A semana que começa
Uma semana de bancos centrais
Os mercados estarão atentos às reuniões de política monetária de vários bancos centrais, em especial à da Fed, numa semana com poucos indicadores económicos, enquanto os acontecimentos geopolíticos continuam a merecer destaque.
Uma semana onde o foco principal estará na última reunião deste ano de política monetária da Reserva Federal dos Estados Unidos, mas que contará com um conjunto alargado de outros importantes bancos centrais.
Os eventos geopolíticos continuarão também a ter a atenção dos mercados.
O decorrer das negociações em torno do plano de paz norte-americano para o fim do conflito entre a Rússia e a Ucrânia poderão ter uma palavra a dizer no sentimento de risco dos mercados, em especial na Europa, enquanto as tensões entre os Estados Unidos da América e a Venezuela poderão impactar mais os mercados energéticos, numa semana bastante ligeira de indicadores económicos.

The Federal Reserve
A reunião de política monetária da Reserva Federal dos Estados Unidos desta semana é encarada como um momento de fecho simbólico de um ano de transição. Depois de um longo período marcado por juros elevados, a Fed iniciou um movimento cauteloso de flexibilização, procurando agora calibrar com rigor o equilíbrio entre o combate à inflação e a salvaguarda do mercado de trabalho.
À entrada desta reunião, a taxa dos Fed Funds encontra-se no intervalo de 3,75%-4,00%, após dois cortes de 25 pontos base realizados ao longo de 2025. Apesar deste alívio, os níveis de juro continuam claramente restritivos em termos históricos. A inflação, medida pelo índice PCE, tem vindo a abrandar, mas permanece acima do objectivo de 2%, com oscilações recentes que aconselham prudência. Em paralelo, começam a surgir sinais mais consistentes de arrefecimento do mercado laboral, com menor dinamismo na criação de emprego, reforçando os receios de que uma política demasiado apertada possa penalizar o crescimento em 2026.
É neste contexto que o mercado chega a Dezembro a descontar uma elevada probabilidade de um novo corte de 25 pontos base. Os preços implícitos nos futuros sugerem que os investidores veem esta decisão como a continuação natural de um ciclo de flexibilização ainda moderado. No entanto, a própria Fed tem feito questão de sublinhar que a decisão não está pré-definida. No seio do FOMC persistem divergências relevantes, com alguns membros receosos de que um alívio excessivamente rápido comprometa a credibilidade do compromisso com a estabilidade de preços.
Sendo uma reunião com actualização das projeções económicas, o foco irá também incidir sobre o Summary of Economic Projections. O cenário mais plausível aponta para um crescimento económico moderado em 2026, uma inflação em trajectória descendente mas ainda acima da meta no curto prazo, e um percurso de taxas de juro que sugere novos cortes graduais ao longo do próximo ano, sem qualquer regresso rápido ao regime de juros próximos de zero. O “dot plot” será particularmente escrutinado, uma vez que ajudará a perceber até que ponto a maioria dos membros do FOMC está confortável com taxas mais baixas, mas ainda positivas em termos reais.
A conferência de imprensa de Jerome Powell será, mais uma vez, decisiva. Um discurso assente na dependência dos dados e na ideia de “flexibilização controlada” tenderá a ancorar as expectativas do mercado, evitando movimentos excessivos. Nesse cenário, o impacto nos mercados poderá ser relativamente contido, com algum alívio adicional nas yields dos Treasuries e um dólar ligeiramente mais fraco, mas sem uma mudança estrutural de regime.
Mais bancos centrais

O Banco Nacional da Suíça
A reunião desta semana do BNS decorre num enquadramento particularmente desafiante para a economia helvética. Com sinais claros de contração económica e vários meses consecutivos de inflação negativa, o consenso do mercado aponta para a manutenção da taxa diretora em 0%, prolongando uma postura claramente acomodatícia.
O BNS enfrenta o delicado equilíbrio entre combater pressões deflacionistas e evitar uma valorização excessiva do franco suíço. A força da moeda continua a reflectir o seu estatuto de activo refúgio num contexto de incerteza global, apesar do recente alívio das tarifas americanas sobre produtos suíços.
Do ponto de vista económico, a contracção da actividade no terceiro trimestre, a primeira em mais de dois anos, e a persistência da inflação abaixo de zero reforçam as expectativas de que a política monetária se mantenha expansionista por um período prolongado. Embora o banco central admita uma ligeira aceleração da inflação nos próximos trimestres, o risco de um franco demasiado forte permanece central na avaliação do banco central suíço.
Os mercados antecipam, assim, uma decisão sem mudanças imediatas, mas estarão particularmente atentos às novas projeções de inflação e ao tom da conferência de imprensa. Qualquer sinal de maior disponibilidade para intervir no mercado cambial ou de abertura a juros novamente negativos poderá ter impacto direto nas yields da dívida suíça e na dinâmica da sua moeda.
O Banco do Canadá
A próxima decisão de política monetária do BoC deverá traduzir-se numa manutenção das taxas de juro, numa escolha amplamente antecipada pelo mercado. Após o corte de Outubro, o banco central sinalizou que o actual nível das taxas é adequado para assegurar uma inflação baixa e estável, ao mesmo tempo que apoia o crescimento num contexto de incerteza.
Essa postura é sustentada por dados económicos mais fortes do que o esperado. O PIB do terceiro trimestre cresceu 2,6% em termos anualizados, superando claramente as projecções, e o mercado de trabalho mostrou sinais de estabilização, com uma criação líquida robusta de emprego e uma descida da taxa de desemprego para 6,5% em Novembro.
Neste enquadramento, a decisão do BoC deverá ter impacto limitado nos mercados, com o foco a recair sobretudo no tom do comunicado e nas pistas sobre o rumo da política monetária, num momento em que a divergência face à Reserva Federal volta a ganhar relevância.
The Reserve Bank of Australia
O RBA deverá manter inalterada a sua taxa de juro em 3,6%. Os dados recentes de inflação e crescimento têm surpreendido pela positiva, mostrando um impulso económico sólido, o que diminui significativamente a probabilidade de novos cortes de taxa e sugere que o ciclo de flexibilização do RBA poderá estar concluído.
A inflação continua acima do intervalo desejado pelo banco central, enquanto o crescimento mantém um ritmo robusto, sustentando a decisão de não alterar a política monetária por agora. O mercado de trabalho mantém-se resiliente, embora com sinais de abrandamento gradual, e a postura do RBA reforça a dependência dos dados para futuras decisões.
Para os mercados, a manutenção das taxas deverá ter impacto limitado, com a atenção a concentrar-se no tom do comunicado e nas orientações para 2026. A mensagem implícita é que o RBA considera o nível actual das taxas suficiente para equilibrar a contenção da inflação e o suporte à economia, encerrando, provavelmente, o seu ciclo de flexibilização.
O Banco Central da Turquia
A reunião de política monetária do Banco Central da Turquia decorre num contexto complexo, em que a inflação permanece elevada e o banco central tenta equilibrar a flexibilização com os riscos de sobreaquecimento. Os dados de inflação de Novembro sugerem que há espaço para continuar o ciclo de cortes de taxa, mas os últimos números do PIB do terceiro trimestre e indicadores antecipados para o quarto trimestre apontam para uma procura mais fraca, criando pressões de risco em alta sobre a inflação.
Nesse cenário, o banco central deverá manter uma abordagem cautelosa, avançando provavelmente com um corte de 100 pontos base nesta reunião de Dezembro. Contudo, os riscos são assimétricos, e não se pode descartar a possibilidade de ajustes mais expressivos caso a evolução dos preços e das condições económicas assim o justifique.
A atenção do mercado estará centrada tanto no tamanho do corte como nas orientações futuras, já que a Turquia enfrenta o desafio de equilibrar estímulo económico e contenção da inflação num contexto de elevada volatilidade financeira e da sua moeda.
O Banco do Brasil
O Comité de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil reúne-se nos dias 9 e 10 de dezembro para a sua última deliberação de 2025, num contexto de elevada incerteza sobre os próximos passos da política monetária brasileira. Após quatro reuniões consecutivas de manutenção da taxa Selic em 15%, o mercado aguarda com expectativa a orientação futura de Gabriel Galípolo, que assumiu a presidência do Banco Central a 1 de janeiro de 2025.
A reunião ocorre num momento particularmente delicado, com a inflação a mostrar sinais contraditórios, a economia doméstica ainda aquecida e pressões políticas crescentes sobre a autoridade monetária.
Dados Económicos

Estados Unidos da América
Iremos ter uma semana relativamente ligeira de indicadores económicos, com a divulgação de mais alguns dados atrasados.
Começamos na terça-feira com o índice de pequenas e médias empresas NFIB, onde as estimativas apontam para uma ligeira queda de 98,2 para 98,1. O ADP divulga o seu indicador semanal, que há duas semanas mostrou uma redução de 13.500 empregos na média semanal. Iremos ter os dados do JOLTS de Setembro e Outubro, com os últimos números conhecidos de Agosto a terem mostrado 7.227.000 vagas de emprego.
Na quarta-feira, antes de conhecidas as decisões dos membros do FOMC, iremos ter o índice de custo do emprego relativo ao terceiro trimestre, onde os mercados prevêem que mantenha o mesmo ritmo de crescimento do trimestre anterior de 0,9%.
Na quinta-feira voltamos a ter os habituais números semanais de novos pedidos de subsídio de desemprego, onde as estimativas apontam para 221 mil, após os 191 mil da semana passada. Teremos também os números atrasados da balança comercial do mês de Setembro, onde as previsões apontam para um défice de 64,7 mil milhões de dólares, após os 59,6 mil milhões do mês de Agosto.
Zona Euro
Irá ser uma semana bem vazia de indicadores económicos de primeira linha.
O destaque irá estar no índice Sentix da confiança do investidor, logo no início da semana, onde os mercados apontam para uma ligeira subida de -7,4 para -6,2.
Na Alemanha iremos ter os números da produção industrial, com as previsões a apontarem para um aumento de 0,2%, desacelerando dos 1,3% do mês anterior. Teremos também os números da balança comercial de Outubro que, após o excedente de 15,3 mil milhões de euros em Setembro, deverão apresentar um ligeiramente superior de 15,6 mil milhões de euros. Iremos ter ainda a leitura final da inflação de Novembro.
Em Itália teremos também os números da produção industrial, onde as previsões mostram uma queda de 0,5%, após o crescimento de 2,8% no mês anterior, e ainda a taxa de desemprego trimestral que deverá manter-se nos 6,3%.
Em França teremos também a leitura final da inflação de Novembro.
Reino Unido
Os dados económicos estão guardados principalmente para o último dia da semana, onde as atenções vão especialmente para os números do PIB.
No mês de Outubro, segundo as estimativas, a economia britânica deverá mostrar um crescimento de 0,1%, após a contracção do mesmo valor no mês anterior.
Iremos ter a divulgação dos números da produção industrial, com as previsões a apontarem para um aumento mensal de 0,8%, após a contracção verificada no mês anterior de 2%.
Teremos também os números da balança comercial de bens do mês de Outubro, onde as previsões mostram um défice de 19 mil milhões de libras, ligeiramente maior do que o de 18,9 mil milhões no mês anterior.
Antes, durante a semana, iremos ter a divulgação do BRC Retail Sales Monitor de Novembro que deverá mostrar um crescimento de 2,4%, após os 1,5% no mês anterior, e o RICS House Price Balance que deverá acelerar a queda de -19% para -20%.
Canadá
Por aqui iremos ter também a divulgação de dados atrasados, devido ainda à paralisação do governo dos Estados Unidos. A balança comercial de Setembro deverá mostrar um défice de 4,3 mil milhões de dólares canadianos, após 6,3 mil milhões no mês de Agosto.
Teremos também os números das licenças de construção que, após o aumento de 4,5% em Setembro, deverão mostrar uma queda de 1,2% em Outubro.
Iremos ter ainda os números das vendas grossistas que deverão, segundo as previsões, mostrar uma redução de 0,1%, após o aumento anterior de 0,6%.
China
Esta semana teremos os números da balança comercial do mês de Novembro, com as previsões a apontarem para um crescimento dos 90 mil milhões no mês anterior, para cerca de 100 milhões, onde as exportações deverão aumentar 3,8% e as importações 2,8%.
A meio da semana iremos ter os dados dos preços relativos ao mês de Novembro. As previsões mostram uma subida mensal nos preços de 0,3%, acelerando dos 0,2% em Outubro, com a inflação em termos anuais a subir de 0,2% para 0,9%.
Teremos também a inflação à porta das fábricas que, segundo as estimativas, deverá manter a deflação de 2,1% apresentada no mês anterior.
Japão
As atenções vão logo para o princípio da semana, onde iremos ter a divulgação dos ganhos médios salariais, de especial relevância para o BoJ. As previsões apontam para uma aceleração, em termos anuais, do crescimento de 2,1% no mês anterior, para 2,2%.
Iremos ter também dados dos empréstimos bancários, que deverão desacelerar do crescimento de 4,1% do mês anterior, para 4%.
Os números da conta corrente deverão mostrar um excedente de 3 triliões de ienes, recuando do de 4,35 triliões no mês anterior.
Iremos ter os números finais do PIB do terceiro trimestre, que deverão rever em baixo a contracção da economia nipónica de -0,4% para -0,5%.
O índice de observadores económicos, segundo as estimativas, deverá mostrar uma subida de 49,1 para 49,5.
Iremos ter a divulgação dos números preliminares das encomendas de máquinas em Novembro, que deverão mostrar um aumento, em termos homólogos, de 9,4%, caindo dos 17,1% no mês anterior.
Por fim, o índice manufactureiro BSI deverá mostrar uma subida de 3,8 para 4,2.
Nova Zelândia
Mais uma semana ligeira de indicadores económicos, com os números das vendas manufactureiras do terceiro trimestre a mostrarem uma contracção de 0,3%, após a redução de 0,6% no trimestre anterior, e o índice manufactureiro BusinessNZ a cair de 51,4 para 50,5.
Austrália
Por aqui as atenções, em termos de dados económicos, voltam-se para os números do mercado de trabalho. Segundo as previsões, a taxa de desemprego deverá subir de 4,3% para 4,4%, mas com a taxa de participação a subir de 67% para 67,1%. A economia australiana deverá ter acrescentado em Novembro 5.000 novos empregos, com um aumento de 10.000 a tempo parcial e uma redução de 5.000 a tempo inteiro.
Teremos também a divulgação do índice de confiança empresarial NAB.