 2025. As empresas de IA perderam cerca de mil milhões de dólares em valor de mercado durante a semana, numa dramática reviravolta que apanhou muitos investidores desprevenidos após meses de ganhos aparentemente imparáveis.
A queda espalhou-se rapidamente pelos mercados internacionais, com os mercados da região Ásia-Pacífico a registarem vendas massivas devido a preocupações sobre as avaliações estratosféricas das empresas de inteligência artificial e tecnologia.
A correcção foi desencadeada por uma combinação de factores que se acumularam ao longo da semana anterior. Os líderes de gigantes de Wall Street, desde a Capital Group ao Goldman Sachs e Morgan Stanley, alertaram os investidores para se prepararem para uma correcção, observando que a possibilidade de uma correção seria um desenvolvimento saudável. Estas advertências caíram em terreno fértil, dado que o rally tinha estado confinado a cada vez menos acções, enquanto os indicadores de sentimento e técnicos mostravam sinais de sobreaquecimento.
A divulgação de que Michael Burry, que ganhou fama pela sua aposta contra o mercado imobiliário dos Estados Unidos antes da crise financeira de 2008, tinha posições vendidas contra a Palantir e a Nvidia no final do último trimestre, intensificou as preocupações.
No cerne das vendas desta semana está uma questão simples: quem vai fornecer todo o dinheiro para financiar os enormes centros de dados necessários para alimentar a inteligência artificial? Os investidores começaram a questionar-se cada vez mais sobre se os investimentos maciços que as empresas tecnológicas estão a fazer em infraestrutura de IA irão alguma vez gerar retornos adequados.

Cautela e divisão na Reserva Federal
A Fed manteve esta semana um tom mais cauteloso e visivelmente dividido. O vice-presidente Philip Jefferson reiterou o racional de “gestão de risco” que sustentou os cortes de juros recentes, mas defende agora um abrandamento do ritmo à medida que a taxa directora se aproxima de um nível neutro.
Austan Goolsbee, da Fed de Chicago, manifestou desconforto com a falta de dados durante o shutdown e alertou que, “quando o nevoeiro é denso, o melhor é abrandar”. Já Alberto Musalem, de St. Louis, considera que a política monetária está próxima da neutralidade, mas deve continuar a vigiar riscos inflacionistas.
Entre os membros mais duros, Beth Hammack, da Fed de Cleveland, mantém a defesa de uma política “moderadamente restritiva”, enquanto Lisa Cook e Mary Daly lembram que a reunião de Dezembro “continua em aberto” e que é preciso manter a mente aberta quanto a novos cortes.
Por sua vez, John Williams, da Fed de Nova Iorque, anunciou o fim do programa de aperto quantitativo a partir de 1 de Dezembro, explicando que se trata de um ajuste técnico, e não de uma mudança de rumo monetário.
No conjunto, a narrativa da Fed reforça a prudência e a ideia de que o ciclo de cortes poderá ficar em pausa em Dezembro, num contexto de dados escassos e sentimento de risco frágil.

Semana de resultados: tecnologia brilha, mas o mercado mantém-se prudente
O mês de Novembro arrancou com mais empresas a apresentar resultados.
A Palantir impressionou com um crescimento de 63% nas receitas e uma forte expansão no segmento comercial, mas nem isso impediu a queda das acções, reflexo de avaliações já muito esticadas. A AMD também superou as expectativas, atingindo receita recorde de 9,25 mil milhões de dólares, impulsionada pela procura em chips de IA, embora o entusiasmo tenha sido travado por expectativas demasiado elevadas.
Mais equilibrado foi o desempenho da Qualcomm, que surpreendeu pela positiva com o crescimento nos segmentos de automotivo e IoT, sinalizando uma diversificação bem-sucedida para lá dos smartphones. Já a Novo Nordisk apresentou resultados sólidos, mas abaixo do esperado, penalizada por custos de reestruturação e maior concorrência.
A excepção negativa veio da Super Micro Computer, que registou queda de 15% nas vendas, reflectindo dificuldades na cadeia de fornecimento e pressão competitiva.
No conjunto, foi uma semana de contrastes, marcada por bons resultados operacionais, mas também por um mercado mais selectivo e atento à sustentabilidade das valorizações, num contexto em que o entusiasmo pela Inteligência Artificial continua a ser o fio condutor.
Dados Económicos

Nos Estados Unidos, não podemos contar de novo com o relatório oficial do mercado de trabalho, assim como outros dados como os números semanais de novos pedidos de subsídio de desemprego.
As atenções estiveram postas nos dados privados do emprego, o ADP, que mostraram que a economia norte-americana adicionou em Outubro 42 mil novos postos de trabalho, com o número do mês anterior a ser revisto em alta, de -32 mil para -29 mil empregos.
Tivemos também os dados do ISM, que mostraram indicações mistas. Enquanto o PMI manufactureiro caiu inesperadamente de 49,1 para 48,7, contra estimativas de uma ligeira subida para 49,4, o índice de serviços subiu de 50,0 para 55,2. Ambos os sectores mostraram subíndices do emprego a subir, mas mantendo-se em contracção, enquanto os preços continuam em território de expansão, com os dos serviços a acelerarem e os manufactureiros a desacelerar.
A leitura final do PMI da S&P Global manufactureiro reviu em alta a leitura preliminar de 52,2 para 52,5, enquanto o de serviços foi revisto em baixo de 55,2 para 54,8.
O índice de optimismo económico da RCM/TIPP apanhou os mercados de surpresa, caindo de 48,3 para 43,9, a leitura mais baixa desde Junho de 2024 e bem abaixo das previsões de 48,1.
O Challenger Job Cuts, um relatório que mostra quantas pessoas receberam aviso de despedimento durante o mês, mostrou uma subida de 54 mil para 153 mil, bem acima dos 73 mil estimados pelo mercado e um máximo de mais de duas décadas.
Por fim, o indicador de confiança do consumidor da Universidade de Michigan mostrou uma queda de 53,6 para 50,3, contrariando as expectativas de uma subida para 54,0. As expectativas de inflação de curto prazo subiram de 4,6% para 4,7%, enquanto no mais longo prazo (cinco anos) abrandaram de 3,9% para 3,6%.
Na Zona do Euro, foi uma semana ligeira de indicadores económicos.
Tivemos a confirmação da leitura preliminar do PMI manufactureiro, enquanto a de serviços foi revista em alta de 52,6 para 53,0.
O índice de preços no produtor mostrou uma contracção de 0,1% no mês de Setembro, após os -0,3%, revistos em baixa, de Agosto.
As vendas a retalho mostraram uma queda mensal de 0,1%, contrariando as previsões de um aumento de 0,2%.
Na Alemanha, as encomendas às fábricas superaram as estimativas dos mercados, aumentando 1,1%, acima dos 1% esperados e após a queda de 0,8% em Agosto. Já a produção industrial ficou aquém das expectativas, recuperando 1,3%, abaixo dos 2,9% esperados e após a contracção, revista em baixo, de 3,7% no mês anterior. Os números da balança comercial vieram também abaixo das previsões em 15,3 mil milhões de euros e abaixo dos 17,2 mil milhões apresentados no mês anterior.
Em França, a produção industrial superou as expectativas do mercado ao aumentar 0,8%, bem acima dos 0,1% previstos e após a redução revista em alta no mês de Agosto de 0,9%. Já a balança comercial registou um défice de 6,6 mil milhões de euros, superior aos 5,2 mil milhões, revistos em baixo, do mês anterior e dos esperados pelo mercado.
Os dados da actividade económica privada em Espanha e em Itália mostraram-se também acima das estimativas do mercado. O PMI manufactureiro subiu em Espanha de 51,5 para 52,1 e o de serviços de 54,3 para 56,6. Em Itália, o sector manufactureiro mostrou ainda contracção, mas com o PMI perto da linha que separa a contracção da expansão (49,9), enquanto o de serviços subiu de 52,5 para 54,0.
Tivemos ainda em Itália, os números das vendas a retalho do mês de Setembro, que contrariaram as previsões do mercado que apontavam para um aumento de 0,2%, caindo 0,5%, após a queda de 0,1% em Agosto.
No Reino Unido tivemos também uma semana bastante tranquila relativamente a dados económicos.
Os PMI preliminares manufactureiro e de serviços foram revistos em alta, de 49,6 para 49,7 e de 51,1 para 52,3, respectivamente, enquanto o PMI da construção recuou inesperadamente de 46,2 para 44,1, face a estimativas de uma subida para 46,7.
O índice de preços de imóveis do Halifax mostrou uma subida de 0,6%, acima dos 0,1% esperados e após a queda de 0,3% no mês anterior.
No Canadá, foi a semana de dados do mercado de trabalho. A taxa de desemprego surpreendeu os mercados ao mostrar uma queda de 7,1% para 6,9%, com a taxa de participação a aumentar de 65,2% para 65,3%, face a um recuo esperado para 65,1%. O número de novos postos de trabalho aumentou em 66,6 mil, com 85,1 mil novos postos de trabalho temporário e uma queda de 18,5 mil a tempo inteiro.
Tivemos também o índice Ivey PMI que mostrou uma queda de 59,8 para 52,4, maior do que a esperada para 55,2.
O índice PMI manufactureiro da S&P Global subiu de 47,7 para 49,6, superando as estimativas que apontavam para 48,2.
Na Suíça, os olhos começaram por ir para os dados da inflação, com os preços em Outubro a mostrarem uma contracção mensal de 0,3%, maior do que a esperada de 0,1%, acelerando a queda de 0,2% do mês anterior. A inflação anual caiu de 0,2% para 0,1%, contrariando as estimativas que apontavam para uma subida para 0,3%.
O PMI manufactureiro superou as estimativas, subindo de 46,3 para 48,2, acima dos 47,5 esperados, a taxa de desemprego subiu de 2,8% para 2,9% e o índice de confiança do consumidor ficou inalterado nos -37.
Na China, os dados oficiais da actividade económica da RatingDog mostraram um arrefecimento da actividade económica privada, mas ainda assim mantiveram-se em terreno de expansão, o PMI manufactureiro caiu de 51,2 para 50,6 e o de serviços de 52,9 para 52,6, ambos em linha com o estimado pelos mercados.
Os dados da balança comercial de Outubro foram substancialmente mais fracos do que o esperado, tanto em relação às exportações como às importações. As exportações (em dólares) caíram 1,1% face ao ano anterior, contra um aumento de 8,3% registado em Setembro. Ao mesmo tempo, o crescimento das importações também abrandou acentuadamente, de 7,4% para 1% em termos homólogos. O excedente comercial diminuiu ligeiramente para 90,1 mil milhões de dólares (dos 90,5 mil milhões do mês anterior), contra um aumento para 96 mil milhões de dólares.
No Japão, as atenções estiveram principalmente colocadas nos dados salariais que saíram bem em linha com as estimativas. Os ganhos médios salariais mostraram um crescimento de 1,9%, acelerando dos 1,3% no mês anterior.
Tivemos ainda a despesa das famílias que mostraram um crescimento de 1,8%, inferior ao esperado de 2,6%, tendo desacelerado do crescimento do mês anterior de 2,3%.
Na Nova Zelândia, o destaque desta semana foram os dados do mercado de trabalho. A taxa de desemprego, tal como previsto pelo mercado, subiu de 5,2% para 5,3%, mas com a taxa de participação a cair de 70,5% para 70,3%, contra estimativas de uma subida para 70,7%. A variação trimestral do emprego manteve-se inalterada e o índice de custo laboral trimestral desacelerou de 0,6% do trimestre anterior para 0,5%.
Tivemos também os números das licenças de construção que superaram as estimativas dos mercados ao acelerarem em Setembro, dos 6,1%, revistos em alta, do mês anterior, para 7,2%, face a uma desaceleração esperada de 0,8%.
Na Austrália, a semana começou com o indicador ANZ de anúncio de empregos do mês de Outubro, que voltou a mostrar uma redução (-2,2%) contrariando estimativas de um ligeiro aumento de 0,5%, após a redução de 3,5%, revista em alta, do mês anterior.
Já os números das licenças de construção superaram largamente as estimativas do mercado ao aumentarem 12,0% (face a um aumento esperado de 5,5%), após a queda revista em baixo de 3,6% do mês anterior.
A despesa das famílias em Setembro mostrou um crescimento mensal de 0,2%, ligeiramente abaixo dos 0,2% esperados, e acima dos 0,1% do mês anterior.
A semana terminou com a divulgação dos números da balança comercial de bens de Setembro, que mostraram um excedente de 3,94 mil milhões de dólares australianos, acima dos 3,86 mil milhões previstos pelo mercado e do excedente de 1,11 mil milhões de dólares, revisto em baixo, do mês de Agosto.
Bancos Centrais

O Banco de Inglaterra mantém taxas inalteradas, mas abre a porta a cortes já em Dezembro.
O Banco de Inglaterra (BoE) decidiu manter a sua taxa directora em 4,00%, uma decisão amplamente esperada pelos mercados, mas que não esconde uma mudança subtil — e importante — na orientação futura da política monetária britânica. A votação no Comité de Política Monetária foi renhidamente dividida (5-4), com quatro membros a defenderem uma redução imediata dos juros e o governador Andrew Bailey a emitir o voto decisivo a favor da manutenção.
A decisão, embora prudente, revela um Banco de Inglaterra cada vez mais aberto a iniciar o ciclo de cortes, possivelmente já na reunião de Dezembro. A mensagem central da instituição mudou: os riscos para a inflação estão agora “mais equilibrados”, e o comunicado oficial admite que “a taxa directora deverá continuar num caminho gradual descendente”, caso o processo de desinflação se mantenha firme.
O equilíbrio de forças dentro do Comité é revelador da fase em que se encontra a economia britânica. Os vice-governadores Ramsden e Breeden juntaram-se a Swati Dhingra e Catherine Mann no campo “dove” — os defensores de juros mais baixos — argumentando que o mercado de trabalho está a enfraquecer e a folga económica a aumentar. Do outro lado, os membros mais conservadores mantêm receios de que as pressões salariais e os chamados efeitos de segunda ordem possam travar a descida sustentada da inflação.
O governador Bailey, que nas últimas reuniões se mostrava mais prudente, parece agora inclinar-se progressivamente para o lado dove, admitindo que os riscos inflacionistas já não são tão assimétricos. Ainda assim, optou por esperar por mais evidências de que o processo de desinflação é duradouro antes de votar num corte. Andrew Bailey afirmou: “Prefiro aguardar para ver se a durabilidade da desinflação é confirmada nos próximos desenvolvimentos económicos deste ano.”
As novas projeções do BoE traçam um cenário ligeiramente mais favorável: o desemprego deverá subir para cerca de 5,1% até meados de 2026, enquanto a inflação — que terá atingido o pico em Setembro — deverá cair para 2,5% no final de 2026 e convergir para a meta de 2% apenas em meados de 2027. O crescimento económico foi revisto ligeiramente em alta para 2026 (1,4%) e 2027 (1,7%), embora continue abaixo do potencial.
O Reserve Bank of Australia manteve a taxa directora em 3,60% e reforça prudência perante inflação persistente.
O RBA manteve a sua taxa directora inalterada em 3,60% na reunião de política monetária desta semana, em linha com as expectativas do mercado. A decisão surge após os dados de inflação do terceiro trimestre terem superado as projecções, reavivando preocupações sobre a persistência das pressões inflacionistas no país.
De acordo com o banco central, a inflação subjacente medida pelo índice “trimmed mean” acelerou 1% em termos trimestrais e situou-se em 3% em termos homólogos no trimestre terminado em Setembro, acima dos 2,7% registados no segundo trimestre. A inflação global também ultrapassou o intervalo-alvo de 2–3%, atingindo 3,2%. O RBA considera que parte deste aumento reflecte factores temporários, mas alerta que a tendência geral continua a exigir vigilância.
As novas projecções da instituição preveem que a inflação permanecerá acima dos 3% durante alguns trimestres, antes de recuar gradualmente para cerca de 2,6% em 2027, num cenário que inclui apenas mais um corte nas taxas de juro em 2026. O banco sublinha que continuará a ajustar a sua avaliação à medida que novos dados económicos se tornem disponíveis, mantendo uma postura prudente e dependente da evolução dos indicadores.
A autoridade monetária reconheceu alguma incerteza na avaliação de que a política monetária continua relativamente restritiva, mas justificou a manutenção das taxas com a necessidade de preservar a estabilidade num contexto de inflação mais persistente.
O Norges Bank manteve a taxa directora em 4% e sinaliza cortes graduais a partir de 2026.
O banco central norueguês voltou a manter a taxa directora inalterada em 4%, numa decisão amplamente esperada e que reflecte a avaliação de que o enquadramento económico da Noruega pouco se alterou desde a reunião de política monetária de Setembro. A instituição reafirmou a sua estratégia de prudência, indicando que, caso a economia evolua em linha com o cenário actual, os primeiros cortes de juros deverão ocorrer ao longo do próximo ano.
Segundo a governadora Ida Wolden Bache, a prioridade do banco central continua a ser assegurar o controlo total da inflação, que permanece acima do objectivo de médio prazo, com a taxa subjacente próxima de 3% há vários meses. Ainda que a desaceleração dos preços tenha ganho alguma tração, o Norges Bank entende que o trabalho de combate à inflação “ainda não está concluído”.
A autoridade monetária sublinha que o cenário base aponta para um regresso gradual da inflação ao objectivo de 2%, sem provocar um aumento acentuado do desemprego. Wolden Bache alertou, no entanto, que uma política monetária excessivamente restritiva poderia penalizar a actividade económica e travar a recuperação doméstica. O banco continua, assim, a privilegiar uma abordagem equilibrada e dependente da evolução dos dados, num ciclo que, segundo as previsões de Setembro, deverá incluir um corte de juros por ano até 2028.
O Riksbank manteve a taxa directora em 1,75% e reforça confiança na estabilização da inflação.
O banco central sueco manteve inalterada a sua taxa directora em 1,75%, confirmando uma decisão amplamente antecipada pelos mercados. A autoridade monetária sueca reiterou a avaliação de Setembro, sublinhando que tanto a inflação como a actividade económica evoluem de forma consistente com as suas projecções anteriores.
O Riksbank antecipa manter a taxa directora no nível actual “durante algum tempo”, em consonância com a orientação apresentada em Setembro. A coroa sueca reagiu com estabilidade, negociando em torno de 11 por euro, praticamente inalterada face à decisão e cerca de 10% mais forte do que no início do ano. O Riksbank observa que uma continuação desta tendência poderá contribuir para atenuar as pressões inflacionistas nos próximos trimestres.
O Banco do México, na reunião desta semana, reduziu a sua taxa básica de juros em 25 pontos-base, fixando-a em 7,25%. Esta decisão reflecte a preocupação com um abrandamento da actividade económica e um ambiente externo incerto, apesar da inflação ainda elevada. O Banxico reafirmou o compromisso com cortes graduais nas taxas, avaliando continuamente a evolução da inflação e da conjuntura, para alcançar a meta inflacionária de 3%. A decisão foi tomada com alguma cautela, destacando a importância de preservar a estabilidade económica num contexto de riscos persistentes.
Este corte segue um ciclo de flexibilização monetária que visa apoiar o crescimento económico sem comprometer a estabilidade dos preços.
O Banco Central do Brasil manteve a sua taxa de juro Selic em 15% pela terceira reunião consecutiva. O comunicado mostra um tom mais confortável, destacando que manter a taxa neste patamar por um período prolongado será suficiente para garantir a convergência da inflação à meta de 3%. Apesar da desaceleração do crescimento económico e da ligeira melhoria da inflação corrente e subjacente, as expectativas para 2025 (4,5%) e 2026 (4,2%) continuam acima do objectivo. As projecções indicam uma descida gradual da inflação, desde 4,8% em 2025 para 3,3% no segundo trimestre de 2027. O real tem mantido uma valorização significativa face ao dólar. O Banco Central permanece vigilante, disposto a ajustar a política monetária se necessário, num cenário de incertezas externas e internas.
Mercados accionistas
Mercados Abalados por Correção Tecnológica
A primeira semana de Novembro de 2025 ficou marcada como um dos períodos mais turbulentos dos mercados financeiros globais desde Abril, com os investidores a enfrentarem uma combinação tóxica de preocupações sobre avaliações excessivas no sector tecnológico, o prolongamento histórico do encerramento do governo americano e crescentes incertezas sobre a trajectória futura da política monetária da Reserva Federal. Esta convergência de factores desencadeou uma vaga de vendas que se espalhou dos Estados Unidos para os mercados asiáticos e europeus, apagando centenas de milhares de milhões de dólares em valor de mercado e marcando o fim abrupto de uma sequência de três semanas de ganhos.
Ásia
No Japão, após fortes ganhos accionistas, impulsionados por expectativas em torno de uma política fiscal e monetária favorável por parte da nova primeira-ministra Sanae Takaichi, o índice Nikkei esta semana registou uma perda significativa de 4,07%, enquanto o Topix recuou 0,99%.
Os mercados na China foram a excepção global, com os principais a terminarem a semana positivos. O índice CSI300 avançou esta semana 0,82%, o Shanghai Composite 1,08% e o Hang Seng, de Hong Kong, 1,29%.
Na Austrália, o índice ASX 200 perdeu 1,26%, enquanto na Coreia do Sul, o índice Kospi afundou 3,74%.
Na Índia, o índice Nifty 50 perdeu na semana 0,89%, praticamento o mesmo registo do Sensex (-86%).
Europa
Os mercados europeus registaram também perdas generalizadas, onde o índice Euro Stoxx 600 perdeu na semana 1,24% e o Euro Stoxx 50 1,79%.
Na Alemanha, o índice DAX perdeu 1,62% e o CAC 40, de França, 2,10%.
No Reino Unido, o índice FTSE 100 terminou com um recuo semanal de 0,36%.
Por cá, em Portugal, o índice PSI20 caiu 2,85%.
Estados Unidos
As preocupações sobre o shutdown do governo aumentaram no início de Novembro, empurrando o sentimento do consumidor para o seu nível mais baixo em mais de três anos, segundo o índice da confiança do consumidor da Universidade de Michigan divulgado no final da semana.
A primeira semana de Novembro ficou marcada como uma das mais turbulentas para os mercados accionistas norte-americanos desde Abril, com os três principais índices a registarem perdas significativas impulsionadas por uma acentuada venda de acções tecnológicas e crescentes preocupações sobre avaliações excessivas no sector da inteligência artificial.
O índice Dow Jones perdeu 1,21%, o S&P 500 caiu abaixo da sua média móvel de 55 dias, pela primeira vez desde Abril de 2025 e o Nasdaq liderou as perdas, ao cair 3,04%.
Gráfico Fonte XTB xStation 5
Mercado cambial
Dólar Norte-Americano
O dólar começou a semana a continuar os ganhos que registou nas semanas anteriores, mas acabou a recuar, corrigindo parte desses ganhos.
O índice DXY, após iniciar a semana a negociar a 99,65, registou um novo máximo, ultrapassando a marca dos 100 (100,21), atingindo a média móvel dos 200 dias pela primeira vez desde Março deste ano. Terminou a recuar desses máximos, negociando a 99,40.
Euro
A moeda única registou esta semana um novo mínimo dos últimos três meses, abaixo dos 1,1500 (1,1467) e da média móvel dos 200 dias (o que não sucedia desde Março), mas acabou a semana a recuperar desses mínimos. O EUR/USD que iniciou a semana a 1,1535, terminou a 1,1564, após ter chegado a registar um máximo de 1,1591.
Libra
Depois de perdas acentuadas nas últimas semanas, com os investidores a afastarem-se da libra em torno de preocupações fiscais, esta semana a libra registou uma recuperação ligeira, após o Banco de Inglaterra ter mantido inalterada a sua taxa de juro directora, embora por uma pequena margem na votação do MPC (5-4).
O GBP/USD, após ter começado a semana a negociar a 1,3140, terminou a 1,3165, recuperando de um mínimo durante a semana de 1,3010, nível que não se registava desde o início de Abril deste ano.
O EUR/GBP começou por atingir um novo máximo desde Maio de 2023, ao negociar a 0,8832, após ter começado a semana a negociar a 0,8775. Terminou a recuar desse máximo para terminar a negociar a 0,8785.
Iene Japonês
O iene voltou esta semana a negociar em ganhos, mas manteve-se perto dos mínimos dos últimos meses. Um mercado a negociar mais em aversão ao risco, deu suporte a esses ganhos, com o iene a retomar o seu papel de divisa de refúgio.
O USD/JPY começou a semana a negociar a 154,06 e ainda atingiu um máximo de 154,48, mas acabou por terminar a 153,42, recuperando de um mínimo de 152,82.
O EUR/JPY terminou a semana a 161,46, depois de a ter iniciado a 161,76 e recuperando de um mínimo de 160,73.
Franco Suíço
O franco suíço negociou em perdas pela terceira semana consecutiva, com os mercados a descontarem cada vez mais a possibilidade de mais intervenções cambiais por parte do seu banco central ou mesmo uma volta a taxas de juro negativas para parar a sua forte valorização. Os dados da inflação divulgados esta semana, mostraram os preços a contraírem ainda mais do que o estimado, colocaram pressão adicional na moeda suíça.
O USD/CHF começou a semana a negociar em mínimos de 0,8016 para atingir um máximo dos últimos três meses a 0,8124, mas terminou a recuar do mesmo, negociando a 0,8050, com uma onda de aversão ao risco a impulsionar os ganhos do franco.
O EUR/CHF começou a semana a negociar em mínimos de 0,9265, para terminar a 0,9310, recuando de um máximo de mais de um mês a 0,9326.
Dólar Australiano
O RBA manteve a sua taxa de juro directora inalterada, referindo preocupações com uma inflação persistente, sinalizando que deverá manter o nível de restritividade da sua política monetária enquanto a mesma subsistir.
Ainda assim, o mercado em aversão ao risco levou a moeda australiana para perdas, com o EUR/AUD a subir de níveis em torno de 1,7600 para 1,7900 e o AUD/USD a cair de um máximo da semana a 0,6562 para um mínimo de 0,6458.
Dólar Neozelandês
Dados do mercado de trabalho abaixo das estimativas do mercado voltaram a pressionar a moeda da Nova Zelândia que registou o pior desempenho das moedas do G10 nesta primeira semana de Novembro. Perdeu 2% face ao euro, com o EUR/NZD a subir de 2,0100 até 2,0640, e o NZD/USD 1,7%, caindo de 0,5730 até 0,5605.
Coroas Sueca e Norueguesa
Esta semana ambos os bancos centrais na Suécia e na Noruega mantiveram as suas actuais taxas directoras.
Tanto a coroa sueca como a coroa norueguesa sofreram esta semana algumas pressões vendedoras, com o aumento da aversão ao risco nos mercados globais.
O EUR/SEK subiu de 10,91 até 11,07 e o EUR/NOK de 11,62 até 11,80.
Mercados Emergentes
O destaque da semana é dividido entre o peso mexicano e o real brasileiro, com ambas as divisas de mercados emergentes a serem as que maior valorização registaram. A primeira, após o Banxico ter voltado a cortar a sua taxa de juro em mais 25 pontos-base para 7,25%, e a segunda ao manter a sua taxa Selic nos actuais máximos de 15%. O peso avançou 0,6% face ao dólar, enquanto o real ganhou 0,8%.
Gráfico Fonte XTB xStation 5
Commodities
Petróleo
Os preços do petróleo começaram o mês de Novembro em perdas.
Durante o fim de semana anterior, num encontro virtual, a OPEP+ anunciou um acréscimo de 137 mil barris por dia à produção total, com início a 1 de Dezembro, somando-se aos aumentos já implementados em Outubro e Novembro. A decisão eleva o volume ajustado para cerca de 1,65 milhões de barris diários adicionais, face ao plano acordado em 2023.
Contudo, o grupo deixou claro que pretende suspender novos aumentos durante o primeiro trimestre de 2026, antecipando a redução sazonal da procura e reconhecendo a incerteza acrescida resultante das sanções sobre o petróleo russo. Essa pausa será uma forma de equilibrar o mercado num contexto em que as margens de refinação e os níveis de stock permanecem voláteis.
Entretanto, os relatórios dos inventários nos Estados Unidos mostraram aumentos significativos, bem acima do esperado pelos mercados, colocando pressão suplementar nos preços.
O Brent, que começou a semana a negociar perto de máximos a 65,50 dólares por barril, terminou abaixo de 64,00 dólares (63,90) e recuperando de um mínimo de 63,10 dólares.
O WTI caiu de níveis de abertura a 61,70 dólares por barril, para terminar a 60,00 dólares.
Gráfico Fonte XTB xStation 5
Ouro
O preço do ouro estabilizou durante esta primeira semana de Novembro, terminando com uma valorização marginal de cerca de 0,3%. O metal amarelo começou a semana pressionado por um mercado com volatilidade reduzida, assim como yields obrigacionistas a voltarem a subir e expectativas de cortes de taxas de juro a recuarem. Mas com o mercado a voltar a negociar de novo em aversão ao risco, uma renovada procura por activos de refúgio acabou por dar novo suporte ao ouro.
A onça de ouro, que começou a semana a negociar a 3.995,00 dólares, e chegou a registar um mínimo de 3.929 dólares, acabou por voltar a negociar acima dos 4.000 dólares, terminando a 4.001,25 dólares, recuando de um máximo da semana a 4.030,75 dólares.
Gráfico Fonte XTB xStation 5